FUTEBOL TERÁ UM NOVO CAMPEÃO DO MUNDO

Fonte: site as.com

Uma grande surpresa foi reservada para esta copa do mundo, realizada pela primeira vez no continente africano. E ninguém pode chamar de “zebra”, o que seria muito bem colocado, afinal, naquela área vivem  os equideos listrados, que entraram para o “futebolês através do técnico Gentil Cardoso. Mas não ficaria bem comparar Holanda e Espanha com os simpáticos animaizinhos.

O time laranja venceu todos os jogos das eliminatórias e derrotou seus  adversários durante o torneio mundial, incluindo Brasil e Alemanha, duas potencias que somam oito títulos conquistados. Cem por cento de aproveitamento levam o time comandado pelo fantástico meia Sneijder, inexplicavelmente dispensado pelo Real Madrid na temporada passada, à sua terceira final, depois de 1974 e 1978.

Foi exatamente na década de 1970 que a Holanda encantou o mundo com seu time maravilhoso, repleto de magníficos jogadores, muitos acima da média e um que entrou para a galeria dos gênios: Johan Cruijff, líder dentro e fora de campo, responsável pela movimentação da “Laranja Mecânica”, como ficou conhecida aquela seleção maravilhosa. Que era comandada por Rinus Michel, o último técnico a apresentar algo novo, taticamente, até os dias de hoje.

A cor laranja voltou a colorir os estádios e a surpreender o mundo do futebol, com seu toque de bola, dribles e futebol alegre, lembrando em muito a seleção brasileira, quando era do povo. Agora virou balcão de negócios, mercado livre e perdeu o encanto. Esse encanto que Robben apresenta, jogando pelas pontas e que faz lembrar a irreverência de Garrincha, quando tem um, dois, três ou mais marcadores a sua volta. Vai pra cima como se nada estivesse acontecendo ou jogando uma pelada  entre casados e solteiros.

Uma seleção que veio ao mundial sem o seu melhor goleiro de todos os tempos, o fantástico Edwin van der Saar, substituído pelo jovem Stekelenburg, que está entre os três melhores da copa. Que tem Van der Saar e Huntelaar no banco e apostou na maturidade da maioria de seus jogadores, mostrou um equilíbrio em seus compartimentos que a levaram aos resultados que a credenciam a disputar mais uma vez o título mundial.

Classificou-se em primeiro lugar no Grupo E, derrotando a Dinamarca por 2×0, o Japão por 1×0 e Camarões por 2×1, sem contar com sua principal peça de ataque, Robben, que entrou contra o Japão aos 73 minutos. Como primeira do Grupo, foi para as oitavas de final com o segundo do Grupo F, e passou pela Eslováquia por 2×1. Já começava a preocupar os adversários, até enfrentar o vencedor do jogo 54, Brasil e Chile. Um adversário que todos evitam, os penta-campeões mundiais. Mas a Holanda estava disposta a ir em frente e acabou virando o placar e mandando mais cedo o time canarinho para casa, com muitos problemas a resolver nos próximos quatro anos.

O vencedor do jogo 57 enfrentaria o ganhador do jogo 58, o Uruguai, que vinha de uma vitória histórica contra Gana, empatando em 1×1 nos 120 minutos (porque a Fifa insiste com prorrogação ?) de jogo e  4×2 nas disputas de pênaltis. Um jogo que mexeu com todos que o assistiram. Uma vitória da garra uruguaia, reconhecida por superar suas limitações. E mais uma vez Forlán, que fez um mundial espetacular, e seus companheiros foram brilhantes a honraram a histórica camisa celeste.

Tocou ao Uruguai enfrentar a Holanda, nas semifinais, já com Robben totalmente recuperado da lesão e da forma atlética. Os bicampeões do mundo em 30 e 50 ficaram sem o atacante Luis Suarez, expulso contra Gana, e o “capitão” Lugano, machucado,  dois desfalques importantes. Bronckhorst, Sneijder e Robben fizeram os gols laranja, enquanto Forlán, que deixava a copa com um golaço, e Max Pereira marcaram para os sul-americanos, que fizeram a melhor campanha da história, depois dos dois mundiais. A Holanda foi a primeira classificada para a final, com um time forte, unido, jogando futebol moderno que mescla defesa e ataque com perfeição.

A Espanha desembarcou em Johanesburgo como uma das favoritas. Última campeã européia, derrotando a Alemanha por 1×0, venceu todos os jogos das eliminatórias e apenas uma derrota em dois anos. Mesmo perdendo na estréia para a Suíça por 1×0, venceu Honduras por 2×0 e o Chile por 2×1, classificando-se em primeiro lugar no Grupo H. Uma campanha razoável apenas, na primeira fase, de um time que chegava para disputar o título.

