Enquanto
Mas no Flamengo atual, antes de disputar o título ou escapar da zona de rebaixamento, é preciso manter na vitrine uma mercadoria duvidosa, adquirida a peso de ouro e quem nem seu peso em latão anda valendo: Carlos Eduardo. Pois mesmo perdendo o jogo, com um zagueiro expulso, Mano Menezes fez o imponderável: tirou Hernane, único atacante que ainda levava perigo ao gol adversário, mantendo um meia que não deu um chute sequer ao gol, acabando de vez com qualquer esperança de reação.
O empate veio por acaso, mas as imagens no banco de reservas não deixavam dúvidas: Marcelo Moreno e Hernane podem tanto jogar juntos, como saírem junto para tomar um chope. Bateram longos papos, descontraídos, no banco de reservas, quando deveriam estar juntos em campo tirando o sono do Roberto, goleiro da Ponte Preta, e o Flamengo deste desespero.
Logo depois, na Vila Belmiro, Osvaldo de Oliveira, após seu time estar vencendo por 2×1, convida novamente o raio para cair pela terceira vez no mesmo lugar, reservado por seu medo de perder uma partida: assim como foi com o Flamengo, com o Atlético Mineiro e com o Internacional, tirou um atacante e colocou o André Bahia em campo faltando 5 minutos para segurar o resultado. Sem o ritmo dos outros, desentrosado e desaquecido, sem perceber os atalhos buscados por Dória e Bolívar para fechar os avanços dos atacantes santistas, o esforçado zagueiro tem entrado sem o tempo da bola e, por sorte, não acaba envolvido na cessão de um outro empate.
Mas porque nossos renomados treinadores andam cometendo erros primários? Por quê não têm a clarividência do Junior, do Roger, do Neto e dos comentaristas do Sportv e da ESPN Brasil? A imagem captada pela telinha é transmitida e comentada pelas cabines, bem acima da cabeça e do entendimento dos nossos treinadores, por tal razão a partida é compreendida por todos e desconhecida por eles. Que avançaram bastante no quesito marketing pessoal (ou vocês têm outra lembrança do Dunga a não ser das suas duvidosas indumentária desenhadas pela filha?) mas estão pecando como estrategistas.
Atuando no mesmo nível dos seus jogadores, não conseguem uma visão geral do gramado, como, por exemplo, Karpov e Kasparov, dois dos maiores estrategistas do Xadrez, possuem do seu tabuleiro. Como pensar globalmente sobre seu time e do seu adversário colado aos seus laterais, que normalmente correm mais que raciocinam, e distante daquele pensador que atua no meio e carrega a braçadeira? Como mudar a história de uma partida sem entendê-la como um todo?
Tim, Telê e Evaristo Macedo, nossos últimos estrategistas, ensaiavam seu time durante a semana e deixava-os atuar livremente sentado no banco de reservas. No intervalo, repunham as peças sem deixar que contribuíssem com sua inteligência dentro de campo. Sem gritos, assovios, camisas de grife, o improviso e a liderança surgiam no palco onde desfilavam nossos maiores craques.
Encobertos e expostos, ficamos sabendo que nossos atuais treinadores se vestem bem, são supersticiosos, carregam pranchetas, se cercam de copos d’água, mas são incapazes de mudar uma partida. Sob tal névoa sobre aquele tabuleiro verde, qualquer peão vira rainha, Carlos Eduardo se torna solução mesmo porque burro ainda não ganhou status para se tornar uma cobiçada peça de xadrez.
José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.