CRIADORES AFASTADOS DE SUAS CRIATURAS

Três grandes projetos esportivos foram concebidos para este ano. Por equipes diferentes visando distintas competições: a Ferrari, para o Mundial de F1, a CBF para a Copa das Confederações e Copa do Mundo, o CR Flamengo para o Estadual, Copa do Brasil e Brasileirão. Para realizarem seus testes, a equipe italiana fez uma temporada em Barcelona, para acertar o carro, e uma na estação de esqui, ao norte da Itália, para unir e entrosar a equipe. A partir das medidas dos pilotos, Massa e Alonso, foram desenvolvidos bancos, painéis e retrovisores.

Diante de seus individuais talentos, acertaram asas, aerofólios, o melhor pneu para cada modo de condução. Sob o comando de Stefano Domenicali, seguem fazendo bonito no mundial. Se não vencem, não é com incompetência da equipe, mas porque surgem gênios como Rosberg para engolir os treinos, e um Sebastian Vettel para colocar seu nome na história.

Já a CBF fez uma preparação maior: em 2 anos foram mais de 40 partidas, 27 vitórias, 6 empates e 7 derrotas sob o comando de Manos Menezes, realizando uma verdadeira peneira que valeu a pena. Ao final de suas pesquisas, a seleção trocou seu futebol pesado e arrastado, formado por cabeçudos de área, por uma leveza e talento que teve em Oscar, Paulinho, Lucas, Fernando e Hernanes seus maiores condutores. Quanto ao Flamengo, fez sua pré-temporada em Pinheral e seu arquiteto, Dorival Junior, montou seu bólido com Hernane, Elias, Carlos Eduardo e apostou na contratação do Gabriel. Dos três projetos concebidos, apenas o da Ferrari continua conduzido por seus idealizadores.

No da CBF, Felipão pegou carona e dirige um carro que não testou, nem utiliza uma só peça que indicou ou opinou. Só fala, berra à beira do campo, como se um ruído pelo rádio ajudasse a diminuir cada tempo de um volta. Digo, alterar cada lance de uma partida. Quanto ao Flamengo, o volante que conduz a maioria da nação, sua alegria e emoções, troca constantemente de mãos, confunde a preparação física, tática planejada, e até que o novo condutor conheça o carro, um guard rail, uma escapada, levará o projeto para fora dos gramados.

Os clubes e, infelizmente, a seleção, param para trocar de técnicos como as equipes de Fórmula 1 param para trocar de pneus. E o desgaste nas suas agremiações faz mais estragos que as ranhuras nos compostos da Pirelli. Normalmente, conduzem cada destino pro frio Box que os recolhem antes do apito final.

Moral da história: todo time montado na pré-temporada, apesar dos resultados, deve ser mantido até o fim. Trocar de técnicos e pilotos durante as provas só desnuda uma desorganização, acoberta erros de comando e mostra o quanto desunidos são os treinadores do nosso futebol, que se prestam a caçar uma vaga dos companheiros nos boxes de cada vestiário recém derrotado com a cumplicidade de todo cartola. Apesar dos últimos 3×0 em circuitos da França e de Criciúma, avançando em suas missões sem o devido equilíbrio, com os pneus desgastados por seguidos desmandos, vocês ainda têm dúvidas em qual lugar chegarão os carrinhos vermelho e preto, azul e amarelo nos circuitos em que se inscreveram?

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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