Saía
Em São Fidélis, 78 km depois, fiquei sabendo que o temporal suspendera a partida. No posto de gasolina, e nos bares ao redor, não se tinha notícia sobre o filme. Impressionante o alcance do futebol, centenas de pessoas se aglomeravam e vibravam em torno de uma telinha. Mais à frente, em Itaocara, paro para tomar um café e revejo em um restaurante a bobeira do goleiro vascaíno, a bola retida na poça, o gol do Alecsandro. Ligo o carro e reinício a viagem e, num relance, percebo a entrada em campo de um guerreiro mongol. Alguma coisa estava errada. Mas o personagem principal do filme, cansado de ver preterida sua história por uma partida de futebol que nem era uma final, que mal respeitavam sua trajetória de conquistas, que o tornou um dos comandantes militares mais bem sucedidos da humanidade, deixou os campos de guerra e entrou naquele gramado encharcado disposto a ser visto. E derrubar um a um seus adversários. Levou pro Maracanã suas armas e esqueceu que lutavam não por territórios, mas por uma bola. Por um lugar no G4.
E foi em Santo Antonio de Pádua, já escurecendo, que vi cenas fortes, que decidiram a partida: Marcelo Cirino entrou na grande área e havia dois zagueiros a cercá-lo. Mas Ghengis Khan veio em sua fúria incontida e o atropelou. Atirou-o ao chão, como um grande guerreiro. Penalty. E ainda quis bater no juiz. Dada a saída, Paulinho faz falta em Bernardo, e novamente nosso guerreiro mongol, que se meteu no canal e na ação trocada, parte em direção a uma coluna de rubro-negros, disposto a derrubar todo mundo. Finalmente é expulso, some da telinha. Chegando a Além Paraíba, ninguém por lá no barzinho soube o seu destino. Dizem que foi brabo para um vestiário. Outros raros, fiéis à Record, dizem que morreu. Que entrou para a história. Uma como vilão, outra como herói.
José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.