FUI DIEGO, VOLTEI ROBINHO

Confesso a vocês que tomei um susto no aeroporto quando cheguei e vi milhares de torcedores rubro-negros a me esperar. Há uma década, no melhor da minha forma, deixei o futebol brasileiro por Viracopos e só a minha família foi se despedir de mim. A torcida do Santos ainda mandou uma faixa, mas todas as torcidas organizadas da Vila compareceram em massa mesmo no dia em que o Robinho foi vendido. Era Robinho e Diego. Como Pelé e Coutinho. Um gênio protagonista, um bom jogador ao seu lado como coadjuvante. O futebol acima de tudo, é um esporte coletivo e não um monólogo. Mas desde a chegada ao Brasil, vivo a me perguntar: eu melhorei, virei Robinho, ou foi o futebol brasileiro que piorou, perdeu suas referências e virou Diego?

Sem desmerecer o que ainda sou capaz de fazer no Flamengo, afinal sempre me cuidei e escapei de graves lesões, notei, enquanto me preparo para a estréia, que não foi por acaso que o Maracanã deixou de ser palco dos grandes aqui do Rio. Sem Rivelino e Assis, mas com Cícero e Magno Alves ressuscitado, anda bastando a menos exigente e presente torcida tricolor o modesto estádio do América na baixada fluminense.

Para um clube que foi perdendo espaço e prestígio no futebol brasileiro tudo bem, mas daí Edson Passos ser a casa do Fluminense… Logo a seguir assisto Botafogo x Palmeiras na Ilha do Governador. Para o clube glorioso de outrora, de Mané Garrincha, Mendonça e Nilton Santos, seria uma piada levar para o modesto estádio da lusa carioca os seus jogos. Mas desde que perdeu a classe de Seedorf, o carisma de Loko Abreu e só seu goleiro tem sido convocado para a seleção, para abrigar metade dos seus apaixonados anda cabendo. E eles estão felizes não só com aquele estádio, como ter como camisa dez o Camilo. Com todo o respeito! E, finalmente, o Vasco. Este não perdeu seu estádio, mas trocou a paixão por um ídolo, Roberto Dinamite, por um cartola que nunca fez um gol na vida por eles. E seu maior jogador da atualidade, o Nenê, também saiu camisa 8 como eu do Brasil e agora virou o todo poderoso camisa 10. Dava para desconfiar que existia, desde minha chegada, algo de errado com o nível atual do nosso futebol.

Mas se estava em dúvidas quanto ao seu declínio técnico, o Zé Roberto, jogando ontem pelo Palmeiras os 90 minutos, acabou com todas. Quando ele se despediu na Alemanha, aos 40 anos, nos confessou que pretendia acabar sua carreira na Portuguesa, seu primeiro clube no futebol, ou jogar no Máster do São Paulo. Zé, como eu, sempre se cuidou, pouco se contundiu também. Ma daí a atuar na primeira divisão com aquela idade numa equipe que está no G4 e na lateral esquerda? Tudo bem, os pontas acabaram, laterais não mais apóiam, mas definitivamente foi a prova que precisava para entender porque agora virei capa dos jornais.

Considerado o novo Messias. O camisa 10 do Flamengo. Num país em que a expectativa de vida aumentou vinte anos, permanecer em cena jogando mais uma década se torna um paradoxo. A definitiva constatação que diminuímos a expectativa de alcançar o futebol brasileiro de novo em sua plenitude. Mas não se esqueçam: se fui Diego, voltei Diego. Robinho será sempre a lembrança de um tempo em que os craques enchiam os estádios e nós, seus coadjuvantes, tabelávamos o simples para receber de volta as maiores das obras de arte.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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