Difícil mesmo foi para Evaristo Macedo jogar no Barcelona e no Real Madrid. Do Rio de Janeiro para a Espanha, era preciso se exibir por lá em amistosos, convencer os diretores dos mais ricos clubes de futebol do mundo de que o jogador que estava embarcando da Gávea não era uma promessa. Mas uma realidade. Foi demorado, dezenas de reuniões e contatos foram feitas, propostas e contrapropostas eram acompanhadas pelos jornais, mas Evaristo chegou lá, venceu e se tornou uma lenda no futebol espanhol.
Fácil foi para Vinícius Júnior ser vendido para lá. Com tanta carência de novos craques, mal esperaram sua maturidade. Fizeram um vídeo bonito cheio de boas jogadas, postaram no Whatsapp para chegar mais rápido por causa da janela européia e alcançaram um valor indecente pelo o que apresentou em campo até agora. Como uma manga bonita que desponta na árvore de uma Copinha, é cobiçada em um mundial Sub-17 em que poucos são testemunhas, tratam longo de embrulhá-la num jornal a forçar seu desabrochar. E quando realizam as primeiras jogadas, valendo três pontos e se posta à mesa, o sabor passa longe daquela cobiçada fruta colhida no pé e degustada no tempo certo de maturação.
Com 17 anos, pela primeira vez em sua história, um Vasco x Flamengo apostou nos pés de seus dois meninos, o outro foi o Paulinho, a responsabilidade de decidirem o primeiro clássico do futebol carioca. Imaturos, afoitos diante dos goleiros, sem a confiança em si mesmo, dos companheiros e da torcida, poderiam até serem coadjuvantes em meio às estrelas dos seus times. Jamais a atração principal. E o 0x0, em uma tarde nublada, foi a justa nota final de quem não se preparou o suficiente para se impor e decidir o clássico.
17 anos. Como Vinícius Junior, Negueba, um bom jogador, surgiu assim. E Berico, desapareceu assim. Fio Maravilha, pelo menos, virou hino, mas nenhum deles foi trabalhado, treinado e cultuado para ser um Zico. Arthur Antunes Coimbra chegou à Gávea aos 16 anos. Estreou aos 19 anos, se firmou no time titular aos 22 e foi convocado para a seleção brasileira, pela primeira vez, aos 23. E atingiu seu auge aos 28, quando levou o Flamengo a ser campeão mundial de clubes, em Tóquio. Aos 29 anos, então, alcançou a plena sabedoria ao fazer parte da lendária seleção de 82, comandada por Telê Santana. Tudo ao seu tempo e a espero do seu melhor momento.
Nossas divisões de base, no entanto, continuam com sua mangueiras frutíferas pelos terrenos de suas diversidades, a produzir a mais saborosa das nossas matérias primas. O problema é que os empresários, ávidos por dinheiro e apaixonados pelo Poker, vivem a blefar com novas cartas, craques e manga. E quanto a você, pagaria para ver as jogadas que este menino colocará no feltro do Maracanã e do Santiago Bernabéu? Ou ele vai acabar jogando no Sport e depois dispensado pelo Coritiba?
José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.