As coisas acontecem, a gente se surpreende, fica irritado, pensa em largar tudo mas entende que a luta deve continuar. Se calar é pior, menos um e os caras vão tomar conta de vez. Então, vamos lá. Li no Lance de terça-feira, (05-03-13), com a manchete politicamente correta de “Lobby por bebida”, que um deputado baiano – havia um personagem de humor com esse nome, alguns anos atrás – apresentou um Projeto de Lei à Câmara Federal pretendendo regulamentar a venda de bebidas alcoólicas no interior dos estádios.
O Estatuto do Torcedor trata do assunto de forma direta, objetiva, clara, não permitindo a venda e consumo de “bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos violentos”. O deputado baiano quer mudar, não sei porque tanto interesse nesse assunto, permitindo a venda cerveja, a mais procurada entre os torcedores, desde que limitadas aos bares e lanchonetes, em copos ou garrafas plásticas. Ou seja, mudar o sofá de lugar. Pior que isso, o texto tem apoio do Ministro do Esporte Aldo Rebelo.
Rebelo, político de carreira, aparentemente um cidadão sério, diz que poderíamos adotar o modelo inglês, alegando que a violência é praticada por torcedores fora do estádio, nas ruas, e que é necessário reforçar o policiamento nesse setor. Ministro, nem tudo que é bom para o inglês serve para o brasileiro. A única coisa que vem dando certo no Brasil é a Lei Seca, por enquanto, copiada dos Estados Unidos e outros países da Europa. Por que dói no bolso, não por conscientização. Tire as multas e o senhor vai ver o resultado.
Aliás, não sei porque o Ministro do Esporte não é um cidadão da área, como Oscar, Zico, Hortência, José Roberto Guimarães, Bernardinho, Carlos Alberto Lancetta, aliás o mais indicado, uma pessoa do ramo, que conhece os problemas, sabe as soluções, tem interesse no avanço e pode criar uma política séria e verdadeira para o esporte brasileiro. O que ficou de legado da administração anterior, que possa trazer benefício aos esportes olímpicos, lembrando que o País irá sediar os Jogos de 2016 ? Absolutamente nada.
O problema da bebida alcoólica nos estádio é unicamente comercial, financeiro, envolve muito dinheiro. Deveria ser tratado de outra forma, olhando o lado do torcedor que se sente ameaçado por um bando de desordeiros que viram super-homens sob efeito de cervejas sem limites. Esse é o ponto crucial da questão. Ninguém bebe no cinema, teatro porque o cidadão sai de casa para se divertir, o que não acontece com essa gente que freqüenta estádios de futebol. É por aí que o problema tem que ser encarado e resolvido.
O deputado baiano pergunta qual a diferença de beber fora ou dentro do estádio. Eu não li isso, não acredito. Ora, deputado, o senhor quando vai ao estádio, se é que vai, fica na tribuna de honra, com certeza. Um erro, porque o senhor deveria e pode pagar ingresso, mas deixa pra lá. Estamos falando de desordeiros, gente perigosa, o senhor não conhece isso. Se beber fora, não deixa entrar, simples não ? Se beber não dirija, deu certo, não foi ? Então, por que o senhor não cria o “Se beber não entra” ? Defender esse tipo de ação fica parecendo que o ilustre deputado está a favor da indústria de cervejas, o que, suponho, não é o seu caso.
Não conheço seu trabalho, sua trajetória política, seu conceito, mas faço votos que sua posição seja alterada, depois de alguma reflexão. O senhor precisa usar a confiança que seus eleitores depositaram em suas promessas de campanha e usar sua condição de representante do povo para resolver os problemas dessa gente sofrida, não de meia dúzias de empresários. Já basta a televisão lutando para que os estádios virem um grande botequim para vender cerveja. Eles vendem comercial, por sinal muito caro, o que não é o seu caso. Pense nisso.