Jogadores relembram decisão histórica

Reunidos para comemorar os 78 anos de Pinheiro, alguns amigos lembraram que aquele almoço tinha um sabor especial. Quatro deles haviam disputado a final do campeonato carioca de 1957, que teve a maior goleada de todos os tempos em jogos decisivos. Mais que isso, o Botafogo ganhava o seu primeiro título no Maracanã, com mais de 100 mil pessoas assistindo a uma das maiores partidas de Garrincha. Adalberto, goleiro alvinegro, lembra detalhes da histórica decisão, disputada no dia 22 de dezembro, com exatos 89.100 pagantes.

Adalberto Leite Martins foi indicado por Paulo Amaral e estreou faltando dois jogos para começar o campeonato, que era disputado em dois turnos, por pontos corridos.

– Eu tinha saído do Fluminense para o Santos, onde fiquei  dois anos  (1955 e 1956). Quando retornei ao Rio, Amauri era o goleiro titular do Botafogo mas acabei jogando. E nossa estréia foi exatamente contra o Fluminense, abrindo o campeonato daquele ano. Perdemos por 1×0, gol do Waldo e Didi perdeu um pênalti, defendido pelo Castilho.

A FINAL VALEU COMO REVANCHE ?
– Podemos dizer que sim. Naquela final o Fluminense tinha um ponto na frente do Botafogo, ou seja, jogava pelo empate. Além disso tinha um time muito bom com Castilho, Cacá, Pinheiro, Waldo, Escurinho, jogadores de alto nível.

MAS ACABOU ATROPELADO PELO BOTAFOGO
– É. Mas esse jogo teve um lance que considero muito importante e hoje não se fala mais nele, pelo resultado final, a goleada e a grande exibição do Garrincha, Paulinho, Didi, todo o time. Na verdade eu não tive muito trabalho, mas vi de perto uma entrada violenta do Tomé em Jair Francisco, dentro da érea, que o (Alberto da Gama) Malcher não marcou. Foi um pênalti escandaloso e estava 0x0. Aquele lance poderia ter mudado a história daquele jogo, pois, como já falei, o Fluminense tinha um timaço.

QUANDO COMEÇOU A PINTAR A GOLEADA ?
– Nós fomos para o vestiário com 3×0 no primeiro tempo. Mesmo assim o (João) Saldanha, que não falava muito, só o necessário, disse para o time não relaxar e jogar com o Mané. Aliás, o primeiro gol saiu com ele. O Magro (Altair) subiu e deixou a lateral descoberta. Eu peguei a bola  e joguei por cima dele, para o Garrincha que se encarregou do resto. Deu limpinha para o Paulinho fazer o primeiro. Aí abriu a porteira não teve mais jeito de segurar nosso time. Apesar de não ter feito uma grande partida, foi um dos jogos mais importantes de minha vida. Meu grande jogo foi contra o Flamengo. Empatamos em 1 a 1 mas peguei muito, inclusive duas bolas do Dida, daquelas que a torcida comemora o gol antecipadamente.

Jair Marinho, Pinheiro, Adalberto, Altair e Cacá | Foto: Iata Anderson
A pior tarefa da inesquecível decisão coube a Altair Gomes de Figueiredo, o “magro”, como é chamado. Dois anos antes começou a carreira no Fluminense, jogando nos juvenis. Fez algumas partidas no profissional, em 1956, jogando de zagueiro, pela esquerda.

– Eu tinha 20 anos e jogava na zaga. O (Silvio) Pirilo me escalou na lateral porque não tinha jogador naquela posição.

Teve uma vaguinha na esquerda e eu fui.  Parece, não lembro, que jogava o Bassu ou o Bigode, não sei. Pouca gente sabe, mas não sou canhoto. Precisei me adaptar à posição, mas não tive problema, foi fácil. Até porque eu tinha jogado todo o campeonato por aquele lado.

Participar de uma final de campeonato estadual não é fácil. Enfrentar Garrincha muito menos, apesar de saber como ele jogava, sua principal característica.

– Todo mundo diz que ele só tinha uma jogada. Não é verdade. Garrincha era muito rápido e uma ginga que confundia o marcador. Passei muito tempo estudando sua forma de atuar.Quem o marcasse olhando para ele estava condenado a tomar um baile. E tomava mesmo. Eu tinha minha tática, que dava certo, às vezes. Quando ele ameaçava sair eu ficava de olho na bola, não olhava para ele. Depois dava o bote e tomava a bola. Claro que não era tão fácil assim, como estou falando. Fui driblado muitas vezes.

NENHUM OUTRO MARCADOR PERCEBEU ISSO ?
– Não sei, mas o Coronel (Vasco) e o Jordan (Flamengo) não se ligavam nisso e davam o bote.O homem dava um tapinha na frente e um abraço. Vai segurar. Não dava, ele tinha uma velocidade incrível. Se saísse na frente ninguém o alcançava. Vi os dois tomarem bailes fantásticos do Mané. Inclusive no filme dele mostra isso. Ele deitava e rolava.

Foto: Iata Anderson
NAQUELA DECISÃO VOCÊ SABIA DISSO ?
– Claro. Eu sabia o que ele fazia, na teoria. Na prática era outra coisa. Os russos também estudaram seus movimentos e não teve jeito.

