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Treinadores, jogadores e estrutura administrativa são os pilares de uma organização esportiva. Que bem planejada pode levar tanto a uma competição de casa cheia, como a Champions League, como a um campeonato ridículo e sem público como nossos últimos estaduais. Em ambos haverá uma poderosa mídia a elevá-la ou questioná-la. Para imaginar o que nos espera depois de julho, melhor analisarmos cada pilar.
Vamos por partes: treinador. Quem comandará nosso time será um técnico desprestigiado no atual cenário esportivo. Depois de ser demitido por Portugal, pelo Chelsea e pelo modesto FC Bunyodkar (dá onde será isto?), Luiz Felipe Scolari por aqui desembarcou derrubando o Palmeiras para a segunda divisão. Desde então ninguém queria mais o Felipão. Segundo analistas de todo o mundo, estava ultrapassado. A CBF contratou um treinador para realizar uma árdua transição, e o Mano Menezes fez isso com muita competência, montou uma base e depois foi demitido. Segundo nossa nefasta cúpula maior, era hora de trazer o Sargento Otto para cuidar dos recrutas. Trazer de volta, a famigerada família Scolari, que tem como vice o Cabo Murtosa, a apitar treinos e tomar conta das fugidinhas da concentração, uma verdadeira instituição nacional, inaugurada por Garrincha e continuada por Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Cia. O mesmo núcleo patriarcal que deixou Romário no Brasil e nos fez sofrer muito mais para trazer a mais fácil de todas as Copas. Qual o legado técnico que Felipão vai deixar para o futebol brasileiro pós Copa? Que inovação poderia nortear a nova geração como Cristovão, Mancini, Jayme de Almeida? Na Copa das Confederações, cuja novidade tática foram os bonequinhos do Caio Ribeiro, limitou-se a trocar o Fred pelo Jô, o Hernane pelo Hulk. Melhor não esperar nada daquele banco de reservas, que tem revelado um vovô propaganda muito mais eficiente que um técnico de futebol.
A seguir, os jogadores. Tudo o que possuíamos de melhor o futebol europeu levou. Depois do Pau-Brasil, do açúcar, do café e das minas gerais, o jogador de futebol se tornou a maior de nossas especiarias. E eles carregaram em suas novas naus tudo o que prestava. Ficou o Fred, uma valiosa mercadoria com prazo de validade perto de vencer, Jô, Jeferson e… bem, o que restou são as figurinhas do campeonato brasileiro que a Panini, de tão fáceis, preferiu ignorar e lançar apenas o álbum da Copa do Mundo. O que restou, nenhuma sequer carimbada ( lembram-se como era difícil encontrá-las para encher o álbum?) estará desfilando em estádios vazios e longe das bancas de jornais. E será com esta desvalorizada safra que vamos nos virar depois da Copa do Mundo. A atual é competente e favorita. Pena ser a ultima.
Finalmente, chegamos à CBF. Novas eleições estão marcadas, e os votos não serão milhares, secretos, como os que escolherão nosso (a) próximo (a) presidente em outubro. Serão de cartas marcadas, cedidos a presidentes de federações que já chefiaram amistosos internacionais e estão com lugares reservados para levar suas famílias e afilhados políticos para os camarotes das arenas. Você que não conseguiu ingresso nem para Inglaterra x Costa Rica, votaria contra eles? Enfrentaria tal máfia apostando em novos destinos para o nosso futebol?
Não queria tirar a alegria desta corrente pra frente que cada vez toma mais nossas telinhas, dá emprego às confecções, começa a decorar as janelas e, em breve, estará afixada como bandeirolas em nosso carros. Mas nunca é tarde para dar uma olhada no retrovisor e imaginar o que será do nosso futebol depois da Copa.. Apesar do Neymar, do Oscar e do Paulinho, mas sem legado técnico, de craques e organização, sujeitos a chuvas e trovoadas.
José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.