Não existe mais o Maracanã nem estádios com capacidade para 100.000 torcedores, no Brasil. Seria esse o motivo maior para o afastamento do público nas partidas disputadas no país do futebol ? Penso que não. Podemos atribuir a muitos fatores, entre eles, talvez os principais, a qualidade do futebol praticado atualmente e a transmissão ao vivo, para a praça, incluindo aí os horários absurdos impraticáveis para quem trabalha.
O torcedor não quer se arriscar. Há falta de uma política de transporte que lhe garanta condução segura antes e depois dos jogos. Mesmo no Maracanã, bem localizado, o problema é sério. A segurança é precária, torcidas organizadas, falta de policiamento, má educação e o conforto de ficar em casa, aboletado numa poltrona, contribuem para que a mídia comemore público de 25 mil torcedores num Fla x Flu atual.
O dia 15 de dezembro de 1963 entrou para a história como a partida mais assistida de todos os tempos, em qualquer lugar do mundo. Decidia o campeonato carioca e o Flamengo entrou em campo com a vantagem do empate. Nelson Rodrigues, tricolor nato e hereditário, convocava em sua coluna todos os torcedores, vivos, doentes e mortos. E o Maracanã ficou pequeno naquela tarde de domingo.
Passaram pelas roletas do então maior estádio mundo 194.602 torcedores, o maior público de todos os tempos, em jogos de clubes, somente superado por duas partidas da seleção brasileira: Brasil x Uruguai, decidindo a copa do mundo de 1950 (199.854 presentes) e Brasil x Paraguai, pelas eliminatórias de copa de 1970 (195.513 presentes).
Classificado como público pagante o histórico Fla x Flu sobe uma posição, perdendo apenas para o jogo das eliminatórias (183.341 pagaram ingressos), no dia 30 de agosto de 1969, quando a seleção brasileira visou o passaporte para o mundial do México, onde conquistou o primeiro tricampeonato mundial e a taça Jules Rimet definitivamente.
Nenhum outro espetáculo foi visto ao vivo por tanta gente. E não era um espetáculo de primeira grandeza, nem um jogo dos mais interessantes. Apenas um – mais um – título de campeão estadual, entre os maiores vencedores desde 1906, ganho pelo Fluminense, primeiro campeão carioca. Os tricolores tinham 17 títulos contra 13 do Flamengo, que acabou campeão com o empate em 0x0.
Flavio Costa, que dirigiu a seleção brasileira na copa de 1950 e ganhou vários títulos com o Vasco, estava na Gávea, enquanto Fleitas Solich, o “mago”, como ficou conhecido pela torcida do Flamengo, depois de conquistar o tricampeonato de 1953-54-55, estava do outro lado, no banco de reservas tricolor. Um duelo à parte no grande clássico.
Precisando da vitória para quebrar um jejum de oito anos sem títulos e ciente da vantagem que o empate lhe dava, o Flamengo manteve uma postura mais conservadora, preferindo arriscar menos que seu adversário, sabendo que a qualidade individual e coletiva dos dois times eram equivalentes. Não havia o chamado “favorito”.
Se o empate garantia o título ao Flamengo, o Fluminense foi buscar pelo menos um gol que lhe garantisse a volta olímpica. Optou pelo ataque desde o início, aumentado a pressão no segundo tempo, quando o time esbarrou nas boas defesas de Marcial, calmo ao extremo, que acabou contagiando seus companheiros e garantindo o título numa tarde de grande inspiração.
Os últimos dez minutos foram de total sufoco contra a defesa rubro-negra que teve em seu goleiro o destaque. Nos últimos minutos defendeu uma bola chutada por Escurinho, que garantiu o título. Após o apito final de Claudio Magalhães a cidade voltou a se vestir de preto e vermelho, com um sabor especial. Pela primeira vez o Flamengo foi campeão carioca decidindo com o Fluminense.
O Flamengo foi campeão com Marcial, Murilo, Luis Carlos, Ananias e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Espanhol, Airton, Geraldo e Osvaldo. O Fluminense jogou com Castilho, Carlos Alberto Torres, Procópio, Dari e Altair; Oldair e Joaquinzinho; Edinho, Manoel, Evaldo e Escurinho. A renda estabeleceu novo recorde brasileiro, com 57.993.500 cruzeiros.