CARTA ABERTA AO ZAGUEIRO DEDÉ

Caro Dedé, boa tarde. Sou um ex-atleta profissional de futebol, tenho 61 anos, me formei em jornalismo e sou escritor. Defendi, durante 17 anos, 7 clubes brasileiros que me possibilitaram exercer uma digna profissão chamada atleta profissional de futebol. Muito me orgulho de tê-la exercida em 3 diferentes estados da federação, mas entre os pôsteres, faixas e medalhas que guardo com carinho para mostrar aos filhos e netos nenhum legado é mais importante que a rígida formação que recebi na universidade chamada Fluminense FC, onde ingressei no pré-vestibular dos juvenis, e saí graduado nos profissionais para defender o CR Flamengo oito anos depois. 

Acabo de assistir, no Globo Esporte de hoje, quinta-feira, sua declaração abrindo mão de enfrentar o Vasco, sábado, no Maracanã, porque você “ estará torcendo pela permanência na primeira divisão do clube que o revelou para o futebol”. Se o seu treinador fosse não o Marcelo, mas João Baptista Pinheiro, Telê Santana, Mário Jorge Lobo Zagalo, Carlos Alberto Parreira, Didi, dentre outros profissionais daquela minha universidade, você estaria demitido por justa causa do clube. 

Diziam, nossos sábios mestres, que estavam ali primeiro para formar o homem, depois o atleta, e com tal omissão você não se coloca à altura dos cidadãos que o futebol pretender entregar à sociedade após seu jogo de despedida. Desde quando um profissional escolhe o time que irá enfrentar? Desde quando coloca seu desejo individual em detrimento aos objetivos de um esporte coletivo?

Por algum momento você pensou nos seus companheiros de profissão do Fluminense, do Coritiba, do Criciúma e do Bahia que precisam, nesta reta final, que todos estejam no limite da sua capacidade física e técnica para que as vagas conquistadas, e as perdidas, sejam decididas no limiar das suas forças? Para que nenhum estímulo negativo, extra campo, extra ético, interfira nos rumos que levarão Leandro Eusébio, Gum, jogadores da sua posição, dos camisas 3 que disputam sua permanência na elite, saberem se vão ganhar salário de primeira ou de segunda divisão. 

Se jogarão com o Maracanã lotado em 2014 ou entrarão para enfrentar o Ceará naquele modesto gramado do Estádio Getúlio Vargas espremido de gente.

Não Dedé, não é você quem vai decidir isto. Serão os deuses do futebol, mas será preciso que cada um realize o melhor de si, e não vai ser com a sua ausência na partida contra o Vasco que o clube de São Januário saberá a divisão que irá disputar. Portanto, ainda dá tempo de rever sua decisão. Sábado, você dirá em campo ou na omissão, não ao Felipão, mas a toda nação brasileira, o tamanho do caráter que poderemos convocar para defender mais que uma zaga, mas o patrimônio ético, moral, de auto estima que nós, brasileiros conquistamos diante do mundo.

Na economia, na cultura e no futebol. O Cruzeiro, outrora uma moeda desvalorizada, subestimada nas bolsas de Londres, de Nova Iorque, hoje é uma moeda real, respeitada, como seu clube, merecido  campeão brasileiro antecipado. Mas que pode, com atos de desrespeito aos valores sagrados do esporte, empanar o valor desta conquista ao não mandar a campo o que tem de melhor. 

E você ainda é, ao lado de Thiago Silva e David Luiz, o que temos de melhor. Dentro, e por enquanto, fora de campo.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

6 thoughts on “CARTA ABERTA AO ZAGUEIRO DEDÉ

  1. Zé Roberto, lindo e oportuno texto. Desde que li as declarações de Dedé minha cabeça ficou me cutucando para escrever alguma coisa. Não tive competência. Você foi, como sempre, maravilhoso. Em poucas linhas disse tudo que o Dedé e todos os atletas profissionais, bem como os torcedores, deveriam ler. Parabéns. Valterson Botelho

  2. Gostei de seu comentario a respeito, os atletas , nao teem comprometimento com os clubes, sao intinerantes, nao tem tempo de serem idolos, jogam pouco tempo no clube, mudam de camisas como mudam de roupas e carros. Na minha epoca de Atletico, ficamos juntos o mesmo elenco por mais de 7 anos, conquistamos titulos, e o torcedor sabia o time de cór. Tinhamos identidade com o clube o torcedor! Por isso, a propria situaçao do pais fez com que acontecesse. Como vc disse se tivessemos treinadores como Yustrick, Tele, Osvaldo Brandao, e outros, isso nao aconteceria. O clube o paga, tem seus direitos e jogo quando quero? Pensem nisso!!

  3. Mirar no Cruzeiro traz notoriedade. Ao contrário do que o senhor diz, o Cruzeiro é um clube em alta cotação desde a década de 60. Mas isso só sabe quem conhece a história do futebol.

  4. Zé Roberto, pessoas como você me faz acreditar que ainda verei o futebol moralizado. Eu tenho o privilégio de fazer parte de um clube paulista da 4° divisão, clube que segue e respeita uma cartilha, implantada e embasada, em uma filosofia de trabalho, que vem chamando atenção, FAIR PLAY, o jogo limpo dentro e fora de campo, o sr° Dado de Oliveira (presidente), o grande responsável por essa cartilha se preocupa com a formação do atleta desde a base, “…devemos formar cidadãos, homens preparados para à realidade da vida”. Parabéns por fazer a diferença no cenário futebolístico, abraço.

  5. Discordo de sua opinião, acredito que o que Dedé fez foi sim mostrar que aprendeu a ser um homem de caráter e hombridade, e acima de tudo dotado de um sentimento raríssimo nos dias atuais, principalmente no mundo do futebol, CONSIDERAÇÃO àquele clube que fez ele ser quem hoje é…. e ainda me permito acrescentar em tempos de hiprocrisia reinante, de beijinhos em escudo no dia da apresentação, Dedé foi honesto o suficiente (correndo o risco real de se “queimar” com os torcedores do time que defende) para externar seu respeito e desconforto em ser o responsável por, hipoteticamente, rebaixar o time responsável por seu surgimento para o futebol e que propiciou que ele seja hoje um dos melhores do Brasil em sua posição. PARABÉNS DEDÉ, EU SOU CRUZEIRENSE, E ADMIRO SUA CONDUTA!!!! PRECISAMOS DE MAIS HOMENS COM SEU CARÁTER NO FUTEBOL e menos HIPÓCRITAS que falam uma coisa e agem de outra maneira……

  6. Parabéns José Roberto Padilha, pela capacidade de expressar tão bem e pelo conteudo enriquecedor. Vc é a prova de que o problema não é o Brasil nem essa paixão mundial pela bola; são pessoas inescrupulosas ou incompetentes que são inconseqüentes.

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