ELVIS: O REI SEM COROA

ELVIS NÃO MORREU. Mais que um estereótipo, essa pequenina e desfigurada frase carrega uma explosiva e sentimental carga de emoção que só os fãs do maior fenômeno musical de todos os tempos podem sentir e avaliar. O sentido de estar vivo não é físico. Elvis Aaron Presley estaria completando hoje – 8 de janeiro – 78 anos. Nascido em Tupelo, no Mississipi, filho de pais pobres, recebeu educação de primeira qualidade para superar a fase de entregador de garrafas e se tornar a maior lenda musical do planeta.

Elvis está sempre no pensamento de seus admiradores, independente de condição social, etnia, idade, idioma, em todos os lugares do mundo. Nenhum cantor conseguiu chegar perto do que foi vendido por Elvis Presley, em quase todos os países. Mais de 1 bilhão e 200 mil cópias, segundo a última estimativa publicada nos Estados Unidos, foram vendidas, sem contar as produções piratas que alcançam números absurdos, incalculáveis.

Depois do furacão “ELVIS IN CONCERT”, que passou pelo Brasil, com apresentações em São Paulo e no Maracanãzinho, cresceu o número de grupos admiradores do cantor, alguns formados pela internet e sedimentados antes e depois do magnífico show. Eu estava lá e jamais esquecerei aquelas imagens. Se Elvis nunca se apresentou fora dos Estados Unidos esse evento resgata a infeliz idéia de não deixá-lo sair do país, por uma imposição estúpida de seu manager.

Naquela noite conheci Elvis Presley Xavier Bastos, 40 anos, nascido em Botafogo casado com Zenith Presley. Conversamos por aproximadamente doze horas, dividas em dois dias. Tudo em sua casa gira em torno do ídolo. O celular toca e a chamada é “Lover me Tender”. Vídeos, filmes, discos, CDs, suas apresentações, gravadas por Zenith, rolam enquanto a gente conversa e acerta nossa ida a Memphis, em agosto para conhecer Graceland, e Tupelo, onde Elvis nasceu. Uma entrevista gostosa ao som de rock, baladas e gospel na voz mais privilegiada que Deus pôs no mundo.

A entrevista começa ao som de “Amazing Grace”, um hit gospel belíssimo, que ganhou mais destaque gravado por Elvis em sua soberba fase da música evangélica. Cabe, então, a primeira pergunta, relacionada com esse primor de gravação.

 É SEMPRE ASSIM, ELVIS CANTANDO O DIA TODO ?

– Não necessariamente. O Elvis a gente ouve quando quer uma inspiração, sentir alguma coisa que nos dê tranqüilidade. Natal a gente põe as músicas da época, como “Blue Christmas” e outras canções, todas muito lindas. No dia a dia a gente ouve qualquer tipo de música, mas a hora do Elvis é especial, é a horinha dele mesmo, não se mistura.

 QUAL A PREFERIDA DE SUAS TRÊS FASES MUSICAIS ?

– Qualquer uma dessas fases a gente vai ouvindo porque é uma coisa alegre, uma benção, uma oração que a gente faz, principalmente quando se ouve essa fase gospel. A gente quer ficar mais alegre vai lá no começo da carreira e ouve um rock dos anos 70 que era muito bom também.

COMO FOI SEU ENCONTRO COM ELVIS PRESLEY

– Elvis entrou na minha vida em 1977. Eu ouvi uma música dele em 76, mas foi quando vi naquelas imagens da sua morte virou “paixão”, que dura até hoje e vai ficar para sempre, não teve jeito.

A casa simples, no Anil (Zona Oeste do Rio), lembra um museu. Tudo arrumadinho, com carinho. Um piano, violão, fotos e lembranças de Graceland, hoje transformada no Museu de Elvis, em Memphis. Uma coleção impressionante de aproximadamente 400 discos, 600 cd’s, 100 dvd’s, com todas as canções gravadas pelo ídolo. Nesse pequeno mundo vive o alegre Elvis Presley Xavier, casado com Zenith Presley. Torcedor do Flamengo, não é muito ligado ao futebol. Passa seu tempo ouvindo rock balada ou gospel. Com Elvis Presley, claro.

