GUARDIOLA, DE GANDULA A MITO DO BARCELONISMO

Inimaginável para o modelo brasileiro que um treinador pedisse demissão depois de quatro anos dirigindo o melhor time do planeta, formado por ele, dentro de um projeto apresentado pelo clube, com a efetiva contribuição do melhor jogador do mundo e um elenco absolutamente fantástico. Mais que isso, sem nenhuma proposta concreta de trabalho. 

Pep Guardiola deixa o Barcelona entregue a seu auxiliar técnico Tito Vilanova conhecedor profundo do clube, do time, dos jogadores. Uma medida pouco usual no futebol brasileiro, nos termos da efetivação do futuro técnico culé. Aquela figura do quebra-galhos não funciona num centro altamente profissional, que sobrevive à maior crise financeira da Europa.

Técnico mais vencedor de um gigante do futebol mundial em quatro anos não é para muitos, ao contrário. Poucos foram tão eficientes quanto o jovem ex-jogador, discípulo de Johann Crujff, introdutor do modelo holandês no time catalão. Guardiola enfileirou seis títulos seguidos sendo duas Liga dos Campeões, dois Mundial de Clubes e o tricampeonato espanhol, quebrando a hegemonia do rival Real Madrid. Ganhou treze títulos em dezoito disputados.

Guardiola anunciou na sexta-feira que deixará o Barcelona após a Liga das Estrelas, como é conhecido o campeonato da Espanha. Foram quatro anos no banco de reservas, depois de passar de gandula a jogador, onde conquistou a torcida, usou a faixa de capitão e virou ídolo, até assumir o time que passou a ser referencia internacional, e se transformar no melhor Barcelona da história.

Guardiola nega essa afirmação, preferindo deixar que o tempo se encarregue de dar o exato valor ao super time que formou, capaz de dominar até os mais fortes adversários. O Barça impõe o ritmo do jogo, tem o domínio em todos os cantos do gramado, faz a bola rolar como se fosse sua velha conhecida. A movimentação e ocupação do espaço pelos jogadores beira à perfeição. Os números são frios mas exatos. Eles apontam na direção do mais ganhador de títulos da história do Barça. Isso ninguém tira.

Escolhido melhor treinador do ano na festa de gala da Fifa, ganhando a Bola de Ouro em 2011, Pep Guardiola viu seu trabalho reconhecido pelo órgão máximo do futebol, em recompensa ao trabalho que realizou desde as categorias de base até reinar na Espanha e na Europa, até levar seu time de coração ao posto máximo, em tempo recorde. Hoje não se discute se o Barcelona é o melhor time do mundo, mas se é o melhor da história.

Com sua decisão de deixar o Barcelona, Pep deve ter pensado que não poderia fazer mais nada por seu clube, que seu tempo havia expirado depois de deixar escapar a Liga dos Campeões e a Liga da Espanha. Decidiu que era hora de mudar, mas a curto prazo o estrago será muito grande para o Barcelona.

Um dos segredos de Guardiola para a garantia do sucesso passa por canalizar seu ferrenho e nato sentimento “culé”, convertendo junto aos torcedores catalães o caminho que levou à consagração do Barcelona como o melhor time da história, levando seu grupo a ganhar treze dos dezoito títulos disputados, desde que assumiu o comando do time, em menos de quatro anos, podendo conquistar, ainda, a Copa do Rei, dia 25 de maio no Vicente Calderón.

Foram muitos meses de espera sobre seu futuro, de espera sobre um possível “sim” que não chegou apesar de todo o esforço do Barcelona para mantê-lo por mais algumas temporadas. O Presidente Sandro Rossel chegou a admitir que ofereceria um cheque em branco para que Guardiola mudasse de planos e renovasse contrato. O jovem treinador, entretanto, tem outras metas e deu por encerrada essa etapa profissional no clube catalão para, quem sabe, retornar como dirigente ou presidente, outras questão que somente com o tempo saberemos.

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