Depois
Projetos de Leis, Leis duríssimas para quem permitir nova tragédia como a de Santa Maria, responsáveis conduzidos algemados em viaturas policiais – sempre um agente da lei segurando o cara pelo braço, quando não dois, gente do local, residência e trabalho fixos, super conhecidos – imagina quem não conhece o dono da boate de uma cidade menor – mas as imagens são o reflexo de um país que não permite esse tipo de crime. Disseram até que o chefe de tudo é um deputado. Cruzes.
Por tabela, os restaurantes, barracas de cachorro quente, angu, prostitutas da Avenida Atlântica, flanelinhas, donos de açougue, quitanda, farmácia, todo mundo está sendo investigado, multado, são pessoas perigosas, relapsas, que poderão provocar outra grande tragédia, matando gente inocente que passa por ali buscando diversão. Veremos o carnaval mais vigiado – parece até aquela casa que nunca, essa pode, é vigiada de verdade – dos últimos cinco séculos, desde que as primeira tribos desfilaram com o Bafo da Onça e o Cacique de Ramos, depois da primeira missa. Ou antes, não tenho certeza.
Uns novecentos blocos, ou quase isso, serão rigorosamente fiscalizados enquanto engarrafam o já caótico trânsito do Rio. Para o amigo leitor ter uma ideia, tirei uns dias de férias e estou escrevendo de Araruama, num cantinho sossegado, silencio absoluto, apenas o barulho da chuva nas árvores e no telhado. Mais nada. Nem Casillas, meu canário belga que sempre me acompanha, está cantando. Está na muda, as penas caindo, ele fica deprimido e perde até para cambaxirra que se esbalda cantando o dia todo. Ele só no alpiste e um jilozinho. Demorei três horas da Barra aqui. Duas delas até chegar ao pedágio da ponte.
Abro um parêntese para dizer que meu amigo Elson Forrogode, sujeito de alta periculosidade, residência ignorada, ninguém sabe quem ele é, ia fazer um show em Angola e recebeu uma intimação de que está sendo processado e vai pagar caro por urinar, em via pública, de madrugada, perto da praça Mauá, lugar onde desembarcam milhares de turistas de todos os cantos do mundo para gastar fortunas nessa cidade maravilhosa. Respondeu processo, foi condenado não é mais ficha limpa, pode, portanto se candidatar a presidência do Senado. Bem feito, lugar de mijar é no banheiro, não sabia disso, seu Elson ?
E assim é o cotidiano brasileiro, até que nova tragédia anunciada se abata sobre pobres coitados que, ou estão dormindo e a enxurrada leva sua casa, ou se divertindo numa casa noturna em qualquer lugar desse País. Ou fazendo qualquer coisa. Até mesmo provocando uma avalanche no novo estádio do Grêmio. Quer coisa mais anunciada que aquela brincadeirinha de torcedores? Quer outra ? Há uns cinco anos venho alertando a CBF para aquelas moças que ficam ATRÁS do gol, imitando as americanas do basquete, que aparecem nos INTERVALOS, sem nenhum perigo às suas vidas. Já imaginaram uma bolada no rosto, não ? Aí vão procurar culpados.
Vou encerrar e prometo não voltar mais ao assunto, até depois do carnaval. Já viram, claro, quando há um problema qualquer com os trens, no Rio. Desce todo mundo, mesmo que a espera seja de cinco, dez minutos. E vão PARA OS TRILHOS, caminham como se estivessem dentro de casa, numa igreja ou supermercado. Eficientes e responsáveis como são TODOS os meios de transportes no Brasil, não dá para não se assustar cada vez que vejo aquelas cenas. Meu Deus, não permitam que essa tragédia – MAIS QUE ANUNCIADA – se confirme. Façam alguma coisa. Olhem adiante dos seus narizes, não para seus pés. Estão avisados.
Ah, ia esquecendo. Voltando a Santa Maria, por que procuram tantos responsáveis se existe apenas um ? Quem é o cara que deveria ter feito a fiscalização da boate Kiss, que não cumpriu sua obrigação e deixou rolar. Ou não deixou, não sei. Por que não fechou a casa ? Houve algum acordo, enfim, o que se passou que o cidadão não cumpriu com sua obrigação. Simples, caro Watson, é fácil concluir.