QUANTAS CANÇÕES GRAVADAS POR ELVIS VOCÊ TEM ?

– Todas. Catalogadas, com data de gravação, quem o acompanhou, tudo. Algumas repetidas mais de 20 vezes, em espanhol e até português.

QUAL A PEÇA MAIS VALIOSA DE SUA COLEÇÃO ?

– São os discos de vinil, do Japão, Rússia, África do Sul, Espanha, revistas importadas. Aqui tem um pouco de tudo que tenha relação com Elvis. Estou sabendo que foi gravado um vinil do Elvis na Índia e já encomendei. Espero que chegue por aqui.

HÁ PRECONCEITO COM OS FÃS DO ELVIS ?

– Existe isso, sim. Quando eu me apresento fazendo shows, algumas pessoas começam a rir, até sentir que a coisa é séria, que não é brincadeira, mas eu vejo, sim, uma certo descriminação na nossa aparência, pelas roupas, e as costeletas que uso para fazer shows, mas custaram alguns empregos. As pessoas não aceitam, não entendem, não gostam. Acho isso muito violento em nosso país. Que democracia é essa onde os direitos não são respeitados ?

COMO VOCÊ REAGE ?

– Eu tenho pena dessa gente, que não conheceu uma pessoa boa, que ensinou muitas coisas do bem, amava as pessoas, seus pais, principalmente. Respeitava seus fãs, dava carinho. Elvis começou a morrer quando perdeu a mãe.

VOCÊ FOI INFLUENCIADO POR ELE ?

– Sim, tenho nele um modelo de ser humano, aprendi a ser educado, a ser cristão, me ensinou a respeitar as pessoas, isso tudo. Elvis foi muito importante na minha formação pessoal. Sou uma pessoa feliz, tranquila, não tenho raiva, estresse, gosto de ver as pessoas felizes. Elvis me ensinou isso tudo, devo tudo a ele.

Elvis Xavier troca os DVD’s e conta detalhes de cada show, pessoas e lugares que identifica com impressionante riqueza de detalhes. Mostra lembranças de Graceland, como tufos de grama do túmulo do cantor, pedaços de tijolos do muro e um corte de tecido manchado de preto, passado por dentro do cano de descarga de um dos carros da coleção de Elvis, agora no museu. Nem o cavalo, pastando, passou sem uma citação: “aquele é o Rising Sun, que morreu em 1986, era o preferido dele”

O QUE TE MAGOA ?

– Fico triste quando vejo as pessoas debochando, rindo, do visual, essas coisas me deixam triste. Quando falam da vida do Elvis sem conhecê-lo. Mentiras que falam sobre ele me deixam triste, quando falam dele sem saber sua história, sua vida. Falam sem saber quem é Elvis, porque ele não foi, ele está aí, ensinando a muita gente o que é ser humano e respeitar o próximo.

VOCÊ DISSE NO SHOW QUE ELVIS ESTAVA PRESENTE.

– Certeza absoluta, ele estava ali no ginásio. Muita gente me disse isso também. Havia um clima todo especial, com muita energia boa, positiva. Ele estava ali e estava muito feliz, com certeza. Nós também, você viu, ele estava lá, todo mundo alegre, cantando, chorando, uma coisa incrível. Nem a forte chuva mudou as pessoas, que estavam se reencontrando, se conhecendo, rindo, cantando, chorando de saudade e alegria ao mesmo tempo.

QUANDO FAZ UM SHOW COMO VOCÊ SE SENTE NO PALCO ?

– Eu me sinto como se estivesse dando continuidade à obra dele, mostrando como é o Elvis Presley. É uma sensação muito gostosa, me sinto bem podendo mostrar aos jovens quem foi Elvis. Muitos deles me procuram depois dos shows para agradecer, falar sobre algumas músicas que não conheciam, o jeito do Elvis no palco, tudo isso é muito bom, gratificante.

