Não diria que tenho vergonha de ser jornalista, com 21 anos de reportagens dentro de campo, cobertura de clubes e seleções, muitas conquistas como testemunha e milhares de páginas a escrever. Como, aliás, tenho feito sem a mínima vaidade de me tornar um escritor, o que na verdade nunca esteve em meus planos.
Quero sim, mostrar como era no nosso tempo, quando era obrigação do jornalista escrever ou falar tudo que visse e fosse do interesse do leitor/ouvinte. Era assim. A gente disputava uma notícia como se briga por um maço de cigarros dentro de um presídio. O “furo” existia e ai daquele que não corresse atrás dele. Perdia o emprego.
Não tenho vergonha, repito como outros colegas da minha geração não devem ter. Penso até que sentem o mesmo orgulho que tenho quando lembro aqueles tempos em que valia a pena correr atrás de uma informação. Não aquela que nos deixava feliz, mas a que interessava ao nosso verdadeiro patrão, você amigo leitor.
Já eramos investigativos. E sabíamos disso. Nenhuma notícia era divulgada sem a devida checagem que poderia durar dias ou semanas. Isso a trinta anos atrás. Muito antes de se criar essa bobagem de “repórter investigativo” que inventaram sabe-se lá porque e para que. No fundo sabemos, mas deixa prá lá, não vamos perder tempo com isso.
As mudanças começaram quando descobriram que os “ex-tudo” sabiam mais que os profissionais. Vieram primeiro os jogadores de futebol e na esteira deles todos os demais “ex” de outras modalidades. Inventaram o “convidado” para burlar a lei, já que não podiam atuar legalmente como contratados, até serem enquadrados no “jeitinho”.
Ali os jornalistas profissionais começaram a perder espaço para esse embuste vergonhoso adotado pela televisão. Aos poucos os bons repórteres e comentaristas foram perdendo espaço e acabaram cedendo a vez para os amiguinhos de diretores e foram se formando as “panelinhas”, muito atuante nos dias de hoje e o Green Peace esqueceu-se de fazer a campanha “salvem os jornalistas”.
Afastados os verdadeiros profissionais não haveria mais retorno. Com a perda de João Saldanha, o último guerreiro, acabou-se uma linhagem que jamais terá espaço, diante de tanta mediocridade. Impossível pensar em outro jornalista de seu porte. Hoje Saldanha teria dificuldade para conseguir emprego, depois da consagração do monopólio jornalístico que marcou algumas décadas.
É verdade que o jornalismo esportivo não se preparou para enfrentar o que estava por vir. Foi um erro fatal. Vieram os abomináveis “manuais” que caíram como bombas no colo dos jovens universitários, candidatos a jornalista, usados como estagiários, ou cobaias, termo mais apropriado. “Diga isso e faça aquilo”, ouviam e se calavam diante da possibilidade de realizar o sonho do pai. Talvez o dele também. Mesmo contrariando e atropelando a gramática.
O resultado está aí. O jornalismo esportivo vive o apogeu da mediocridade. As transmissões esportivas, principalmente na televisão, são uma lástima. Não há quem consiga acompanhar determinados narradores e comentaristas, completamente despreparados que ganham para dizer o óbvio: tudo que aparece na tela, até mesmo um irrequieto “quero-quero”. Aquilo que você está vendo de casa.
Nada se contesta ou discute. Dizem o que você, amigo leitor, quer ouvir. De preferência se agradar aos torcedores da “praça” para onde a transmissão está direcionada. Seria cansativo, chato, eu me tornaria um deles, se tentasse repetir agora as sandices que tenho o hábito de anotar. Talvez para um novo dicionário. Sim, eles criaram um novo idioma, o “idiotês”.
Vou citar apenas um, que considero clássico, bastante copiado pelos coleguinhas “comentaristas”. Os caras estão trabalhando no estádio, vendo o jogo. Você em casa quer saber o que está acontecendo a centenas, milhares de quilômetros, quando um lance duvidoso dentro da área o deixa preocupado. É contra o seu time, você paga PPP, o que diz o comentarista ?
