UMA DESONRA AO MÉRITO

O Grammy Latino abriu, em Las Vegas, os trabalhos para fazer justiça em 2015: a escolha pelos melhores do ano. Entre os álbuns de Rock, Samba Pop contemporâneo lançados este ano, um deles, reconhecido pela crítica e pelo público, levantará o prêmio maior da música latina. A seguir, no futebol, vem a Bola de Ouro, da FIFA, a Bola de Prata, da CBF e as premiações se multiplicarão pelo país, em vários segmentos, premiando a quem fez bonito. Quem fez por merecer.  Se capricharem, chegarão às páginas da Folha entre as Personalidades do Ano.

Segundo nosso Aurélio, Mérito significa reconhecimento, um dado de valor, objeto de destaque. Faz bem para o conjunto da sociedade reconhecer e valorizar todo aquele que contribuiu para o seu engrandecimento, especialmente se o fez por méritos próprios, sem pesar o sobrenome e o alcançou não por indicação, hierarquia ou imposição. Tudo isto deve explicar a ampla e irrestrita oposição aos atuais integrantes da Comissão Técnica da Seleção Brasileira. Nenhum torcedor brasileiro, apesar de alguns resultados  significativos colhidos pelo valor individual de cada um jogador, aceita a indicação pela CBF de Dunga, Cebolinha e Gilmar Rinaldi  para o comando da nossa seleção.

Em meio a Brasil x Peru, pelas eliminatórias, quando as lentes flagravam Dunga e Cebolinha confabulando sobre algumas alterações, o torcedor brasileiro, sábio e inteligente, perguntava a sim mesmo, ou ao amigo que torcia com ele na poltrona ao lado: com que mérito tais profissionais alcançaram este patamar? “Respaldados” por um presidente preso por corrupção e um vice debaixo de denúncias, Dunga jamais se destacou como treinador. No máximo, algumas passagens pelo seu clube de coração, o Internacional, que lhe deu várias chances e o dispensou quando os resultados não apareceram. Dunga jamais aceitou outro desafio, nunca foi campeão brasileiro, jamais levantou uma Taça Libertadores dirigindo um clube de futebol. Comandar seleção é mole, me dá este, convoca aquele e chama pelo amor de Deus o Neymar. Difícil é se destacar dirigindo o Bragantino, como Wanderley Luxemburgo, elevar o Sport Clube Recife, como  fez recentemente Eduardo Baptista. Ao seu lado, o Murtosa da vez, outro desconhecido, seu amarra cachorro que apita treino e que jamais prestou qualquer serviço ao nosso futebol: Cebolinha. Se fez sucesso algum dia, teve um pedido nas bancas, foi com ajuda da Mônica e do Cascão. Se não fosse criação do Maurício de Souza, seria ainda mais desconhecido. Para fechar a desonra dos méritos de quem está à frente da nossa seleção, Gilmar Rinaldi, um ex-atleta mais conhecido como empresário do que como supervisor. Jamais foi um Paulo Angioni, um Rodrigo Caetano. Um Domingos Bosco. Mesmo assim, receberam o Grammy da ofensa à nossa inteligência esportiva.

Enquanto isto, Marcelo Oliveira, bicampeão pelo Cruzeiro, segue fazendo um grande trabalho no Palmeiras sem ser reconhecido. O que o Tite precisa mais alcançar no futebol para ter uma oportunidade como técnico da seleção brasileira? Copa Libertadores já venceu, o Campeonato Brasileiro de 2015 será um prêmio ao seu grande momento. Mas o nosso futebol parece uma daquelas barragens de Minas, que quanto mais riqueza dá, mais lama despeja sobre nossa história. Sufocando nossos peixes, hoje senadores, matando plantas quando não ajudam os clubes filiados a erguer Centros de Treinamentos onde são colhidas as safras. Exportando tubarões, exibindo bagres. E caberá a nós, apaixonados pela bola, e não a Samarco, pagar a multa como ex-protagonista de um universo mágico em que distribuíamos as cartas. Não lamas, tragédias, desmandos, corrupção.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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