TORCER OU NÃO TORCER

João Saldanha: que falta faz.

 

Eis a questão. Pode um profissional, formador da opinião pública, com a força da mídia atual, cada vez mais penetrante, usar seu veículo para torcer, enquanto trabalha numa competição, seja qual for ? É o que temos observado, com tristeza. Fui formado numa época em que o narrador narrava, o repórter informava e o comentarista comentava. O torcedor, claro, torcia, enquanto escutava, por isso é chamado “ouvinte”, que ouve. Era assim. Cada um na sua.

Com o desenvolvimento das transmissões pela televisão as posições foram invertidas. Não a ponto do torcedor narrar, mas muita gente tira o som e acompanha pelo rádio, mesmo com o “delay” – aquela diferença de tempo  entre a imagem e o som – que é inevitável. É assim que vejo os jogos, mas por outra razão. Não consigo ouvir profissionais – alguns muito bons – torcendo pelo time da casa ou por interesse de sua empresa em dizer o que o espectador quer ouvir.

Essa é a grande diferença entre as narrações de hoje e as do passado, quando João Saldanha – para falar do maior exemplo – dizia o que estava vendo ou o que sentia, sem nenhuma preocupação em agradar. Mario Vianna – com todo o seu rigor – assumia uma posição sem constrangimento. “Errou” … “Banheira”… gritava e ecoava sua opinião por todo o Brasil. E nem por isso era menos respeitado.

Era uma liberdade que fazia e dava às transmissões credibilidade. O que não acontece hoje, infelizmente. Há o envolvimento de patrocinadores, a “praça” – local para onde as transmissões são direcionadas – e o medo de desagradar ou ficar mal com a torcida daquela cidade ou estado. Pior quando há a participação do Flamengo ou Corinthians, por exemplo, que tem torcida por todo o país. Mesmo assim, os narradores da casa arriscam uma “torcidinha” no ar. Fica feio.

No momento em que a televisão prepara-se para celebrar a missa de sétimo dia do futebol, nada mais constrangedor que ouvir essas narrações. Corinthians e Boca Juniors, decidindo a Taça Libertadores com o Pacaembu quase lotado não serve de exemplo. O Flamengo, Botafogo, Palmeiras, Santos e muitos outros grandes clubes tem jogado para cinco, seis mil pagantes. A tendência é que o torcedor não saia de casa a não ser os loucos corinthianos ou os fanáticos rubro-negros.

É preciso mudar o conceito atual de transmissões. Ninguém suporta mais ouvir locutores e comentaristas tentando agradar as torcidas dos grandes times. Agradar o torcedor não é uma boa política. Pode satisfazer a poucos, mas desagrada a muitos. Enfim, como qualidade não é o forte de quem vê televisão, de repente esse conceito dá certo. Não duvido.

 

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