– EU NÃO DARIA.
Claro, meu caro Watson, você não pode marcar, só o árbitro. Você está na cabine, ou fazendo “geladão” (transmitindo do estúdio, muito usado atualmente). Você ganha para tirar nossas dúvidas, em casa. Ganha para isso, não para agradar ou ficar em cima do muro. Se não sabe dá a vaga para quem conheça as 17 regras, simples.
Grande Iata
Luciano do Vale e Osmar Santos mataram a profissão. na tv e no rádio, respectivamente.
Excelentes profissionais, idolatrados pela classe, sempre trabalharam contra a classe.
Como são tolos e vassalos os nossos colegas, sem o poder de discernir quem trabalha a favor ou contra eles!
Quando Luciano, “o trairão”, esteve nos Estados Unidos no início da década de 80 para transmitir os primeiros eventos da NBA. viu que ex jogadores de basquete dos EUA comentavam na TV.
Gostou do que viu e, copiador, colonizado cultural e submisso que sempre foi e é, trouxe a “novidade” para a Band.
Assim, essa emissora, que liderava o esporte época porque a Globo só transmitia as finais dos campeonatos, passou a contratar ex-jogadores famosos, artistas e celebridades a fim de participarem das transmissões e os fez mais importantes do que os jornalistas e radialistas, prática ainda em voga na televisão desse tempo até hoje..
Qualquer pessoa, desde que famosa, podia ser comentarista, que passou a ser peça descartável nas transmissões.
Ao mesmo tempo. foi reduzinda ao máximo a importância e a participação dos repórteres que passaram a se constituir em meros complementos das transmissões e obrigados a participar o menos possível das jornadas..
Os repórteres viraram, exclusivamente, informadores de substituições durante as jornadas, função que qualquer principante ou foca poderia exercer.
No rádio Osmar Santos, lobo com pele de cordeiro, já agia da mesma forma, em detrimento dos dois melhores comentaristas do rádio paulistano que com ele trabalhavam, Loureiro Júnior e Carlos Aymard.
O processo de achincalhe e desvalorização da classe veio a partir daí, passando pelos abomináveis “off-tube” adotados até pelas maiores emissoras do país que acabaram com a credibilidade e a importância do jornalismo esportivo no Brasil.
Rivelino(s), Clodoaldo(s), Gerson(s), Miller(s), Edmundo(s) Romário(s) Tostões, Casagrande(s), Caio(s) e tantos outros a quem admirei e revereciei como grandes jogadores de futebol (exceto o mediano Caio) nenhum deles deveria estar no rádio na Tv e no Jornal ocupando o lugar dos verdadeiros homens de comunicação.
Iata, você tem toda a razão. O jornalismo esportivo brasileiro acabou.
Basta que se oiuça os atuais narradores de rádio e tv e os compare com os antigos.
Nenhum narrador atual, nenhum mesmo, seria digno de lustrar ou de enxugar o microfone de Dodô que aparece na foto ilustrativa do blog, grande amigo meu e com quem tive o prazer de trabalhar na Rede Associada de rádio.
Sobre comentaristas restam os antigos que sobreviveram mas entre a renovada classe de repórteres nem é preciso dizer nada. Quem são eles para serem comparados a um Luis Fernando, a um Osvaldo Serrano, a um Wilson Lucas, a um Washington, a um Denis Menezes, a um Kléber Leite e, permita-me fazer justiça, a um Iata Anderson.
O rádio está restrito e desacreditado, sem os grandes patrocinadores de outrora e a Tv, medíocre, cheia de (como diz Hélio Fernandes) de gritadores esportivos.
Perdoa-me se critiquei algum amigo seu, mas esta é a minha opiniçao.
Grande abraço e fique vivo.
Alcides Drummond