 

O SHOW “ELVIS IN CONCERT” FOI UM RESGATE À OBRA DE ELVIS ?

– Sim. Foi impressionante ver o Maracanãzinho todo cantando, todas as músicas que foram tocadas, sem exceção. Um show montado, muito bem feito por sinal, que parecia ao vivo. Mas era uma montagem, com alguns músicos, entre eles o fantástico Ronnie Tutt, o maior baterista de todos os tempos, que acompanhou Elvis no show do Havaí e muitos outros. Uma noite que nunca será esquecida.

QUAL A SUA PREFERIDA ?

– Não tem. Não dá para escolher uma, dez, cem, todas são lindas. Elvis é diferente de todos os cantores, tudo que ele grava fica bonito. Teve a fase do rock, foi o melhor. Passou para balada, insuperável, gospel, é uma coisa divina. Assim, rapidamente, posso citar “My Way”, que ele consagrou, depois de lançada com sucesso por Frank Sinatra. Mas ficou outra coisa, espetacular. Gosto muito de “How Great Thou Art”, um gospel muito lindo, onde ele se entrega, literalmente a Jesus. Mas é difícil fazer uma lista, é difícil.

O celular toca com a voz de Elvis  cantando “Love me Tender”, de sua autoria com Vera Matson, uma das mais lindas de suas canções , gravada no dia 24 de agosto de 1956, no início da carreira do maior fenômeno musical de todos os tempos. O que parecia difícil vai se tornando fácil, com mais um hit preferencial. Elvis Presley Xavier ri muito e confessa que aquele não é o seu telefone.

 – Ah, esse é o da minha esposa, ela gosta muito dessa canção, que é belíssima, adoro, mas a escolha foi dela. As vezes passo nas ruas e algumas pessoas cantam essa canção, que é muito bonita e tem uma letra fácil.

SUA PRESENÇA NA IGREJA TEM A VER COM ELVIS ?

– Essa minha paixão por Jesus veio dele, sim, naquela fase em que ele se dedicou às musicas evangélicas, com maior presença junto ao Senhor. Acabei conhecendo a igreja através de suas canções e sempre que posso faço shows (Igreja de Santa Luzia, na Gardênia Azul, Zona Oeste do Rio) para contribuir com pessoas carentes, que era uma obra dele também.

VOCÊ É CRISTÃO POR INFLUÊNCIA DO ELVIS ?

– Sou. Fui influenciado porque ele era um cara muito crente, uma pessoa que teve o mundo nas mãos e nunca abandonou a crença dele em Cristo. Sempre havia uma participação especial em seus shows, dedicava um momento para Cristo, desde o começo até o último show dele. Então, a gente tem que acreditar num ser maior que é Deus, e ele estava com Deus.

COMO VOCÊ REAGE ÀS ACUSAÇÕES ENVOLVENDO ELVIS COM DROGAS ?

– Eu fico revoltado, como ele ficou em 74, quando alguns jornalistas de lá disseram que ele usava droga de rua. E ele não usava. Usava remédios, recomendados pelos médicos, mas nunca usou droga de rua, não há uma prova disso. Eu fico com raiva e muito triste ao mesmo tempo porque as pessoas falam sem conhecer a vida dele.

QUAL A MELHOR FASE DE ELVIS ? 

– Olha, é difícil dizer qual o melhor período musical. Tudo é Elvis, tudo é muito bom. A gente lembra dele lá no comecinho, cantando “Tutti Frutti”, “Blue Suede Shoes”, depois o romantismo dos filmes, aquele coisa linda, depois volta ele dos anos 70 cantando rock, gospel, a época dos shows, é tudo maravilhoso, não dá para separar é tudo bom. “It’s now or never”, não tem explicação. Eu faço pesquisa de todas as fases dele e não há diferença. Pesquiso desde que ele nasceu e te digo, é tudo bom, todas são ótimas. 

