Há muitos anos deixei de acompanhar e torcer pela seleção da CBF/Globo, exatamente por essa razão. Gostava quando ela pertencia ao povo, a gente ia para as ruas pintar o chão, passava as noites cortando e colando bandeirinhas, era tudo espontâneo, sem interesse, ninguém ganhava dinheiro com aquilo. Coincidência ou não, depois que o time passou a ter donos alguns torcedores tornaram-se profissionais e foi tudo por terra. Até o tricampeonato estava tudo sincronizado. O pessoal jogava, dava show, formou-se o melhor time de todos os tempos, a gente torcia, curtia, brincava e tirava onda. Tinha orgulho de usar uma camisa amarela, que virou símbolo da nossa soberania nos gramados de todo o planeta. O que, na verdade, não foi bom para o orgulho nacionalista de milhões de brasileiros, aos quais me incluo. Mas isso é outra história, que está sendo reescrita, felizmente. Depois de 1970, ainda vimos o verdadeiro futebol brasileiro desfilar em campos espanhóis, até o “desastre de Sarriá” enterrar, definitivamente, o futebol arte que nossos jogadores praticavam. Zico, Falcão, Junior, Leandro, Cerezo, Sócrates, entre outros. Vieram o tetra e o penta, que poucos de memória privilegiada podem escalar, passando pelo grande fiasco do México, 1986, um time cheio de problemas, sem o astro maior, Zico, machucado, chegou ao limite e viu, novamente a Argentina ser campeã do mundo, merecidamente, na copa de Maradona, então reinando em campos mundo afora. Até então, dois ou três jogadores atuavam em times europeus. Veio a segunda copa perdida em casa, única grande potência com essa marca vergonhosa, e a estrondosa derrota para a Alemanha por 7×1, um novo “maracanazo” que feriu profundo o torcedor. Passaram-se quatro anos e nada foi feito além de trocar o treinador, ou não ? Felipão convocou 19 jogadores que atuavam fora do país e 4 (Jefferson, Victor, Fred e Jô) todos reservas, jogando por aqui. Tite chamou 20 “estrangeiros” e 3 (Cassio, Fagner e Geromel) da casa, provavelmente todos reservas, novamente. Para as duas copas quem mais cedeu jogadores foi a Inglaterra: Chelsea (2014) e Manchester City (2018), quatro convocados. Coincidência, tendência, o que for, não pode ser melhor que ter o grupo reunido com o mesmo modelo de treinamento, sistema de jogo, facilidade de idioma, ao lado do torcedor que cobra, esse sim, importante, mais que aquele que ganha camisa amarela de patrocinador para dizer que é brasileiro com muito orgulho, baita mentira. Uma coisa não se pode negar, desde o “lazaronês” o padrão de comunicação piora a cada quatro anos. É duro ouvir “TU VAI”, “TU FAZ”, um chute na conjugação tão ou mais potente que a canhota do Rivelino. São detalhes, apenas, dirão os menos exigentes. Importa é ganhar em campo. Não acho tão fácil assim. A quantidade de jogadores “estrangeiros” não muda o meu humor. O que me incomoda é ouvir, novamente, que a seleção brasileira, ou a “família Tite”, como queiram, provocara o cheirinho de hepta. Acho bom tomar muito cuidado com a Alemanha a Espanha e um time que tem Messi.