A presidenta Patrícia Amorim está diante de um quadro que pode parecer comum ao futebol e a outros clubes. Não ao Flamengo. Condicionar a saída do técnico Andrade ao seguimento do time na Taça Libertadores é, no mínimo, insensato. Muito mais quando a pressão vem dos cartolas que dirigem o departamento de futebol do clube. O Flamengo é do povo, pertence aos torcedores, que devem, esses sim, ser ouvidos. Mesmo mantido como treinador, condicionar a permanência do técnico a outros resultados é injusto. Andrade é rubro-negro, competente e nunca foi visto torcendo contra.
Andrade não deve sair, Patrícia, permita-me chamá-la assim. Não esqueça que esse treinador faz parte da história do clube. Foi seis vezes campeão brasileiro, cinco delas com o Flamengo, que estava a muitos anos sem um título nacional e foi à final conduzido por ele. Andrade é um vencedor, respeitado e admirado pelos torcedores, imprensa e desportivas, mesmo os que não são rubro-negros. Paulo César Carpegiani foi ameaçado de demissão e acabou dando ao Flamengo o único título de campeão mundial do Rio.
Andrade está sendo ameaçado por um dirigente que não tem nenhuma história no clube, ou pelo menos, no futebol. Um desconhecido que se diz campeão brasileiro quando, na verdade nada fez para se considerar como tal. Foi implantado na Gávea, por ele, um processo declarado de regalias, inédito por aquelas bandas. Nem Zico, o maior jogador da história do clube teve tais regalias. Ao contrário, sempre foi um profissional exemplar. Desde sua saída nenhum outro ídolo teve tanto prestígio. Até hoje a camisa mais vendida é a número 10, por causa dele.
A renovação do contrato do treinador foi a coisa mais absurda que se possa descrever em termos de relacionamento. “Andrade foi tratado como um animal”, disse-me um conselheiro que presenciou parte do diálogo entre o técnico e o dirigente. Que é isso, Patrícia, permita-me mais uma vez chamá-la assim. Se isso aconteceu dentro do Flamengo, e tenho certeza que sim, minha fonte é segura, alguma coisa está acontecendo que foge aos nossos sentimentos. Está tudo errado, eu diria. É hora de mudar. Não o técnico.
Petkvovic assumiu a condição de ídolo por algum tempo, depois de dar ao clube o inesquecível tricampeonato de 1999-2000-2001, marcando um dos gols mais comemorados pela grande nação rubro-negra até hoje. Esse jogador é perseguido escandalosamente dentro do clube, por não participar de “panelinhas”, por ter consciência profissional, não ser submisso a decisões, que se sente no direito de protestar. Foi submetido a um vergonhoso treinamento separado, um crime cometido como o melhor jogador do atual elenco, tecnicamente falando. Se não corre como há 10 anos atrás que lhe seja dado um treinamento especial. Ele é mais rubro-negro que muitos dirigentes. Abriu mão de uma fortuna, foi parceiro e recebe como recompensa um tratamento desigual.
Se Andrade não pode ser o treinador porque não se submete aos caprichos do cartola. Se Petkovic não pode jogar porque não é submisso, sabe falar e o que deseja e se Bruno, Álvaro, Adriano e seus seguidores fazem o que querem, ótimo. É o momento para dar um soco na mesa e mudar tudo. O Flamengo não tem dono. Pertence aos torcedores. E esses querem a permanência de Andrade, pode encomendar uma pesquisa. E comece por mim.