Enquanto os clubes europeus estão na metade dos campeonatos, os jogadores em plena forma, prontos para enfrentar qualquer adversário, o torcedor brasileiro tem que pagar para ver a insuportável Copa São Paulo de futebol júnior, um dos maiores “jabás” já criados até hoje no futebol. Não resiste a uma apuração séria sobre sua existência. Talvez sirva, atualmente, para preencher grade de televisão. Foi boa no começo, sem dúvida, hoje é apenas um comércio livre de meninos em formação.
Dá pena ver os moleques se expondo a “gramados” perigosos, sol e chuva, sabe-se lá em que condições de alojamento são obrigados a se concentrar, se o termo pode ser aplicado nessa caso. Jogam para ninguém. No público, maioria absoluta de empresários, doidos para encontrar um Messi, Cristiano Ronaldo ou Thiago Silva. Um Neymar já é mais complicado. A tal “copinha” vive de ter “lançado” três ou quatro jogadores que, inevitavelmente teriam que aparecer em algum lugar.
Esse é o modelo, a cara do futebol brasileiro que, hoje, vive do passado. Histórico, por sinal, brilhante, vitorioso, empolgante, glorioso. Tempos em que se torcia para a seleção brasileira, que tem o maior público de uma partida de futebol de todos os tempos, em qualquer lugar do planeta, na histórica classificação para a copa do mundo de 1970, derrotando o Paraguai, no Maracanã, diante de 183.341 pagantes, com certeza mais 200 mil torcedores.
Por mais de duas décadas esse futebol de Pelé, Nilton Santos, Jairzinho, Garrincha, Didi, Gerson, Zico, Zito, Rivelino, Tostão, Carlos Alberto Torres, Amarildo, Paulo Cezar Lima, Falcão e tantos outros, foi perdendo espaço, a CBF se desmoralizando a cada atrapalhada de seu ex-presidente, até que as coisas foram selecionadas para que houvesse uma mudança radical. Acusações de corrupção se acumularam até que a presidenta Dilma Roussef deu um basta. O futebol brasileiro lhe deve essa.
Vem aí a nova temporada, com os campeonatos estaduais (regionais não, gente, pelo amor de Deus) cada vez mais esvaziados, entregues de bandeja à televisão, que faz dele o que bem entende, em troca de algumas moedas. As tabelas, as mais bizarras do mundo. Jogos sem apelo, clubes sem condições de jogar na segunda divisão de qualquer país da Europa, até porque não têm campo. Um terreno fértil para os empresários e dirigentes que se aboletaram na cadeira de presidente e de lá não arredam pé. Deve ser muito interessante o cargo.
Dizem que os saudosistas e românticos pregam o passado. Ah, o passado. De Pelé fazendo 58 gols em seu primeiro campeonato paulista, um ano antes da primeira copa do mundo conquistada pelo Brasil. Dois anos atrás, Dida levantava a maior torcida do país, dando ao Flamengo o segundo tricampeonato de sua história, ao lado de Joel, Moacir e Zagalo, com quem embarcaria depois, junto com Pelé, para conquistar o mundo com a então respeitada camisa amarela, embora a final tenha sido com uniforme azul. O Brasil era redescoberto. A base, os estaduais (regionais, não).
Os jogadores retornavam das férias e tinham tempo para recuperar a condição atlética. Hoje os times tem 12 dias de “preparação”, incluindo exames médicos, avaliações e a inevitável luta contra o peso. Falta, ainda, consciência profissional aos atletas, tratados como semideuses. Menos mal que o futebol brasileiro está muito bem servido de médicos, preparadores físicos, fisioterapeutas, fisiologistas, nutricionistas, massagistas, enfim, uma comissão multidisciplinar, que não fica devendo a nenhum grande clube no mundo.
O preço dessa insistência em não adaptar o futebol brasileiro ao calendário mundial, seguido pela Argentina, por sinal, é pago pelo torcedor, que se vê obrigado, com razão, a comprar pacotes do campeonato espanhol, inglês, italiano, russo, francês, português, o que achar melhor. Outro sintoma está nos shoppings, onde se esbarra com jovens vestindo camisa do Barcelona – o preferido dos moleques – Manchester, Chelsea, Real Madrid, PSG e outros.
Penso até que devem mesmo “esculachar” os saudosistas. Eu, nem ligo. Sou saudosista assumido. Romântico nato. Curti muito Zidane, Platini, Eusébio, Beckenbauer, Gerd Muller, Sepp Mayer, Maradona, Paul Breitner, um monstro, Rivera, Giggi Riva, Gento, quer mais ? Sou do tempo em que o Maracanã lotava e mantém até hoje o maior público em jogos de campeonato. Foi no Fla x Flu de 1963, decisão do campeonato, visto por 177.020 pagantes. Pode arredondar: 200 mil.
Fechando, como informação, o Real Madrid iniciou a pré-temporada em 16 de julho de 2012 e fez seu primeiro amistoso dia 24, usando todos os jogadores do elenco. Dia 27 jogou em Lisboa um amistoso contra o Benfica, valendo o Troféu Eusébio. Fez mais quatro amistosos, dias 3, 6, 9 e 11, nos Estados Unidos, retornando a campo dia 19 de agosto para a estréia na Liga das Estrelas, contra o Valencia. Fechando a conta, o preparador físico Rui Faria trabalhou o time durante 35 dias para disputar, ainda, a Copa do Rei (2 jogos) e a Liga dos Campeões.
É fácil concluir que, se o futebol brasileiro não se organizar, ficar refém da televisão para sempre, continuará dando um passo para a frente e dois para trás. Os números estão aí. A seleção brasileira está em 18º lugar no ranking oficial da Fifa, atrás da Colômbia, Rússia, Portugal e, pasmem, Costa do Marfim. Enquanto isso, a Espanha, país do futebol, ganha tudo. Duas copas da Europa seguidas, com uma Copa do Mundo de quebra, os três melhores jogadores do mundo atuam na Liga, além de ter toda a seleção do ano com jogadores dos gigantes Real Madrid e Barcelona.
Como informação, pra você que não é saudosista, deixo minhas indicações para o próximo fim de semana. Uma suculenta primeira rodada daquele que já foi o melhor campeonato do país. Botafogo x Duque de Caxias, Flamengo x Quissamã, Fluminense x Nova Iguaçu e Vasco x Boavista. Bom proveito.
Bela matéria,como sempre. Abraço.