ARBITRAGEM FOI DESTAQUE NA TAÇA GB

Uma coisa ficou bem clara depois da final da Taça Guanabara, vencida pelo Fluminense. Pelo menos para os desportistas de bom senso e Jorge Rabello, presidente da Comissão de Arbitragem da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, com quem conversamos, em sua sala, antes da reunião com a comissão técnica. Visivelmente contente com as últimas arbitragens, não escondia o orgulho de comandar um departamento que tem sido modelo para o resto do país.

– Queremos melhorar sempre, essa é a nossa meta. Mas não podemos deixar de reconhecer que foram três arbitragens muito boas, nas semifinais e na decisão. O Indio  (Luis Antonio Silva Santos)  o (Pericles) Basols, nas semifinais, e o Marcelo (de Lima Henrique) na decisão deram o melhor e o resultado foi positivo.

Qual a formula do sucesso da arbitragem no Rio ?

Não chamaria de sucesso mas estamos  felizes com os resultados obtidos até agora. Temos trabalhado muito ao lado de profissionais competentes e interessados em melhorar a cada temporada o nível da arbitragem carioca e brasileira. Não há formula mágica mas muito trabalho, conscientização, a busca pelo melhor.

Como você tem administrado as críticas ?

Numa boa, desde que sejam construtivas, sérias, com intenção de ajudar. Infelizmente não tem sido assim, na maioria dos casos. Alguns profissionais querem bater sem saber, sem competência para isso. Não vai adiantar nada. Temos respaldo do presidente Rubens Lopes e vamos continuar o nosso trabalho.

Você pegou pesado contra o Fluminense !

Eu não falei da instituição Fluminense, mas de algumas coisas achei por bem lembrar aos torcedores, na medida em que o nosso trabalho foi duramente criticado por pessoas que não conhecem o que estamos realizando nem a responsabilidade de dirigir um departamento como o de arbitragem. Penso que a conquista da Taça Guanabara foi uma boa resposta para essas pessoas. Algumas colocações parecem feitas para desestabilizar o nosso trabalho, o que não vão conseguir.

Pode dar um exemplo ?

– O tempo técnico é mais uma vitória do nosso trabalho. Pergunte aos treinadores. O Joel Santana sugeriu que fossem três minutos, o Vanderlei Luxemburgo acha que poderia ser um tempo para cada treinador, a critério de cada um, outros apresentaram outras idéias. Enfim, eles gostaram e aprovaram. Nas divisões de base, onde os garotos jogam pela manhã, os próprios pais elogiam esse medida, que já consideramos vencedora e poderá se ampliada à Europa e outros continentes. Recebemos muitos e-mails de pais elogiando a medida.

O AAA está consagrado, bela idéia !

Mas você sabe o quanto bateram na gente. Por interesses particulares, muita gente foi contra, mas não adiantou. A ideia foi consagrada e hoje é usada pela Uefa e aprovada no principal campeonato de clubes do mundo, a Liga dos Campeões.

O que a International Board queria modificar ?

O Sr. David Macvicar representante da IFAB, esteve no Brasil em 2011 acompanhando os trabalhos desenvolvidos sobre o AAA em São Paulo e no Rio de Janeiro, e  ficou bastante impressionado com trabalho técnico desenvolvido, chegando a afirmar que dos trabalhos que tinha tido a oportunidade de observar até aquele momento, o do Rio de Janeiro era o melhor formatado.

Queriam mudar por mudar ?

– As pessoas no Brasil precisam entender que a FIFA/IFAB, não é o Olimpo, essas entidades são constituídas por pessoas que erram e acertam como nós seres humanos normais, portanto, podem e devem ser questionadas e desafiadas sim, dentro da legalidade das regras do jogo. Pior do que determinar a troca de lado dos AAA, é não fundamentar, ou seja, quero que faça e pronto ora, comigo não funciona ou me convence tecnicamente ou não faço, podem não gostar, podem me criticar, podem mandar email para os comentaristas de arbitragem, mais aviso, trata-se de um experimento, e mais, um experimento repito, que começou no Rio de Janeiro em Abril de 2008, portanto, os AAA nas competições do Rio de Janeiro continuarão na posição original.

