Autor Desconhecido
Quem tem mais de 40 anos sabe o que era uma pelada de rua. Com algumas adaptações que fiz, as regras eram essas. Rigorosamente cumpridas como se fossem todos profissionais, ou mais que isso. Havia um concenso, todos queriam se divertir, esquecer as horas da manhã dedicadas aos estudos. Ninguem pensava em ser profissional. Era pura diversão. A gente era muito feliz e sabia disso.
1. A BOLA
A bola podia ser qualquer coisa remotamente esférica. Até bola de futebol servia, mas era dificil conseguir uma. No desespero, usava-se qualquer coisa que rolasse, como um coco, uma lata vazia ou a lancheira do irmão menor. A mais tradicional era a de meia. Depois veio a de borracha, com “michilin” dentro, que até hoje ninguém sabe para que servia.
2. O GOL
O gol podia ser feito com o que estivesse à mão: tijolos, paralelepípedos, camisas emboladas, chinelos, os livros da escola ou mochilas.
3. O CAMPO
O campo podia ser demarcado até o meio-fio da calçada, calçada e rua, rua e a calçada do outro lado e nos grandes clássicos o quarteirão inteiro.
4. O UNIFORME
Não tinha uniforme. Todo mundo jogava sem camisa e descalço. No máximo chinelo de dedo. Não podia jogar calçado.
5. DURAÇÃO DO JOGO
O jogo normalmente virava em 5 e terminava em 10, podendo durar até a mãe do dono da bola chamar ou escurecer. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.
6. FORMAÇÃO DOS TIMES
Variava de 3 a 7 jogadores de cada lado. Ruim ia para o gol. De óculos era meia-armador, para evitar os choques. Gordo era beque. A escolha era feita no “par ou ímpar”. Quem ganhasse começava escolhendo. Primeiro os goleiros.
7. O JUIZ
Não tinha juiz. As decisões eram tomadas amistosamente. Nem sempre.
8. AS INTERRUPÇÕES
No futebol de rua, a partida só podia ser paralisada em 3 eventualidades:
a) Se a bola caisse no quintal da vizinha chata. Neste caso os jogadores deviam esperar 10 minutos pela devolução voluntária da bola. Se isso não ocorresse, os jogadores deviam designar voluntários para bater na porta da casa e solicitar a devolução. Muitas bolas de borracha eram devolvidas furadas.
b) Quando passava na rua uma garota gostosa ou uma idosa. Se fosse idoso não parava.
c) Quando passavam veículos pesados. De ônibus para cima.Alguém gritava “para” e quem estivesse com a bola seguia jogando, assim que o veículo saisse de campo.
9. AS SUBSTITUIÇÕES
Só eram permitidas substituições nos casos de:
a) Um jogador ser carregado para casa pela orelha para fazer a lição.
b) Jogador que arrancava o tampão do dedão do pé. Porém, nestes casos, o mesmo acabava voltando ao jogo após utilizar aquela aguá santa da torneira do quintal de alguém.
c) Em caso de atropelamento.
10. AS PENALIDADES
A única falta prevista nas regras do futebol de rua era jogar o adversário dentro do bueiro.
11. A JUSTIÇA ESPORTIVA
Os casos de litígio eram resolvidos na porrada, prevalecendo os mais fortes ou quem pegasse uma pedra antes.
12. TIRO DE META
“Bola no alto não sai”. Nem é gol. Tem que ser rasteira para punir o último que tocou nela.
O tiro de meta era cobrado com as mãos, pelo goleiro, claro.
13. BOLA PRENSADA
“É da defesa”, sempre. Não há “bola ao alto” nesse caso.
14. LATERAL
A bola não sai na lateral demarcada pela parede, que pode ser usada para tabela.
15. HANDS
Ou “mão”. Bateu em qualquer parte do braço, antebraço ou mão, para o jogo. Não importa direção da bola ou intenção.
16. APITO
Não existe. É no grito ou no assovio.
Diferente do que determina a Fifa, as regras eram somente 16. Casos omissos eram discutidos ali mesmo e não demoravam mais de tres minutos.
Craques como Pelé, Zico, Jairzinho, Tostão, Romario e milhares mais, deixaram um pedaço de dedo nos calaçadas de paralelepípedos. Nem por isso deixaram de ser craques consagrados em todo o mundo. As peladas de rua são inviáveis hoje, isso é uma constatação. Será que fazem falta ?