Não
O nadador, o fundista, o Jadel Gregório e a Maureen Maggi para superar seu tempo só precisam de sua dedicação e determinação. E quando alcançam índice e um clube para representar, do privilégio da companhia de um técnico. Patrícia Amorim, Cesar Cielo e o Djan Madruga não desenvolveram qualquer aprendizado coletivo para aprende r a lidar com sua modalidade ou entender um jogo de equipe.
Até o revezamento 4×4 é cada um com o seu tempo, que, somados, podem reuni-los no pódio, jamais treinando e compartilhando táticas e estratégicas comuns. Até nas competições, quando mais de um cai na agua, colocam raias para garantir o isolamento.A presidente rubro-negra, que cresceu guiada por um cronometro, como entenderia aquela prancheta enigmática do seu atual treinador, que foi criada para entrosar 11 jogadores em prol de uma tática comum?
Como alcançaria a inteligência do seu treinador anterior, Wanderley Luxemburgo, que reviu conceitos e trocou seu treino forte da manhã por uma recreação, só para ter a presença do seu ídolo maior oriundo de outra noite mal dormida e esperar o treino da tarde, após o cochilo e o almoço, para lhe dar condições mínimas de ajudar o grupo a alcançar o título carioca.
Quando defendi o Americano FC, nos anos 80, fui convidado pelo preparador Paulo Nascimento, após minha terceira cirurgia no joelho, a trocar o campo pela piscina. Lá, no parque aquático do Parque Tamandaré, passei a percorrer diariamente, aos 30 anos, 1500 metros que garantiam meu fôlego e preservaram minhas articulações para continuar exercendo minha profissão.
Meus companheiros, que não me viam mais subindo montanhas e disputando coletivos com os juniores, até ensaiavam alguns gracejos, que eram abafados por 90 minutos de intensa luta que os ajudavam a levar preciosos bichos para casa. Fui nadando e me afastando dos gramados e, infelizmente, por conseqüência, me isolando dos amigos, dos churrascos, aproximando-me do individualismo que transcede o esporte e nos remete ao egoísmo cidadão.
As águas frias, o silencio apenas quebrado pelas braçadas, meses após anos, foram substituindo os gritos das arquibancadas, tirando a emoção única que sequer deixava uma gota de suor num colete que nem vestíamos mais. Eu pedi ajuda a psicólogos, comprei uma bike,tenho revezado a natação com caminhadas.
A Patrícia, pelo visto, não. Só assim, reclusas, isoladas, da piscina pra casa e dos jeans pro maiô, com os cabelos ainda impregnados de cloro, eu posso imaginar que alguém possa conceber que numa coletividade, especialmente a saudável e esportiva, possa emergir um delator.
Um atleta que se preste a acusar um companheiro de profissão. Não, Patrícia Amorim, em meus 44 anos de futebol, como atleta, treinador, dirigente e jornalista, jamais encontrei um só deles, premiado que fosse, porque em nosso meio não tem bandido para ser entregue. Objetivos, sim, como as vitórias, a serem buscados e recompensados.
Tem até ídolos que não souberam lidar com sua idolatria, que não tiveram o privilégio de estudar para entender o seu papel social, mas seus maiores crimes foram se apaixonar por algo, ou alguém, que não tiveram referência na família para avaliar. Daí abusaram. E daí sucumbiram. Mais a emergir um Judas, um Joaquim Silvério dos Reis, um Cabo Anselmo?
Em nome de uma nação, do próprio futebol, deixe, Patrícia, o Flamengo ser presidido por um ser coletivo. Um Zico, por exemplo. Que jogou, e como, com a 10 e conviveu com mais de 1000 companheiros. E volte para a solidão de uma piscina que a fará, mesmo no Master, em nome da sua irretocável carreira esportiva, novamente respeitada e reconhecida.
José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.