ARBITRAGEM É IGUAL EM TODO O MUNDO

As regras são as mesmas em qualquer lugar onde rolar uma bola. São apenas 17 mas como são interpretativas, dão margem a todo tipo de discussão. Considerar que os árbitros brasileiros são os piores é desinformação total. Na Espanha não é diferente. Há bons e maus árbitros, decisões acertadas e erradas como aqui. O que difere, facilitando o trabalho dos espanhóis é o comportamento dos jogadores e as decisões do tribunal de justiça.

Faltando três jogos para o encerramento do campeonato de 1910-1911, o zagueiro brasileiro, naturalizado português Pepe, nascido em Alagoas, chutou um adversário caído e foi suspenso por 10 jogos. Cumpriu o restante da temporada anterior e mais sete no inicio da atual competição. Jogador viril, desleal às vezes, à nossa visão, o jogador do Real Madrid tem sido duramente criticado, embora reconheça que precisa mudar. E por sua última declaração, parece ter consciência que deve pensar apenas em cumprir seu papel em campo.

Expulso e cumprindo suspensão, seu discurso difere do que estamos acostumados a ouvir dos jogadores brasileiros, mal informados, mal educados, despreparados para exercer sua e qualquer outra atividade profissional. “Eles (árbitros) estão cumprindo sua missão, fazendo o seu trabalho e eu tenho que jogar. Se o árbitro entende que tem que me expulsar é sua decisão e não discuto”, disse o zagueiro.

Trabalhei duas temporadas na Arábia Saudita, onde o futebol é de baixa qualidade técnica e física e as arbitragens não são diferentes. O que diferencia de nossos padrões é o braço forte dos tribunais, totalmente independentes e austeros cumpridores dos regulamentos. O jogador expulso cumpre sua pena e nem pensar em distribuir cestas básicas, coisas de um cultura arcaica, estúpida, retrógada.

Como considerar que o mesmo jogador atuando nos campeonatos estaduais tenham comportamento diferenciado num espaço de três dias, entre uma partida local e outra pela Libertadores da América. Qual a diferença entre Oscar Ruiz e Marcelo de Lima Henrique, um dos melhores árbitros do futebol brasileiro ?  Os nossos “conversam” muito com os atletas, tenho dito, mas isso não é tudo. O abismo é mesmo a educação, o respeito e o desconhecimento das regras.

Outra diferença está nas punições severas impostas pela Sul-Americana, que são cumpridas em sua totalidade. É verdade que existe a pena pecuniária (US$ 100 por cartão amarelo), prevista em lei, mas que poderia ser modificada, a meu ver. Isso dá sensação de impunidade, já que o atleta fica livre de pena. A advertência pune o clube, na verdade inocente. Acho isso  errado mas é o regulamento e todos sabem que é assim.

Há um trabalho muito sério sendo realizado no departamento de árbitros de Federação do Rio, liderado pelo presidente da Comissão de Arbitragem Jorge Rabello, que tem sido modelo até para a UEFA, que adotou a utilização dos Árbitros Auxiliares, nas laterais das balizas, na Liga dos Campeões, o mais importante torneio de clubes do mundo. Com certeza será usado na copa do mundo de 2014.

O tempo técnico, adotado pela primeira vez no futebol carioca, permite ao treinador participar ativamente do jogo, até então o único esporte, no mundo, onde ele não participava diretamente com seus atletas. Há unanimidade entre esses profissionais, com relação a essa inovação consagrada no campeonato carioca e no resto do país. Hoje os árbitros do Rio tem preparação adequada à sua atividade, participando de pré-temporada, concentração antes dos clássicos e treinamento programado para todo o ano.

Há um avanço nesse sentido, mas é necessário que se faça mudanças em relação às punições. Se o jogador, mal informado, mal educado – os piores do planeta nesse particular – sentirem que a impunidade vai continuar acobertando suas indisciplinas, nada mudará, a não ser para pior.  Transformar uma punição de 10 jogos em cestas básicas, convenhamos, só pode ser considerado brincadeira de mau gosto. E não é por aí.