CALMA, PEIXE

 

Somos todos seus fãs. Sua absoluta independência é o que nos resta num país carente de ídolos independentes. Da Vila da Penha até Brasília, passando por Barcelona, Amsterdam, onde deixou rastros do seu talento, você só deve seu sucesso ao seu esforço pessoal e da sua família, especialmente seu Edevair que o levou para fazer aqueles testes no América. 

Bebeto, seu parceiro no Tetra, alugou sua alma à FIFA. Ronaldo à Rede Globo. Neymar, que poderia assumir posições importantes neste momento de transição do nosso futebol, não tem tempo de pensar em outra coisa que não seja gravar comerciais e namorar. É da idade, mas não é dos exemplos e posicionamentos que precisamos dos nossos ídolos.

Fora o nosso Rei, tão omisso fora das quatro linhas que uma Copa do Mundo foi realizada debaixo do seu reinado e poucos lhe deram atenção, desnudando o quanto desimportante ele se tornou fora das quatro linhas. Os reis da Inglaterra também não mandam nada por lá, mas pelo menos à troca de sua guarda foi incluída no roteiro oficial. Quem responde pela sua, o Edson, porta voz da nulidade, quando abre o microfone, você já dizia, é nosso Castro Alves com ele fora da tomada.

Ao contrário, seu microfone sempre esteve antenado com as nossas angústias. Porque você aprendeu como centroavante a levar os confrontos para dentro da grande área. Nunca teve este negócio de rodeá-la, ameaçá-la com avanços e recuos diante dos objetivos. Você pegava a solução, que era a bola, e a colocava diante dos zagueiros num local de enfrentamentos em que a habilidade sempre prevaleceu diante da violência.

 Lá dentro, se bater é penalty. E o penalty era convertido em nome de uma causa nobre, que é o gol. E o gol é o momento sagrado do futebol. No congresso você tem feito o mesmo. Não tem faltado às sessões, tem se colocado em defesa da pessoa com deficiência e batido doído nesta dupla de incompetentes, CBF e FIFA, que tanto mal tem causado ao nosso futebol. Parabéns. E muito obrigado.

Só que agora vejo um panfleto seu pedido voto para Senador. Tudo bem, nesta prostituição política partidária que se tornou as coligações nas eleições no Rio de Janeiro, tudo é condenável, mas possível. Porém, acho cedo ainda para você assumir aquela cadeira. Uma pena você não ter ainda completado 50 anos para ter assistido os filmes épicos sobre Roma. Por mais territórios que seus soldados conquistassem, sempre havia uma dilema acima da força. 

E os césares entravam num salão fechado, onde senhores de cabelos brancos, sandálias de couro e bata, forneciam aos seus imperadores, com sua experiência e sabedoria, algo mais que os músculos não alcançavam. A origem da palavra senátor reporta a um homem velho, e àquela casa, um conselho de anciãos. Repositório definitivo do poder executivo, conselheiros do Rei e corpo legislativo sem sintonia com o povo de Roma. E você nem entrou ainda na terceira idade.

O senado é uma sagrada casa que não merece Renan Calheiros e Jáder Barbalho. Merece Paulo Paim, Jarbas Vasconcellos, Cristovam Buarque e Pedro Simon, todos acima de 60 anos, com enorme experiência de vida e de vida pública que podem fiscalizar e apoiar a presidência e ainda defender seu povo. Mesmo gênio pródigo, craque nos juvenis e infantis, você é do tempo que jogador tinha que esperar 19 anos para estrear no profissional, porque havia um Roberto Dinamite, Dé, Ramon a respeitar. 

E no dia 6 de fevereiro de 1985, você entrou em campo contra o Coritiba para nunca mais sair. E é em nome de um povo sem Senna, Robson Caetano, Oscar, Hortência, João do Pulo, Mequinho, Gustavo Borges, Guga e Zico, carente de ídolos e cuidadoso com sua ultima esperança, que relembro de uma máxima de Cartola, que vale pro amor, para o futebol e para a política: “ainda é cedo amor, mal começastes a conhecer a vida, já anuncias a hora de partida, sem saber mesmo o rumo que irás tomar…”

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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