Ronaldo
São muitos anos vendo futebol, meu único e eterno vicio, felizmente. Joguei na praia, quadra, soçaite, campo, onde houvesse um convite, como todo brasileiro que não vira profissional. Peladeiro é o nome que se dá a esse tipo de “jogador”. Mas o fascínio que a bola exerce sobre nós é impressionante. A gente quer ficar perto dela e uma saída é o jornalismo esportivo. Árbitro, jamais. O começo é cobrindo jogos de juvenis. Com muita sorte comecei quando Zico e Roberto Dinamite davam seus primeiros passos para se consagrar como os maiores ídolos dos dois gigantes do futebol brasileiro Flamengo e Vasco.
Aí o futebol entra pelos poros, vai até a alma, não nos abandona nunca mais. Vira prioridade, profissão, lazer. E tem sido assim. E a gente vai se acostumando a ver os grandes heróis do nosso imaginário se aposentando, lamentando que um dia tenha que ser assim. O primeiro e maior de todos os golpes foi quando me desloquei até Santos para ver Pelé se despedir na Vila Belmiro, que ele tinha transformado numa espécie de basílica do futebol. Ou quase isso. Naquela noite pensei que tudo estava terminado. Mas aprendi, com o tempo, que a vida continua e o futebol também.
Depois foram parando Zico, numa festa monumental, noite inesquecível, como a de Roberto Dinamite, no mesmo Maracanã lotado. E a bola continuou rolando. Mas a saudade deles continua, cada vez que somos obrigados a assistir determinados jogos, por dever de oficio. A cada volta olímpica nos sentimos mais “órfãos”, se permitem empregar o termo. O último grande golpe foi quando vi Zidane abandonar os campos. Está tudo terminado, pensei. Vou ver mais o que, me perguntei. O tempo foi passando e novos craques foram surgindo. Se a bola não deu um tiro na cabeça quando o fabuloso jogador francês parou, resistirá e o futebol vai continuar como o maior esporte do planeta, apesar de tudo.
Conheci Ronaldo quando eu treinava os juniores do São Cristovão, convidado por Alfredo Sampaio, que tinha sido conduzido ao time principal. Assumi ainda no primeiro turno do campeonato estadual, com a recomendação de esperar uns dias para ganhar um grande reforço. O time estava montado, certinho, mas ficara sem seu artilheiro, convocado para a seleção sub-17 que estava disputando um torneio sul-americano fora do país. Ele tinha apenas 15 anos. Nosso contato foi de apenas três treinos coletivos, aos sábados. Fui vê-lo novamente na televisão, jogando pelo Cruzeiro e fazendo o que mais sabe fazer. Gols de todos os “sabores”, como dizia Zico, brincando.
Naquele mesmo ano Ronaldo se consagrou, ainda menor de idade, como um dos maiores atacantes do futebol brasileiro. O resto o mundo conhece. Mas a imagem que tenho dele nunca se apaga da minha mente. Naquele campo maltratado da Rua Figueira de Melo, duro e seco, ele parecia estar no gramado do estádio Wembley, tal sua majestade para desenvolver os movimentos que misturavam velocidade, leveza e graça. A consagração veio logo. Ainda tive a alegria de vê-lo jogando no Real Madrid, onde foi recentemente homenageado.
Espero um dia encontrá-lo com calma para dizer-lhe o quanto o admiro. Como jogador e ser humano. Agradecer pelo que fez para o futebol. Não importa com que camisa. Por onde passou deixou saudade e muita alegria. Outros pararam e o futebol continuou e será assim depois de sua despedida. Importante foi a lição que você deixou para seus admiradores, seus filhos e netos. Jogador modelo, referência saudável, fantástico como poucos. Muito poucos.
Perfeito seu comentário Iata !
Como nossa imprensa é sem imaginação e ufanista ! com raras exceções !
Pior é agora compararem Messi com Neymar….