O experiente e competente Vicente del Bosque sabia o que queria e, mais importante, o material que tinha à mão. Montou um time com a base nas eliminatórias e na Copa da Europa, agrupando a defesa e o meio-campo com jogadores do Real Madrid e Barcelona, deixando os gols por conta de David Villa, do Valencia (depois vendido ao Barcelona) e Fernando Torres, visivelmente fora de forma. Nem um arremedo do “El Niño” dos tempos de Atlético de Madrid.

Como todo grande time começa por um bom goleiro, a Espanha trouxe o melhor do mundo, Iker Casillas Fernandes, que sofreu apenas um gol até chegar à grande final. Conhece bem o lateral direito Sergio Ramos, companheiro de clube, e os dois zagueiros do Barcelona, Piqué e Puyol, que se entendem com Capdevilla, do Villarreal. É uma boa defesa, sem ser brilhante, mas muito bem protegida pelos volantes e meias.

À frente da zaga, Xabi Alonso, limitado mas importante no desarme, além de bom chutador, Xavi e Iniesta, a melhor dupla de volantes do futebol mundial, e Busquets, do famoso carroussel barcelonista. Na frente, Villa e Torres, de quem já falei. Da primeira partida até a classificação para disputar o título, apenas a saída do jovem Jesus Navas, uma das boas revelações da Liga passada, que deu lugar a Pedro, outra grande surpresa da temporada 2009-2010.

O primeiro grande clássico foi exatamente o “Derby Ibérico”, contra Portugal, de Cristiano Ronaldo, contrata em 2009, já conhecido dos seus adversários e companheiros de clube. O time já estava montado e Del Bosque mantinha a esperança na recuperação física e atlética de Fernando Torres. O que não aconteceu. Foi substituído por Llorente que entrou muito bem, juntando-se a David Villa, que acabou marcando o gol único que deu a vitória à Fúria, já despontando como uma das boas equipes do mundial.

O adversário nas quartas-de-final foi o Paraguai, que havia eliminado o Japão nas cobranças de pênaltis, depois de mais uma inexplicável prorrogação. A surpreendente ascensão do time sul-americano deixava os espanhóis preocupados, mas certos que o melhor que tinha a ser feita era jogar o futebol vinham praticando. E não foi diferente. Com maior voluma de jogo, superior, como em todos os jogos, na posse de bola, o time foi buscar mais uma vitória suada, difícil, mas conquistada com paciência e talento.

Estava cumprida mais uma etapa e estabelecido mais um recorde para a “Fúria”, que já estava entre as quatro melhores seleções da copa do mundo. Restava se preparar e descansar para enfrentar a Alemanha, que havia goleado a Argentina por 4×0, mandando Maradona e seus “meninos” mais cedo para Buenos Aires, outra surpresa. A essa altura, buscava-se um vice-campeão. Ninguém admitia mais a derrota do time dirigido por Joachim Löw, uma autêntica máquina de jogar futebol.

A Holanda passou com facilidade pelos uruguaios, que foram a maior surpresa em termos de classificação. Jogando desfalcada e prejudicada por uma prorrogação (por que insistem com isso ?) que deveria ser abolida, a Celeste caiu de pé, com uma brilhante campanha, principalmente de Diego Forlán, que marcou lindos e importantes  gols, mas foi batido pelo cansaço, como outros companheiros.

“Holanda e Alemanha vão fazer a final”. Essa manchete deve ter saído em pelo menos uma centena de jornais espalhados pelo mundo. Ninguém admitia outro resultado a não ser a vitória do time comandado em campo por Thomas Muller, o maestro do time, com atuação primorosa contra a Argentina. O destino, entretanto não queria assim. Aquela foi a sua despedida, materializada num segundo cartão amarelo. Estava fora do jogo contra a Espanha.

Claro que foi um desfalque importante. Difícil afirmar que sua presença em campo mudaria a história dessa copa. Vicente del Bosque tinha certeza que sim e mandou a campo um time para ganhar o jogo. Jogando e não deixando a Alemanha jogar. Dito e feito. A Espanha chegou a ter 63% de posse de bola, no primeiro tempo. O time repetia a final da Copa da Europa, dois anos atrás. Tocava e recebia. E girava com habilidade. Os alemães foram surpreendidos com a escalação de Pedro, a jovem revelação do Barcelona, ao lado de Villa.O menino deu conta do recado e o time foi crescendo. Jogando e não deixando jogar. Casillas fez uma defesa importante e nada mais. Os espanhóis chutaram doze vezes ao gol de Manuel Neuer.

O gol acabou saindo de um cruzamento que Puyol, bem ao seu estilo, subiu como nunca e cabeceou como poucos, vencendo o excelente goleiro alemão. Faltavam pouco mais de dez minutos para levar os espanhóis à sua primeira decisão de copa do mundo. Já quebraram dois recordes (quarto e terceiro lugar) e podem quebrar mais um chegando pela primeira vez ao título mundial, o que pode acontecer também com a Holanda. Um novo campeão será conhecido domingo. Vermelho ou Laranja ?

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