Desculpe,
Leio todas as seções dos jornais e percebo o quanto a literatura apostas suas fichas em novos talentos. Basta um Best Seller e estamos diante de um novo Saramago. Acontece também no cinema, teatro e nas artes plásticas. Aproveitam a ausência da Barbara Heliodora e elevam, sem um julgamento mais preciso, todos os dia um candidato ao estrelato. Que alcançam seus quinze minutos de glória na mesma proporção com que desaparecem já na peça seguinte. Mas depois de Firmino no comando do ataque da seleção, no Chile, Bill no comando do ataque do Botafogo, a escalação na Copa América do mais limitado lateral-esquerdo da sua história (um acinte a camisa vestida por Nilton Santos, Junior, Roberto Carlos, Marco Antonio e Marcelo), o nosso futebol se perdeu em um túnel tão obscuro que mal temos tempo de esperar o surgimento daquela luz. Bastou uma centelha acesa no sul-americano sub-17, notas dadas pelos nossos principais colunistas e radialistas sobre sua estréia num “clássico” da segunda divisão, Botafogo x Sampaio Corrêa, para os fiéis da bola ajoelharem. Nossos torcedores, como o povo judeu em Jerusalém cercado pela tirania romana, recentemente substituída pela da CBF, têm comparecido às mesquitas, às sinagogas erguidas como arenas da Copa a espera do surgimento de um novo messias de chuteiras. Que realize milagres dentro de campo, de preferência com a camisa 10, e nos ajude a recuperar a hegemonia perdida.
Já vi este filme antes nas páginas esportivas. O melhor jogador brasileiro dos dois últimos brasileiros, Éverton Ribeiro, depois de interromper seu ciclo para realizar sua independência financeira em petrojogos inexpressivos, regride ao ponto de sentar no banco para o limitado Elias. E ainda cobrar penalidade máxima com o calcanhar, como o fez contra o Paraguai, por absoluta falta de competitividade. Muito cedo, os clubes brasileiros abortam a gestação de seus craques, sacrificando rebentos que poderiam, num tempo certo de maturação, arrebentar dentro de campo.
Mas você, Luis Henrique, que sonha com o estrelato e joga futebol com categoria, não tem nada com isto. Está realizando a sua parte e precisa de tempo para se tornar um grande jogador. Difícil será convencer esta civilização da bola, oprimida pelos Blatters, chicoteada pelos Marins, a aguardar com paciência o surgimento de um novo Neymar. Este mesmo povo maltratado e oprimido que pode voltar na segunda feira das derrotas disposto a crucificar, como já o fez, um outro Messias.
José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.