Penso
Há um bairrismo e ufanismo muito acima do aceitável. Uma forma de atrair ouvintes e espectadores como nunca aconteceu na área de comunicação. Hoje há uma classe mais exigente, que cobra profissionalismo e isenção. Imaginar que aumentará audiência com os exageros usados na maioria das narrações e comentários é bobagem. Isso não vai acontecer mais, nem vai mudar, essa postura. Vamos esquecer esse comprometimento, que existirá sempre. Você, espectador/ouvinte, é o que menos importa, e sim os números das pesquisas, nem sempre confiáveis.
Em campo e fora dele a situação não é menos preocupante. Difícil é saber por onde começar e terminar. É fácil dizer que vimos o melhor campeonato brasileiro de todos os tempos. Não foi bem assim, mas “vende” se posto dessa forma. Na verdade vimos um campeonato emocionante, empolgante, mas nivelado por baixo. Basta ver o time campeão e tudo estará explicado. Quantos jogadores do Corinthians seriam, hoje, titulares na seleção brasileira, mesmo essa do Mano Menezes, total mente indefinida depois de tantos meses de experiências em vão ?
Fora Neymar, qual foi o grande destaque da temporada ? Comemora-se a volta dos craques em atividade fora do país, mas o que vimos foi uma debandada de jogadores em fim de carreira ou perto disso. Outro sintoma da falta de ídolos foi o absurdo exagero em torno do zagueiro Dedé, do Vasco, nivelado a Nilton Santos o que, convenhamos, é um sacrilégio. Foi um dos raros destaques do campeonato brasileiro, do Vasco, do futebol carioca, mas chegaram à beira do ridículo. Menos mal que ele parece um jovem centrado, consciente do seu potencial e não se deixou influenciar por essas “brincadeiras”.
Continuamos praticando um futebol retrógado, ultrapassado, com características próprias de um país onde o reconhecimento e o cumprimento às leis é o que menos importa. A televisão impõe as regras do jogo, para clubes endividados, mal administrados, e domina, também, algumas federações. Basta isso para justificar a entrega da Taça numa festa da TV, em auditório, o que só acontece no futebol brasileiro. Esperamos uma postura dos clubes em respeito ao torcedor, que merece ver seu time dar a volta olímpica com o troféu, como vimos no Japão, quando o Barcelona sagrou-se campeão do mundo. Cabe a você, torcedor, exigir isso.
Outra mudança urgente é a adaptação do calendário brasileiro aos de todo o mundo. Impossível continuar trabalhando sem ter um objetivo. Os times da Espanha, Itália, Reino Unido, Portugal, França e tantos outros importantes preparam seus jogadores para todas as competições, e não são menos que as nossas. Além dos campeonatos nacionais, a maioria com 38 rodadas, constam nos calendários Copas locais e a Liga dos Campeões. E não se fala em priorizar nenhuma delas. Todas as competições são importantes e lucrativas. Além de tradicionais. Algumas delas são disputadas há mais de 100 anos.
Há muito mais a ser revisto. Sei que seria demais pedir mudanças na CBF, até porque há um atraso de décadas em torno desse assunto. A saída do atual presidente é apelo nacional. O envolvimento de Ricardo Teixeira numa vasta lista de acusações de suborno e outros desmandos está manchando em níveis insuportáveis o nome do futebol brasileiro. Antes idolatrado e querido, nosso esporte favorito perdeu a credibilidade e o respeito. Ocupa a sexta posição no ranking internacional, posição que jamais ocupou, mesmo nos piores momentos.
O futebol brasileiro precisa criar uma Liga para administrar parte do futebol. A CBF está completamente desmoralizada. Os clubes não querem mudanças, enquanto tiverem onde passar a sacolinha para pegar verbas antecipadas. O desmantelamento do Clube dos 13 abriu uma grande oportunidade para isso. Os clubes não quiseram e não querem mudança, repito. É melhor como está, deixa assim. Assim será.
Feliz 2012.
Iata, acho que a ficha finalmente caiu na imprensa e público esportivo brasileiro. Demorou um pouco mais do que devia, depois de termos escolhido seguidamente jogadores estrangeiros como o melhor de recentes campeonatos brasileiros. Particularmente acho que o tempo é muito curto até a COPA de 14 para revertermos a situação, mas antes tarde do que nunca.
Feliz 2012 para todos nós.
Luiz Conté (55 anos de praia)