Voltei
Mas quem estava narrando a partida era o Edilson Silva, pela 91,1 FM. Pobre coitado, não havia nada em campo a inspirá-lo. Primeiro, marcar um FlaxFlu longe do Maracanã é como convidar a Orquestra Sinfônica Brasileira para se apresentar em Barretos, no intervalo dos seus rodeios. Não combina. Nos acordes desencontrados do seu limitado meio-campo, não mais havia no Pacaembu solistas como Carlinhos e Nelsinho. Quem carregava o trombone do Flamengo era Cuéllar, Arão e Éderson. Do outro lado do palco, o Gérson do Flu não era o canhotinha de ouro, e o Pierre não teve a sorte de ver o Denílson, o Rei Zulu, vestir aquela camisa 5 e desarmar o adversário com uma classe que encantava multidões. Diante deste quadro desolador, de passes errados e falta de criação, não havia como gerar clássicos como “Pimba na gorducinha!” , “Tá lá um corpo estendido no chão!”, “Pelo amor dos meus filhinhos!”. O máximo que o locutor conseguia tirar da partida eram bordões de igual falta de inspiração: “Gostosa, gostosa, gostosa!” “Lepo, lepo!” “Pra fora, pra fora, pra fora!”. De tão fraca a transmissão, que traduzia a ruindade da partida, minha esposa ao lado desabafou: “-Mas que coisa chata!. Tira desta rádio!”. Antes, expliquei, precisamos trocar o futebol.
Só não troquei de rádio porque nenhuma outra pegava na serra. E tinha alguém na transmissão tentando salvar as ondas curtas que naufragavam: Ronaldo Castro. Cobra criada em meio as feras citadas, destoava com comentários precisos, emoções e decepções narradas no tempo certo, mesmo quando ela se ausentava nas arrancadas inúteis do Cirino, nas substituições infrutíferas tentadas com Gabriel e Marcos Junior. Mas quando a bola bateu na mão do Juan, me deu uma baita saudade do Mário Vianna, com dois enes, que berraria assim: “Lá mano! Lá mano!”. Mas igualmente sem emoções soou o comentário de Daniel Pomeroy, ao explicar o lance e jogar de vez um balde frio naquele zero a zero: “-Foi mão. Se foi dentro da área, foi penalty!”. Estava mesmo na hora de desligar.
Sem a trilha sonora das grandes vitórias (thcan! tchan! tchan! tachan!) as transmissões de Galvão Bueno perderam o tchan quando nossos pilotos deixaram de subir ao pódio da F1. Ernani Pires Ferreira, então, parou de entrar ao vivo no Faustão quando Much Better não mais surgia na reta oposta. A culpa não é da nova geração que transmite, mas da atual geração que mal se apresenta, pouco se aproxima, dos gênios que inspiravam a arte de outrora.
José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.