POBRE FUTEBOL CARIOCA

A seleção Sub-20 do Brasil foi derrotada pelo time peruano, da mesma idade, vale lembrar, e está fora do próximo campeonato mundial. Não é novidade, em 1997 foi assim, portanto, é um problema de muitos anos, que deve ser analisado lá atrás. Bobagem ficar buscando culpados, velha mania da imprensa dita especializada, mas deixa isso pra lá. Se não buscaram fazer jus ao adjetivo não é problema meu. Na primeira partida ouvi um “especialista” dizer que “na estréia é assim mesmo”, como se o adversário não estivesse na mesma situação. Ridículo.

Não adianta, enquanto não mudarem a mentalidade dessas pessoas que dirigem o futebol brasileiro vai ser daí para pior. Não existe mais fim do poço. Já ultrapassou a camada de pré-sal que é bem mais abaixo, pelo que sei. E mais difícil. É nessa profundidade que devemos buscar os caminhos para a recuperação. A seleção principal está em 18 º lugar na classificação da Fifa. O que estão esperando, ficar abaixo da Arábia, Saudita, Eritréia, não basta estar abaixo da poderosa Costa do Marfim ? Se preferem a segunda opção basta esperar mais uns anos e estaremos lá.

O país está sendo tocado ao “Deus dará”, sem comando, ou melhor, tem até uma comandante que atua, mostra serviço, mas é pouco, ou não é suficiente. D. Dilma fez um grande serviço ao futebol, afastando o presidente da CBF, com toda a sua arrogância, prepotência e soberba. Foi uma boa varrida, mas não o suficiente. A mudança precisava ser feita, foi, mas as peças não renderam o que delas se esperava. Não vejo cacife para o atual presidente conduzir essa navio até um porto seguro. Falta muito pouco para que outras embarcações atraquem em nossos portos. E muita gente a ser varrida, ainda. Há ranço antigo, ainda, na CBF.

Os campeonatos estaduais começaram esta semana e não vi nada novo, no Rio. O Flamengo estreou sábado derrotando o novato Quissamã por 2×0, no Engenhão lotado, de lugares vazios. Estava em campo o “time” de maior torcida do país. Dizem, em São Paulo, que muito ameaçado pelos “loucos” corintianos, que estão prometendo invadir Marte, quando o time fizer a primeira partida do campeonato galáctico nos planos da Fifa, doida para faturar além-Terra, com transmissão direta, claro. Plaquinha no gramado e tudo mais que a jabazada futebolística adora. Todo mundo ganha dinheiro no futebol brasileiro, menos os clubes.

O Vasco venceu o poderoso Boavista, em Volta Redonda, com 3.827 pagantes, até conheço alguns que estavam lá. O grande destaque foi o zagueiro Dedé, o MITO, grande esperança da seleção brasileira para a copa do ano que vem, quando deverá parar Messi, se houver esse encontro, que eu adoraria ver. Nosso zagueirão dando caneta, lençol, rabo-de-vaca e outras atrações no “Pulga”, que sairia de campo sem entender nada. Paciência, quem manda jogar contra os canarinhos ?

O Botafogo mostrou seu esquadrão aos torcedores no dia – que cruel ironia do destino – em que se comemorava trinta anos da morte de Garrincha. Não merecia isso. Mas o time foi lá e massacrou o cruel Duque de Caxias, sem piedade. Antes, o Fluminense, campeão estadual e brasileiro que divide com o Corinthians a preferência da mídia entendida como melhor time do Brasil, também fez a sua parte e venceu por 2×0 o Nova Iguaçu. É jogo que não acaba mais. A turma que vende PPV está rindo de orelha a orelha.

Vale lembrar, porque nem todo torcedor tem memória de elefante, que esses jogos valem pela Taça Guanabara, uma espécie de Copa do Rei, na Espanha, o país do futebol. Dezesseis times, divididos em dois grupos, que se enfrentam em um turno. Ou seja, dois clássicos para cada clube grande. Os pequenos ou, como a grande mídia prefere “de menor investimento” (acho isso de uma babaquice …) se matam para ver quem escapa e perdem todos os jogos contra os de “maior investimento” (queria saber quais são esses investimentos).

Vocês, da minha geração, sabem que o futebol carioca tinha SEIS clubes grandes, vou lembrar: Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco, América e Bangu, confere ? Ou seja, CINCO clássicos por turno, DEZ clássicos quando se disputou, por muitos anos, dois turnos por pontos corridos cada um. E os pequenos faziam frente quando jogavam em casa. Ganhar do Olaria na rua Bariri não era tão fácil quanto se imagina. Havia bons times, como Bonsucesso, Campo Grande, Americano e Madureira, que revelou entre outros, Waldo Machado, Evaristo de Macedo, Jair Rosa Pinto, Lelé, Isaías, Marcelinho Carioca, Iranildo, Souza e Léo Lima. Leônidas da Silva começou no Bonsucesso.

Aí a televisão descobriu a galinha dos ovos de ouro e acabou com o futebol carioca. Encheu os campos de publicidade (eu era repórter de campo e vi quando elas chegaram), impôs os horários mais bizarros, pagou esmolas durante muitos anos (e ainda paga), impediu a participação de outros profissionais nas entrevistas, tomou conta do gramado, impôs tabelas, obrigou a realização de jogos em campos alagados (veja Inter x Flamengo), retardou os horários para atender os horários da grade, fez o que quis e vai fazer por muitos anos, enquanto o futebol for dirigido por marionetes. Tenho alertado. Avisei (faz muito tempo) que a televisão mataria o futebol, não acreditaram.

É verdade que o Fluminense se estruturou a partir da parceria com a Unimed. Deve estar com as contas em dia, fez contratações importantes, ganhou títulos, mantém o status de grande clube e deve fazer uma boa temporada. O Botafogo vem se arrumando como pode, com o empenho do presidente Mauricio Assumpção, que mantém os pés no chão e faz uma administração em busca do resgate alvinegro. Deu um tiro certo, em todos os sentidos, ao trazer Seedorf, craque com a bola e sem ela. Muito talento e carisma. Vasco e Flamengo estão pagando o preço altíssimo deixado por desastrosas administrações anteriores. Deixaram dívidas impagáveis e um saldo negativo de imagem jamais visto na história dos dois gigantes. Roberto Dinamite está pagando a conta e Eduardo Bandeira de Melo terá que trabalhar muito para fazer a galera do Mengo sorrir como nos bons tempos de Zico e cia.

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