Dentre
Meu avô, Diógenes Padilha, foi mais criativo. Em jogos do Fluminense me colocava ao seu lado para ouvir os jogos, eu tinha os 8 anos e não havia televisão, era no rádio que o nosso imaginário percorria os gramados do Maracanã. Quando o Fluminense atacava, aumentava o som do rádio, e eu guardava o nome do Escurinho, Valdo, Joaquinzinho e Castilho. Quando o adversário pegava na bola, abaixa o som e contava uma historinha. Fui crescendo assim, ouvindo jogos de um time só, o máximo permitido foi escutar o nome do goleiro adversário a ser batido. E Marcial e Ubirajara eram nomes de inimigo. Quanto aos meus netos, pai e avôs tricolores e mãe rubro-negra, depois de muita luta, intervenção das tias, pressão dos tios, reunião com psicólogos, chegaram a um acordo para manter a sagrada união em família: para o Eduardo, a camisa do Cruzeiro. A outra, destinada ao Felipe, foi a do Brasil. Melhor assim.
Escrevo tudo isto porque ontem, finalzinho da tarde, lembrei-me do Yago. Que menino esperto, bonito e eletrizado o neto do Betinho Barbosa e da Regina, filho da Aline e do Filipe. Quando o Vasco fez o seu gol de penalty, faltando menos de 15 minutos para acabar a decisão, pensei em encontrar sua irradiante alegria na carreata do título. E imaginei que, finalmente, depois de viver uma saga de vice, só assistir ecoar um título de segunda, seus pais e avós iriam levá-lo para uma festa onde seriam atores principais, de bandeiras erguidas, não mais secundários protagonistas, a manter aquela camisa bonita outra vez escondida na gaveta. Aí vem aquela bola cruzada na área e… O futebol é assim mesmo. Um esporte mágico, inexplicável, cujo senso de justiça desconhecemos, apenas xingamos seus eventuais sentenciadores de apito na boca. Um gol impedido às vezes rouba mais que um título, tira mais que o pirulito da boca de um menino. Às vezes ele pode tirar o fascínio de um ser em formação se tornar mais uma exceção vascaína. Afinal, que graça teria neste país se todos caminhassem em uma só direção, votassem na mesma pessoa, ocupassem todo o anel externo da vida da gente sem a menor diferença diante da rotina de torcer por um clube só?
José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.