Não
Mais que uma constatação, os números estão aí para reforçar esse conceito. É impressionante a quantidade de camisas do Barcelona, Real Madrid, Manchester, Chelsea usadas por jovens torcedores nas ruas, reuniões e shoppings. Um fenômeno raro até o fim do século passado. O interesse das televisões despertado pelos números das pesquisas, tem obrigado algumas empresas a entrar na briga, transmitindo jogos até então relegados ao plano inferior, mesmo sendo em dias e horários antes inimagináveis.
Não há mais como subestimar a hegemonia do futebol espanhol, campeão da Europa e do mundo, de seleções e campeão da Europa e do mundo, de clubes. Em 2012 a Espanha vai tentar o bicampeonato da Eurocopa com uma nova seleção. O técnico Vicente Del Bosque deixou de chamar dez campeões em 2008 e convocou onze jogadores da nova safra que vem disputando e ganhando os torneios “Sub” organizados pela Fifa.
A temporada 2011-2012 apresenta o campeonato mais emocionante dos últimos anos, com sucessivas quebras de recordes, faltando sete rodadas para seu término. O Barcelona descontou seis pontos e poderá decidir o título no clássico contra o Real Madrid faltando quatro jogos. Cristiano Ronaldo e Messi disputam rodada a rodada a liderança dos artilheiros, e com certeza vão bater o recorde de 40 gols estabelecido na temporada passada pelo atacante português.
Para quem desconhece ou prefere ignorar os fatos, foi pelo ralo o velho e surrado chavão de que o campeonato espanhol só tem Barcelona e Real Madrid. Até poderia ser, tratando-se dos dois melhores times do mundo hoje. Nenhum desmerecimento para Sevilha, Valencia, Athletic de Bilbao, Atlético de Madrid e até o bravo Levante, que busca vaga na Liga Europa pela primeira vez. Quem pensa dessa forma precisa se reciclar. Mesmo assim não acredito que o “campeão moral”, que deverá ser o Valencia, fique abaixo do segundo colocado no campeonato brasileiro.
Para os que acreditam e curtem futebol como lazer, o técnico Vicente Del Bosque, que tem o grupo escolhido para a Eurocopa – aguarda apenas a recuperação de David Villa – não fará mais que duas alterações para a copa do mundo de 2014, por essas bandas. Podem ter certeza de uma coisa: a seleção que virá ao Brasil tentar o bicampeonato vai desembarcar como favorita e com um time muito mais forte que o apresentado na África do Sul. Guardadas as devidas proporções, será um trabalho parecido com o que foi feito por Aimoré Moreira, em 1962, aproveitando a base de 58. Por sinal também estava em jogo um bicampeonato.
A média de público em partidas do Real Madrid e Barcelona, em seus estádios, passa de 70.000 pagantes por jogo. Além disso há o retorno da televisão, que paga por jogos abertos e por assinatura, onde os dois gigantes espanhóis faturam fortunas. Seme-se ao que arrecadam nas bilheterias e carnês, pay-per-view e publicidade nos estadios a venda de camisas, bandeiras, cachecóis, chaveiros e todo tipo de souvenirs, visitas acompanhadas, museus e outros tipos de faturamento. No país do futebol se pratica o profissionalismo em sua essencia, enquanto aqui as coisas estacionaram há pelo menos trinta anos.
Vasco e Flamengo disputaram domingo (08-04-12) o “clássico dos milhões”, no estádio “Engenhão, alugado pela prefeitura do Rio ao Botafogo. Menos de 10 mil torcedores foram ao jogo. Deve ter sido porque era domingo de Páscoa e o pessoal preferiu ficar em casa, comendo ovos de chocolate. Vale lembrar que além do Vasco, que tem seu estádio, Flamengo, Fluminense e Botafogo pararam no tempo e vivem a se programar para pagar dívidas que se acumulam a cada ano. Que bom seria pôr 80 mil torcedores num estádio para recepcionar Cristiano Ronaldo, comprado por 80 milhões de euros. Mas aí é sonhar demais.