Diego Cavalieri

Depois da impressionante atuação contra o Grêmio pela Copa do Brasil, onde calou a boca dos seus maiores críticos, Diego Cavalieri cometeu uma incrível falha no domingo, contra o Santos, na Vila Belmiro. Ao dominar mal uma bola atrasada, teve que dividi-la com Lucas Lima e ela acabou se alinhando no fundo das suas redes, prejudicando o Fluminense e reacendendo uma velha discussão: porque os goleiros batem tão mal na bola? Se existe uma posição que foi valorizada nos últimos anos no futebol, esta foi a de goleiro. No meu tempo, isto é nos anos 70, não havia treinador de goleiros. Félix, Jorge Vitório, Jairo e Nielsen Elias, nossos arqueiros nas Laranjeiras, tinham a seu dispor apenas uma caixa de areia. Após os treinamentos, nos chamavam para chutar bolas para eles saltarem de um lado para o outro. O treinador era o Zagalo, Carlos Alberto Parreira preparador físico e Célio de Souza seu auxiliar. Todas as atividades físicas eram realizadas com os goleiros ao nosso lado. Inclusive subir correndo a estrada das Paineiras. Apenas na hora do treinamento com bola ficavam à parte. Treinavam sozinhos.

Mais à frente, após a Copa da Alemanha, nossos eméritos professores da escola de educação física da Urca, anos luz diante de todos os seus colegas civis, detentores dos avanços do esporte por serem militares (e as informações, é sempre bom lembrar para esquecer, eram privilégios dos quartéis) saíram à frente e importaram o Teste de Cooper. O Circuit Training, o Interval Training, as academias Apolo, Nautilus, entre outros avanços científicos. E coube a Raul Carlesso, aluno aplicado desta turma, a inovação dos treinamentos para os goleiros. Que tinham em Sepp Mayer, campeão do mundo em 1974 pela Alemanha, seu maior garoto propaganda e que lançava seu livro. Dentre outras lições que me recordo, dizia que jogava tênis para enxergar melhor a bolinha. Era mole depois defender nas partidas aquelas grandonas que vinham na sua direção.

Dali pra frente, nossos goleiros melhoraram sua saída de gol, a caída com aulas de Judô e Jiu Jitsu, a reposição de bola em jogo que tem no Jefferson seu maior expoente.  Mas continuam chutando mal por falta exclusiva de treinamentos. Porque jogar bola ninguém ousa ensinar a nenhum garoto. Ele nasce com o dom e pronto. A partir de um talento natural, são lhes repassados os treinamentos para o aprimoramento dos fundamentos do jogo, como o passe, o domínio e o cabeceio. Aprendem também as regras do jogo, os benefícios sociais do esporte na formação cidadã, como a disciplina, o saber perder, a causa coletiva sempre acima da glória pessoal.

O que falta ao Diego Cavalieri, e a maioria dos nossos goleiros, é ficar após os treinamentos     exercitando a exaustão o domínio e o chute com seus preparadores físicos. Já vi este milagre de perto: Nielsen Elias batia mal na bola quando jogava com a gente. Quando voltei ao Fluminense, décadas depois como treinador das suas divisões de base,  o encontrei em sua nova profissão, a de treinador de goleiros, e, impressionante, superava a todos nós com a precisão dos seus chutes. Que se tornou um instrumento seu de trabalho. Se ele conseguiu com trabalho e determinação, porque não nossos atuais goleiros?

Com nossa atual safra de zagueiros sem maiores recursos, não é seguro esperar que um deles saia jogando, que realizem  lançamentos de 50 metros. No menor aperto adversário, atiram a bola na direção dos goleiros de qualquer jeito e eles que se virem.  E neste atual sobe e desce na tabela do brasileirão, qualquer virada retira seu time do G4 e o coloca no G4. E vice versa. E, sempre é bom lembrar a todos nós tricolores, quem tem Gum, continua a ter medo.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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