JORNALISTA TORCEDOR TEM EM TODO LUGAR

Tenho lido muitos comentários a respeito do relacionamento da imprensa com a seleção brasileira e a espanhola. Daniel Alves, com quem conversei uma única vez durante sua recuperação numa academia na Barra da Tijuca, criticou firmemente alguns jornalistas do diário AS, que tem preferência pelo Real Madrid. Dani não gosta, e foi bem claro, dizendo que os da capital são torcedores. Hoje (sábado, 29) ele criticou uma minoria da imprensa brasileira por destacar os últimos títulos da Espanha.

Ele prefere uma imprensa serviçal, subserviente, dependente, bajuladora. A propósito, tenho acompanhado desde a abertura da copa das confederações, a mesa redonda da ESPN, à noite, Linha de Passe, de excelente qualidade, ótimos profissionais, do jeito que eu gosto, inclusive o velho companheiro do meu inicio de carreira, cobrindo o América, José Trajano. É um time excelente, grandes profissionais, um programa para quem quer ouvir o que está acontecendo, não o que querem que eles digam.

Não é só Daniel Alves. Quase todos os profissionais do futebol têm esse defeito. Você passa vinte anos dizendo que o sujeito é o melhor do mundo. Quando disser que  jogou mal um dia, ele diz que você quer prejudicá-lo, f … a carreira dele. Por sinal, esse é o verbo mais usado.  Claro, produto do despreparo, pouca cultura, bajulação, falta de orientação. Largam a escola muito cedo, ficam milionários prematuramente, há muita fartura de marias chuteiras, enfim, querer mais o que ?

Gosto do Mauro Cezar, por sinal de Niteroi, mas discordo de uma de suas opiniões – um direito dele, claro – quando diz que a imprensa espanhola é mais torcedora que a brasileira. Torcem, sim, Mauro, chutam, gritam por seus times e, principalmente pela seleção. Por ela, até certo ponto justificável para quem saiu de uma fila de muitas décadas para se tornar a melhor do mundo, em tão pouco tempo. Esse orgulho eles não disfarçam, com inteira razão.

Por outro ponto, concordo em todos os graus e gêneros com Mauro quando ele diz e repete sempre que pode, que a função do jornalista é informar, não torcer. É um absurdo o que está acontecendo nas transmissões esportivas, principalmente aqui no Rio, nas televisões e rádios. Torcedores profissionais, com honrosas exceções, estão fazendo um papel ridículo, tentando captar audiência, agradar aos patrocinadores e, não duvido, fazer o jogo da CBF. Deprimente.

É uma bandeira que utilizo há muito tempo. Aprendi com o mestre Waldir Amaral, o maior chefe de equipe que teve o Rio, que dizia para quem se manifestasse além do dever profissional: “lugar de torcedor é na arquibancada”. Cansei de ouvir nosso grande chefe repetir essa frase. Infelizmente os tempos mudaram, o futebol carioca faliu, as transmissões estão insuportáveis, salvam-se poucos remanescentes do período de ouro do rádio carioca. Triste fim.

O problema não é torcer, nem ser obrigado a torcer pelo Flamengo, Corinthians ou mesmo pela seleção brasileira. Não escondo de ninguém que torço e acompanho o Real Madrid sempre que posso. E tenho grande admiração pelo futebol que pratica hoje a seleção de Del Bosque, como o Barcelona. Isso é uma coisa, e não me preocupo com o que pensam. É um direito meu. Torço para quem eu quiser. Mas sei separar as coisas. Disso eu não abro mão.

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