Quando a gente vê uma festa como a que o Botafogo preparou para a estréia de Seedorf, fica imaginando o passo que foi dado adiante pelo futebol brasileiro. Quando a gente lembra sua idade, nem tanto. Que valeu a pena é outra coisa, isso não se discute. É um avanço, considerando a qualidade do holandês e o retorno promocional que sua chegada promoveu e tem muito mais a contribuir para valorizar o campeonato brasileiro e o estadual. Mas temos que esperar para fazer uma melhor avaliação do custo benefício.
Seedorf vem juntar-se a Ronaldinho Gaucho, Cicinho, Luis Fabiano, Juninho Pernambucano, Vagner, Fred, Zé Roberto, Dida, Juan, Marcos Assunção, Airton, Renato, Elano, Kleberson, Emerson Sheik, Adriano, Thiago Neves, Ibson, Barcos, Valdivia, Lordeiro, Cáceres, Forlán, fora as tentativas como Diego, Riquelme. Alguns retornaram bem, valeram o investimento. Outros nem tanto. Não gostaria de ver essa nova política como parâmetro. Isso tem um prazo de validade, além do altíssimo custo.
Sou favorável a aplicação desse investimento nas categorias de base com a revelação de jogadores sem custo elevado. O Flamengo poderá lançar três jogadores formados na mesma época, mas reluta. Adrián, Thomas e Matheus são craques em formação, pouco custaram e tem um valor incalculável, como revelações. Sabem jogar. É o mínimo que se pede a um jogador. O resto virá com o tempo e o Flamengo teve em casa o maior exemplo, seu maior jogador, ídolo eterno. Zico nada custou a não ser o mínimo investimento em sua formação atlética, o que foi muito pouco ou quase nada pelo retorno que deu.
Entretanto, uma política falida, retrógrada, contrária ao avanço, portanto, impede o desenvolvimento desse trabalho que ao próprio Flamengo sua melhor geração de craques. “Craque o Flamengo faz em casa” foi mais que uma frase, consagrou-se como uma linha de trabalho que deu tão certo que valeu ao clube o único título de campeão do mundo ao Rio. Depois foi abandonada, sabe-se lá porque, e o clube passou a investir em contratações que pouco ou nenhum resultado positivo deram ao clube. Uma mudança no mínimo estranha.
Passaram pelo clube jogadores de alto nível técnico, como Romário, comprado e vendido três vezes. Foi o único craque que deu resultado. Deu, também, muito trabalho. O projeto de renovação e formação estagnou. Depois de Zico, apenas Zinho, Djalminha, Adriano – recuperado depois de ser liberado – Marcelinho, Sávio, Juan e por último Julio Cesar. Dos estrangeiros, salvou-se apenas Petkovic, que elevado à categoria de ídolo. Muito pelo tricampeonato em 99-00-01, derrotando o Vasco com um gol de falta que entrou para a história do clube.
Não dá para pensar em projetos num clube mal dirigido, pessimamente administrado, rachado internamente, onde todo mundo dá pitacos e ninguém se entende. O futebol, carro-chefe movido pela maior torcida do país, não tem condutor, ninguém sabe quem manda, vive à deriva. Vanderlei Luxemburgo foi contratado mais pelo que prometia do que pelo que vale. Apresentou um projeto de construção de um centro de treinamento, despediu toda a comissão técnica, mais de dez funcionários, alguns com mais de trinta anos de clube, teve carta branca e foi demitido como se fosse a coisa mais simples do mundo.
Para consagrar a desorganização contrata Joel Santana, de grande capacidade, currículo doméstico dos mais importantes, mas demitido outra vez. Qual a empresa que contrata um funcionário que foi mandado embora quatro vezes ? Coisas que só acontecem no futebol brasileiro, é verdade, mas não poderia acontecer em nenhum clube, muito menos no Flamengo que vive de paixão. Joel foi novamente afastado, tem uma rescisão de R$ 2 milhões a receber. O que é isso, é assim mesmo, como nos passam e nos fazer acreditar ou há alguma coisa por trás disso tudo e não sabemos ?
Muito estranho esse tipo de negócio entre treinadores e clubes. Qual o resultado prático dessas trocas constantes de técnicos ? Quem pode explicar esse negócio que envolve milhões em indenização e nada é apurado ? Por que uns não ficam uma semana sem trabalhar e outros – Espinosa, Jair Pereira, Renê Simões, Othon Valentim, entre tantos – não conseguem emprego ? O Barcelona consagrou-se melhor time do mundo com Pep Guardiola mantido por cinco temporadas. O Real Madrid mantém José Mourinho há três anos. Os dois gigantes da Espanha – quase 80% da seleção campeã do mundo – cumprem uma programação vitoriosa porque sabem a importância do calendário, estabelecido por gente competente. Por isso são vitoriosos.