Parece óbvio, mas não me refiro, naturalmente, àquele que, infelizmente, está privado de ver as rosas, as cores, mas aos que têm o privilégio da visão e não aproveitam. Eu queria falar da seleção da Espanha, sobre a qual tenho feito muitos comentários, pelo menos desde que estreamos esse nosso espaço, há mais de três anos. Pensei que havia dito tudo mas diante do que o time fez contra o Uruguai resolvi acrescentar alguma coisa. É um novo conceito em futebol, claro. Já devem ter dito isso. Também que Iniesta é de outro planeta. Que jogador.
La Roja joga, encanta e não deixa o adversário jogar. Foi maravilhoso o que eles fizeram na estréia. Invadiram a metade do campo e não deixaram os nossos hermanos passar do meio de campo. Parecia que havia um muro, no lugar da linha divisória. Casillas não fez uma defesa no primeiro tempo. A bola só chegava quando havia um recuo para o seu time se reorganizar para recomeçar o show de passes, toques, triangulações. O famoso “tic-taka” da antiga Fúria.
Eles põem o adversário na roda e fica difícil retomar a posse de bola, que chegou, no primeiro tempo, a inimagináveis 83% para o time de Del Bosque, contra o Uruguai. Um absurdo, difícil de imaginar, numa época em que a velocidade, distância percorrida por um volante, e força, são destaque na maioria do times europeus. A “Celeste” entrou na roda e só faltou cantar “ciranda, cirandinha”… Uma partida inesquecível, para guardar e rever sempre que der saudade daquela noite.
A Espanha está praticando um futebol espantosamente eficiente. Basta lembrar que esse time não perde uma partida oficial desde a primeira rodada da copa do mundo de 2010, na África do Sul, quando perdeu para a Suíça por 1×0, gol de Fernandes, aos 7 minutos do segundo tempo, dia 16 de junho, exatamente três anos atrás. Estavam em campo apenas Casillas, Sergio Ramos, Pique, Busquets, Xavi, Iniesta e Pedro, que entrou no lugar de Iniesta. Puyol e Capdevila foram os únicos não convocados agora, além de Xabi Alonso, machucado.
Esse time tenta o quarto título internacional seguido, sempre com a defesa menos vazada. Joga bonito, encanta e não permite que o adversário jogue. Tem sido assim. Uma grande potencia técnica, subjuga qualquer time, parece jogo de videogame. Não é imbatível, porque isso não existe. Mas pratica o melhor futebol do mundo, faz muito tempo. Ia esquecendo o que ouvi depois do jogo, numa rádio do Rio: “A Espanha tem um futebol chato”. Foi desse cego que eu queria falar. Coitado, tem visão e não vê.