DÁ PARA ESCOLHER AS 10 MELHORES ?

– É bem difícil. Até em espanhol ele gravou, musicas falando do México, e cantava como ninguém esses ritmos. Há uma parte cantada em alemão, em “Wooden Heart”, em excelente pronúncia. Eu digo que Elvis não tem idade, não tem cor, ele é universal.

ELVIS CONTINUA VENDENDO MUITO. ATÉ QUANDO ?

 A tendência é crescer. Eu estive lá nos Estados Unidos e voltei mais impressionado, apaixonado, eu e minha esposa, ainda. A gente vê crianças nas ruas, independente de classe social, quando me vê com essas costeletas, fala com as mães “olha o Elvis ali”, isso me deixa muito feliz, saber que os pequeninos conhecem o Elvis. É só esperar que eles cresçam e se multipliquem.

COMO FORAM SEUS DIAS EM GRACELAND ?

– Paraíso, aquilo é o paraíso musical, não tem explicação. Foi uma das coisas mais lindas que eu vi em toda a minha vida, coisa muito boa mesmo. Você andar, conhecer tudo aquilo que havia lido, visto em vídeos e filmes, passou a vida assistindo, lendo, pesquisando em revistas, livros, sites e se depara com aquilo tudo, real, você vê que é real, o próprio paraíso.

O QUE SIGNIFICA SER FÃ DO ELVIS ?  

 Pra mim é uma alegria muito grande, eu tenho o Elvis dentro de mim, comigo. Quando estou triste vejo uma coisa ligada a ele e fico feliz. Elvis é alegria, amor, é vida. Ele tem uma força muito grande sobre as pessoas, deixa todo mundo feliz, não conheço ninguém que não goste do Elvis, Elvis é vida.

QUAL FOI SEU SHOW INESQUECÍVEL ?

 Eu trabalhei como vendedor da Modern Sound, em Copacabana, e fui convidado para fazer o encerramento da loja, onde foram lançados vários discos, dvd’s, entre eles Elba Ramalho, Blitz, Silvio Cesar, e eu fui escolhido para fazer o último show, infelizmente, pois era o encerramento da loja. Foi uma honra  cantar Elvis, as pessoas curtiram, estavam felizes, muito bacana. Como ele gostava, estar sempre alegre, como nos últimos shows que fez, quando estava gordo, mas continuava feliz, trabalhando muito, estava bom, era fantástico.

ELVIS NÃO MORREU ?

– Não, Elvis não morreu. Eu ouço essa frase umas dez vezes por dia. Se não me engano, ela foi trazida para o Brasil através do Silvio Santos. Pouca gente sabe que ele comprou aquele filme sobre a vida do Elvis, feito pelo Kurt Russel, que se chama “Elvis não morreu”, isso em 80. Aquilo massificou no SBT, “Elvis não morreu, Elvis não morreu”, então pegou e até hoje está aí. Cada um usa de uma forma, do jeito que lhe convém. E é verdade, Elvis não morreu mesmo, você vai vê-lo sempre em filmes, novelas, alguém vestido como ele, que está entre nós. Uma obra dessas não morre, graças a Deus não morre mesmo.

O nosso Elvis é uma pessoa extremamente simpática, carinhosa, simples e envolvente. Faz questão de mostrar o vídeo de sua ida a Graceland, prêmio dado por uma cliente nos tempos em que trabalhava na Modern Sound, como vendedor. Descreve cada take, cada foto, com uma riqueza de detalhes que impressiona. Para de repente, volta a fita e nos conta um detalhe que pouca gente conhece, como muitos da vida do rei do rock. Elvis segura uma das muitas coroas que recebeu em shows pelos Estados Unidos, com a mão esquerda, enquanto distribui lenços para as moças.

– Elvis nunca pôs uma coroa na cabeça, mesmo sendo o rei. Acima dele havia seu Senhor, a quem respeitava como único merecedor de ser coroado: Jesus.

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