CROÁCIA PODE PERDER PARA O CANSAÇO

A Croácia poderá perder a decisão da copa do mundo da Rússia para a França em função do desgaste acumulado em três prorrogações e duas decisões por “pênaltis”. Quem afirma é o professor Antonio Mello, ex-preparador físico das seleções do Brasil, Iraque e Emirados Árabes, mais de quarenta títulos conquistados, incluindo 4 brasileiros, 3 paulistas, 3 cariocas, 3 mineiros e 1 baiano, Copa Brasil, Taça de Prata, Copa América e Mundial sub-20 com a seleção brasileira, além de ser o único brasileiro a condicionar o time principal do Real Madrid, em 2005, quando os merengues contrataram o hoje capitão Sergio Ramos. Mello destaca Modric como organizador do time mas garante que o meia, como todos os seus companheiros, podem perder o título em função do desgaste acumulado nas três partidas anteriores. “É uma tese baseada em dados científicos, não significa que o título está perdido, a França pode comemorar. No futebol existe o fator imponderável, capaz de reverter situações, criar embaraços a quem faz previsões, derrubar casas de apostas, que fique claro. A análise é feita sobre dados, fatos concretos, mas pode ser revertido, sim. O favoritismo francês pode ser creditado à vantagem sob o aspecto de condicionamento, nada mais”, esclarece Mello.

-O futebol é diferente de outros esportes de alto rendimento, como o vôlei e o tênis, onde o atleta suporta carga de trabalho de 4, 5 horas em atividade, por ter característica anaeróbica em seu sistema energético. Hoje um atleta que corre acima 10, 15 quilômetros por jogo, numa sequencia, como é feito durante a temporada regular, tem um prejuízo significativo em sua performance, provocado pelo grande desgaste, havendo um aumento da fadiga muscular que compromete manter o alto rendimento.

A FRANÇA LEVA VANTAGEM ?

O tempo extra, ou prorrogação, produz um esforço sobre-humano, extrapolando os limites do condicionamento, prejudicando o desenvolvimento da consciência, equilíbrio, força, velocidade, perda da visão periférica e, em função desse desgaste, aparecem os erros de passe, queda no rendimento técnico, desobediência tática, etc. Eu trabalho um atleta de futebol para jogar 90 minutos, não 120, é assim que ele se condiciona a cada temporada. No fim desse período, todos cansados após sequência de três jogos a cada semana, eles não resistem aí o ser humano passa a ser um gladiador, vai para o tudo ou nada. E pagam por isso. Basta ver o número de contusões durante a copa. Perde coordenação motora que predispõe lesões não apenas musculares, podendo levar até a fratura por estresse

O QUE A CROÁCIA PRECISA FAZER ?

Primeiro, devem ter feito, uma avaliação de cada jogador, respeitando o princípio científico da individualidade biológica, nenhum ser humano é igual ao outro, há variações que precisam ser trabalhadas separadamente. Esse grupo vem de uma maratona e não vai se recuperar totalmente, o tempo é curto. O estado psicológico chegou no pico, estavam em campo movidos por um poder de superação muito grande. Dava pena ver Modric, um baita jogador, procurando se recuperar, abaixando para descansar, até ser substituído. Através de novas ferramenttas, amplamente utilizadas, temos informações precisas do desempenho físico do atleta durante os jogos. A inglaterra terminou o jogo com 10 jogadores e um machucado, sem poder correr.

O TEMPO É CURTO PARA RECUPERAR ?

Não vai recuperar. Haverá um momento do jogo em que a cabeça vai comandar e o corpo não vai obedecer. Precisam ter a posse de bola pra correr menos, gastar energia quando for necessário, se poupar o máximo que puder, determinar o ritmo do jogo. Devo lembrar que a Croácia ainda perde mais 3 horas, pois jogou às 15 e volta a campo ao meio-dia para a decisão. Não tem como fugir de três pilares: Alimentação, Repouso e Controle da Atividade, isso tem que ser cumprido rigorosamente.

COMO SERÁ O TRABALHO ATÉ O JOGO ?

Depois do jogo com a Inglaterra, trabalho regenerativo, relaxante, sauna, emersão em gelo, só isso, cada um tem seu método, recuperação do desgaste que foi brutal. Afinal, correram o equivalente a um jogo mais que os franceses. Vão a campo em desvantagem grande, não tenho a menor dúvida disso. No segundo dia leva para o campo, faz um trabalho suave, sem desgaste, repete na véspera, podendo fazer um treino leve, 10, 20 minutos com bola. Não pode deixar os jogadores parados, não ajudaria muito.

CONTRA A PRORROGAÇÃO ?

– Totalmente. Não trabalhamos jogador para atuar 120 minutos, mais “pênaltis”, jogando toda a temporada três partidas em sete dias. Isso acarreta um desgaste físico e psicológico brutal. Será sempre assim. Como vamos fazer, se o regulamento manda decidir dessa forma ? Qual seria outra forma de disputa ?

Foto: Mello, Iata Anderson e Jair Pereira – Arquivo Pessoal

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