Que tipo de argumento foi apresentado ? 

– o único argumento era que a UEFA tinha alterado a centenária diagonal do árbitro central, ou seja, ao colocar o árbitro central do lado esquerdo (olhando para o gol do centro de campo) a UEFA mudou o posicionamento do árbitro central para o lado direito e a IFAB achou essa situação muito perigosa para o futebol.

Muito pouco para querer mudar uma coisa que está dando certo.

 – Sendo esse o problema, e eu disse isso pessoalmente ao Mr. Macvicar, bastava apenas permanecer com árbitro central em sua diagonal centenária e quando a situação do jogo exigisse o árbitro central se deslocaria até o lado direito na altura da meia lua da grande área tendo portanto ampla cobertura em ambos os lados. A arbitragem moderna exige que tenhamos a percepção para entender que a diagonal centenária dos árbitros tem que ser encarada, não mais, como um trilho (com deslocamento único e permanente) e sim, com uma trilha(com possibilidades de buscar novos caminhos quando assim a situação exigir).

Que problema poderia trazer essa mudança ?

O que acontece com o deslocamento do AAA para o lado direito junto ao árbitro assistente, não vou nem entrar no mérito da questão sobre o que pensam os árbitros assistentes a respeito, e recebi algumas mensagens nesse sentido, esse deslocamento do AAA, criou uma “zona cega” no campo de jogo, uma parte do campo na diagonal do árbitro que dependendo da situação o árbitro central ficará impossibilitado da tomada de decisão com segurança e pior não terá ninguém para auxiliá-lo, já que, o AAA estará do outro lado da meta.

Quem teve a idéia de tirar a prorrogação nas decisões ?

– Isso está no regulamento da competição. Já fazíamos isso nos campeonatos sub-15 e sub-17, trocando a prorrogação por cobrança da marca do penalti, em qualquer empate, para que haja sempre um vencedor. Esse time ganha dois pontos, se vencer nas cobranças. Assim não há o desgaste físico e os meninos vão se acostumando com essa situação, que é de muita responsabilidade.

Você continua recebendo pressão externa ?

Isso não vai acabar nunca em nosso país. Onde houver alquém querendo fazer a coisa certa vai aparecer alguém querendo atrapalhar. Há muito interesse em jogo, mas não adianta que não vão conseguir nada. Aqui não há veto a árbitro em hipótese alguma. Há sim, bom senso. Se houver um trabalho que possa ser avaliado como ruim vamos trabalhar em cima dele. Corrigir os erros. Não haverá interferencia nesse processo.

Dizem que o árbitro nunca é punido, isso é correto ?

Um erro pode ser corrigido sem punição. Aqui nos reunimos após os jogos e mostramos os detalhes que nos interessa discutir. Temos uma ilha de edição que edita todos os lances importantes dos árbitros, onde mostramos e discutimos posicionamento, que é a grande problemática do jogo, os cartões, tudo que for necessário discutir. Além do técnico dos árbitros, que atuam no tempo técnico, e tem nos ajudado muito.

Há o que se comemorar após a Taça Guanabara ?

Sim, claro. O resultado de um trabalho difícil, que exige muito esforço e dedicação. Esse grupo trabalhou duro fazendo pré-temporada, se concentrou antes dos jogos decisivos, ouviu palestras, sacrificou sua vida pessoal, como nunca foi feito antes aqui no Rio. Temos hoje os árbitros mais bem condicionados do Brasil, tenha certeza disso. As pessoas precisam saber disso, que há um trabalho sério sendo realizado.

O Indio fez uma grande partida na semifinal, por que está fora do quadro da CBF ?

– Ele mesmo pediu para ser afastado, aborrecido com alguma coisa. Talvez não estivesse num bom momento pessoal e tomou essa decisão. Hoje, com mais quatro anos para apitar, amadureceu muito é um dos melhores árbitros em atividade. Vamos tentar seu retorno ao quadro nacional e tenho certeza que isso vai acontecer.

 

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