Fabio Carille trocou o Corinthians para dirigir o Whida Clube, de Meca, que pode ser uma aventura “Das Arábias” considerando as dificuldades que encontrará para treinar um time pequeno, numa cidade impedida para não muçulmanos, calor sufocante no verão e congelante no inverno (em Tabuk, ao Norte, neva muito), costumes e idioma, barreiras que podem ser vencidas com o tempo, basta o auxilio de um bom tradutor, infra-estrutura modificada e o empenho do governo em apoiar o esporte mais popular do país. Fundador da Federação Saudita, com o Itehad, o Whida nunca foi campeão nacional e sua saga tem sido lutar para não ser rebaixado. Foi campeão da Segunda Divisão, com 58 pontos, seguido do Al Hazm, com 53.
Venceu 17 jogos, empatou 7 e perdeu 6, voltando a elite. Terá todo apoio para disputar as primeiras posições, com suporte financeiro para não atrasar salários, construir CT, que não era um problema, na verdade, e contratar até 7 jogadores. Dia 13 de outubro de 1988 desembarquei em Jeddah, indicado por Carlos Roberto, para ser preparador físico do time dirigido por Jairzinho “Furacão”, que discutia com o presidente Abdula Sabah se aceitava ser coordenador de todas as categorias do clube. Após três dias de exames médicos rigorosos iniciei o trabalho de campo com o auxiliar técnico Kaled Gizane, substituído pelo egípcio “Mr. Mimi”, que gostava de trabalho físico/técnico com bola, que me obrigou a refazer o planejamento. O Whida tinha um campo artificial na sede, próximo à entrada principal para Meca, onde eu não podia entrar. Tinha que rodar 45 minutos na van do clube que levava o material de treino, por uma estrada secundária. Usando o centro da cidade seriam 15 minutos. Carille deverá morar em Jeddah, segunda maior cidade saudita, com excelente estrutura mas terá que sair da estrada principal (só para muçulmanos) para chegar ao “Sharaia” estádio e local de treinamento do Whida, cerca de 90 quilometros.
O grupo era semi-profissional, formado por Jairzinho com a maioria da base do clube, um centro-avante Abdala Khoughir tirado do vôlei e seis agentes penitenciários, ótimo emprego que garantia a sobrevivência mas afastava o pessoal dos treinos, que não gostavam muito, aliás. Foi uma grande aventura, curti muito, fiz amigos, como os irmãos Kêmel ( que ficou sendo meu “tradutor”) e Samia, universitários, Yaser, nascido em Meca, jogadores e funcionários do clube.Um dia visita de Mohamad Ali, maior pugilista da história, que foi a cidade sagrada e visitou a sede. Conheci e respeitei as regras do Ramadam, vi tempestade de areia, aprendi a gostar da comida com curry e entender que as pessoas são felizes quando estão determinadas a isso. Dia 5 de janeiro o time fez a última partida em Damam, precisando vencer o Howda para permanecer na primeira divisão. Com febre, o médico não me deixou viajar. Às cinco da manhã o time chegou, torcida fazendo barulho, foi quando eu soube que tínhamos vencido, com um gol de Khoughir. Voltei a Arabia na temporada seguinte, para o Hilal, gigante de Riyadd, maior clube saudita mas a guerra do golfo interrompeu a continuação do meu sonho. Fotos de arquivo: Currasco em Jeddah, tradicional; Com Younes e Rabit; Visita de Mohamad Alli ao clube.