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Não adianta, enquanto não mudarem a mentalidade dessas pessoas que dirigem o futebol brasileiro vai ser daí para pior. Não existe mais fim do poço. Já ultrapassou a camada de pré-sal que é bem mais abaixo, pelo que sei. E mais difícil. É nessa profundidade que devemos buscar os caminhos para a recuperação. A seleção principal está em 18 º lugar na classificação da Fifa. O que estão esperando, ficar abaixo da Arábia, Saudita, Eritréia, não basta estar abaixo da poderosa Costa do Marfim ? Se preferem a segunda opção basta esperar mais uns anos e estaremos lá.
O país está sendo tocado ao “Deus dará”, sem comando, ou melhor, tem até uma comandante que atua, mostra serviço, mas é pouco, ou não é suficiente. D. Dilma fez um grande serviço ao futebol, afastando o presidente da CBF, com toda a sua arrogância, prepotência e soberba. Foi uma boa varrida, mas não o suficiente. A mudança precisava ser feita, foi, mas as peças não renderam o que delas se esperava. Não vejo cacife para o atual presidente conduzir essa navio até um porto seguro. Falta muito pouco para que outras embarcações atraquem em nossos portos. E muita gente a ser varrida, ainda. Há ranço antigo, ainda, na CBF.
Os campeonatos estaduais começaram esta semana e não vi nada novo, no Rio. O Flamengo estreou sábado derrotando o novato Quissamã por 2×0, no Engenhão lotado, de lugares vazios. Estava em campo o “time” de maior torcida do país. Dizem, em São Paulo, que muito ameaçado pelos “loucos” corintianos, que estão prometendo invadir Marte, quando o time fizer a primeira partida do campeonato galáctico nos planos da Fifa, doida para faturar além-Terra, com transmissão direta, claro. Plaquinha no gramado e tudo mais que a jabazada futebolística adora. Todo mundo ganha dinheiro no futebol brasileiro, menos os clubes.
O Vasco venceu o poderoso Boavista, em Volta Redonda, com 3.827 pagantes, até conheço alguns que estavam lá. O grande destaque foi o zagueiro Dedé, o MITO, grande esperança da seleção brasileira para a copa do ano que vem, quando deverá parar Messi, se houver esse encontro, que eu adoraria ver. Nosso zagueirão dando caneta, lençol, rabo-de-vaca e outras atrações no “Pulga”, que sairia de campo sem entender nada. Paciência, quem manda jogar contra os canarinhos ?
O Botafogo mostrou seu esquadrão aos torcedores no dia – que cruel ironia do destino – em que se comemorava trinta anos da morte de Garrincha. Não merecia isso. Mas o time foi lá e massacrou o cruel Duque de Caxias, sem piedade. Antes, o Fluminense, campeão estadual e brasileiro que divide com o Corinthians a preferência da mídia entendida como melhor time do Brasil, também fez a sua parte e venceu por 2×0 o Nova Iguaçu. É jogo que não acaba mais. A turma que vende PPV está rindo de orelha a orelha.
Vale lembrar, porque nem todo torcedor tem memória de elefante, que esses jogos valem pela Taça Guanabara, uma espécie de Copa do Rei, na Espanha, o país do futebol. Dezesseis times, divididos em dois grupos, que se enfrentam em um turno. Ou seja, dois clássicos para cada clube grande. Os pequenos ou, como a grande mídia prefere “de menor investimento” (acho isso de uma babaquice …) se matam para ver quem escapa e perdem todos os jogos contra os de “maior investimento” (queria saber quais são esses investimentos).
Vocês, da minha geração, sabem que o futebol carioca tinha SEIS clubes grandes, vou lembrar: Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco, América e Bangu, confere ? Ou seja, CINCO clássicos por turno, DEZ clássicos quando se disputou, por muitos anos, dois turnos por pontos corridos cada um. E os pequenos faziam frente quando jogavam em casa. Ganhar do Olaria na rua Bariri não era tão fácil quanto se imagina. Havia bons times, como Bonsucesso, Campo Grande, Americano e Madureira, que revelou entre outros, Waldo Machado, Evaristo de Macedo, Jair Rosa Pinto, Lelé, Isaías, Marcelinho Carioca, Iranildo, Souza e Léo Lima. Leônidas da Silva começou no Bonsucesso.
Aí a televisão descobriu a galinha dos ovos de ouro e acabou com o futebol carioca. Encheu os campos de publicidade (eu era repórter de campo e vi quando elas chegaram), impôs os horários mais bizarros, pagou esmolas durante muitos anos (e ainda paga), impediu a participação de outros profissionais nas entrevistas, tomou conta do gramado, impôs tabelas, obrigou a realização de jogos em campos alagados (veja Inter x Flamengo), retardou os horários para atender os horários da grade, fez o que quis e vai fazer por muitos anos, enquanto o futebol for dirigido por marionetes. Tenho alertado. Avisei (faz muito tempo) que a televisão mataria o futebol, não acreditaram.
É verdade que o Fluminense se estruturou a partir da parceria com a Unimed. Deve estar com as contas em dia, fez contratações importantes, ganhou títulos, mantém o status de grande clube e deve fazer uma boa temporada. O Botafogo vem se arrumando como pode, com o empenho do presidente Mauricio Assumpção, que mantém os pés no chão e faz uma administração em busca do resgate alvinegro. Deu um tiro certo, em todos os sentidos, ao trazer Seedorf, craque com a bola e sem ela. Muito talento e carisma. Vasco e Flamengo estão pagando o preço altíssimo deixado por desastrosas administrações anteriores. Deixaram dívidas impagáveis e um saldo negativo de imagem jamais visto na história dos dois gigantes. Roberto Dinamite está pagando a conta e Eduardo Bandeira de Melo terá que trabalhar muito para fazer a galera do Mengo sorrir como nos bons tempos de Zico e cia.