Estava
Em casa, depois na escola, nas ruas, no trabalho. Talvez esteja no DNA da mentira a origem de tudo. “Chegou tarde menino, esteve aonde? “Estudando, mãe, depois da aula com amigos!”. “- Ah! Muito bem, Paulinho, parabéns!” Comodamente, a mãe afrouxa, carinhosamente, a primeira casa do cinto que calçará a impunidade, porque, se aperta, fica sabendo pela camisa suada que aquele ser em corrupção estava jogando bola. Então, Paulinho, esperto, supera a primeira fase. Depois, faz no colégio uma prova excepcional, tira 10 em redação sem prestar atenção em uma só aula de Português. E seu professor, atolado de alunos por trabalhar em cinco escolas para ter direito a um salário digno, mal decorando o nome e as carências de cada um, confirma a nota. E o cinto a caminho da subversão alcança mais uma casa. Vencida mais uma etapa, é pego já adolescente na Lei Seca.
Na delegacia, o pai, político influente, mente pro delegado afirmando que seu menino jamais se interessou por álcool. Seu negócio, afirmava, seria gasolina. Aditivada. Liberado, chega ao mercado de trabalho reunindo todas as condições de não aceitar viver apenas com o suor do seu salário. Está pronto a encontrar um meio de ganhar o não devido, de subtrair para si e para outrem recursos que deveriam ajudar seu país a melhorar a educação, a saúde, a cultura e o esporte. Neste dia, Paulinho entra na Petrobras. E encontra o Paulo Duque, o Cerveró, muita gente de cintura larga afrouxada pelo cinto da concessão, da impunidade, e desvia para seus bolsos uma energia que deveria impulsionar o progresso de uma nação. Não um comboio de ladrões. O resultado está na lista do Janot. Que bom que o nosso nome não se encontra nela. Porém, somos, por fraqueza, candidatos naturais às próximas se não enfrentarmos na origem esta praga que corrói a lisura dos nossos caminhos. Dos caminhos a serem trilhados pelos nossos Paulinhos.
Que tal, então, exercitar, a cada dia, por menor e infantil que seja, o fim da mentira? Não dar bom dia durante a tempestade, ou afirmar, mesmo por educação, ser um prazer receber uma visita tarde da noite, mesmo quando enfiamos a bermuda por cima do pijama e ocultamos restos de um inacabado sanduíche no fundo da geladeira. A verdade. Ela, e não a mentira, é o combustível, o desafio da energia com que construiremos uma país melhor e menos corrupto. *Acabando o texto, toca o celular. Era a minha secretária. “-Está vindo?”. Faltavam cinco minutos para fechar o expediente e algo parecido para fechar a edição. Corri a entregá-lo na redação, daí escapou, de graça, na resposta proferida, resíduos que parecem descolar das paredes da imperfeição: “Estou chegando, passei nos Correios…” Desculpem, foi mal, se a mentirola não me conduz à lista, certamente irá atrapalhar minha chegada aos céus.
José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.