QUAL A LEMBRANÇA QUE VOCÊ TEM DAQUELE JOGO ?
– O Mané entrou em campo e veio falar comigo, com aquele jeitão meio caipira. “Ô magrinho, hoje vou correr mais um pouquinho para ver como está o joelho, que anda meio baleado”. Aí fiquei mais tranqüilo. O homem estava machucado não ia dar muito trabalho. Deu tudo errado. Acho que foi o dia que ele mais correu. Não parava um minuto.

O PRIMEIRO GOL SAIU NUMA AVANÇADA SUA ?
– É verdade. Logo no começo do jogo eu vi um caminho aberto e fui. Nós tínhamos o Clovis e o Edmilson que marcavam bem, faziam cobertura. E o Pirilo tinha avisado para eu não deixar o Mané desmarcado. Acho que subi demais e perdi a bola, que acabou nas mãos do  Adalberto. Ele lançou atrás de mim e a bola foi parar nos pés do Garrincha. Aí não deu tempo de chegar nem a cobertura. Ele cruzou e saiu o primeiro gol, acho que do Paulinho.

PELO MENOS FICOU A LIÇÃO.
É verdade. Nunca mais dei o bote nele. Joguei mais umas seis partidas contra ele e acabei me tornando um dos seus melhores marcadores. Não dava pau nele, como diziam. Dava o carrinho na certeza e na bola, claro. Sempre o respeitei muito. Afinal, era um ídolo nacional. Mesmo assim não havia jeito. Só restava ficar torcendo para a bola não chegar a ele. Ou rezar.

Altair jogou quinze anos no Fluminense, única camisa que defendeu, além da seleção carioca e brasileira, onde foi campeão mundial em 1962, como reserva de Nilton Santos.

– Não participei do tricampeonato no México porque machuquei o joelho. Um dia antes da convocação fui  jogar um amistoso no Espírito Santo. Pisei num buraco e torci o joelho. Fui operado pelo médico Paes Barreto e não fui convocado, como quarto zagueiro. O Piazza acabou sendo deslocado e ficou na posição que era minha, segundo a imprensa. Depois de quinze anos defendendo o clube, o Fluminense não renovou meu contrato e parei de jogar.

Foto: Iata Anderson
Na outra lateral estava o jovem Cacá, formado nas divisões de base do América. Excelente memória, lembra detalhes  da época, principalmente da grande decisão contra o Botafogo.

– Nós fomos para aquele jogo com a vantagem do empate, pois tínhamos um ponto à frente do Botafogo. Além disso, o nosso time era muito bom. Mas naquele jogo deu tudo errado, sem tirar o mérito da vitória do Botafogo e da histórica atuação do Garrincha. Com certeza foi uma das maiores partidas de sua vida.

MANÉ DESTRUIU O SITEMA DE VOCÊS
– Com certeza. Numa jogada ele driblava Altair, Clovis, que vinha ajudar e Pinheiro que saia na cobertura dos dois. Só não me driblava porque eu estava do outro lado, vigiando o Quarentinha. Foi uma loucura aquele jogo. Não havia esquema que desse jeito. Basta lembrar que foi a maior goleada de todas as finais de campeonato carioca.

VOCÊ TINHA QUE TIPO DE ORIENTAÇÃO ?
– Seu Zezé (Moreira) pediu para eu marcar o Quarentinha, que era o grande artilheiro do Botafogo. Ela caiu pela esquerda e me prendeu. Mas sobrou o Paulinho (Valentim) que fez cinco gols e passou o Dida, do Flamengo, na artilharia daquele ano.
DEPOIS VEIO A RECOMPENSA.

– É verdade. Meu contrato terminou dia 31 de março de 1958 e fui para o Botafogo. Meu passe custava um milhão de cruzeiros e me pertencia. O Fluminense não quis pagar e me ofereceu 15 mil por mês e o Botafogo deu 28 mil. Por coincidência a primeira partida daquele ano foi contra o Fluminense e vencemos por 2×0.

O ENTROSAMENTO VEIO TÃO RÁPIDO ASSIM ?
– Nada. Eu tinha uma jogada combinada com o Telê, no Fluminense. Era uma tabelinha, pois eu apoiava muito. E a gente fazia  “um, dois” em cima dos laterais. Combinei com o Garrincha para fazer isso no Botafogo. Tomei uma bronca  do João Saldanha que lembro até hoje.  “Ô garoto, dá no Mané que ele resolve, não precisa treinar isso”.

E RESOLVIA
– Claro, era um fenômeno. Foi o maior jogador que vi porque não dependia de ninguém, de esquemas. Dava nele e estava resolvido o problema. Joguei quatro anos “atrás” dele. Era fácil demais. Vi coisas incríveis por aqui e mundo afora.

Jair Marinho não participou da histórica decisão. Cacá, em grande forma, era o titular da lateral direita, ele jogava nos juvenis. Naquele mesmo ano o titular foi vendido ao Botafogo e ele assumiu a camisa dois. Jogou no Fluminense de 1954 a l964.  Foi campeão do Rio-São Paulo, depois campeão carioca em 1959. Em 1965 foi para a Portuguesa de Desportos e voltou ao Vasco, em 1967, jogando da zaga com Brito, Fontana e Aldair. Foi emprestado ao Corinthians e parou de jogar em 1968.. Jair Marinho foi campeão do mundo com a seleção brasileira, em 1962, no Chile,  na reserva de Djalma Santos.

Pinheiro foi um dos maiores jogadores do Fluminense de todos os tempos. Uma  lenda. Vamos contar sua história mais adiante, com uma matéria especial.uma matéria especial.

3 thoughts on “Jogadores relembram decisão histórica

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