Um quase Messi

 

tem um jeito: até a Copa do Mundo do ano que vem não comprarmos uma só cueca anunciada por ele. Trocar de carro? Marque um gol e escolha o divulgado pelo Ronaldo Fenômeno. Beba do refrigerante da concorrência e se for optar por um banco, dê preferência ao do Raí. Que já parou de jogar e tem todo o tempo do mundo para gravar comerciais. Mas esqueçam temporariamente nas prateleiras, concessionárias, produtos, serviços e operadoras que o Neymar patrocina. Pelo menos, até o ano que vem, dê uma de fiscal do Sarney, faça plantão nos mercados e tente salvar o  futebol  brasileiro de sua ultima espécie em extinção.

É claro que multinacionais do tamanho da AMBEV, da Claro, Panasonic, Kibon, Philco, entre tantas, não sentirão o impacto, mas pelo menos deixaremos de ser cúmplices deste precoce sumiço. Porque o futebol  é um esporte coletivo e ele anda tentando resolver tudo sozinho. Quando falta um treino, Neymar deixar de aprimorar um fundamento. Como tem 11 patrocinadores, não há espaço para treinar cobranças de faltas, não comparece às corridas de longa distância e tem cabeceado cada vez pior. Seus chutes não metem mais medo na goleirada. Na ultima sexta-feira, dia do apronto final para a decisão paulista, não conseguiu teto no Rio para voltar a Santos e Muricy preparou uma tática capenga. Perdendo um treino tático às vésperas de uma guerra, como entender a colocação do André, os espaços que precisaria abrir pras subidas do Léo e o que fazer (e como ele ficou perdido) quando, nos minutos finais, Edu Dracena e Durval viraram atacantes e a ligação passou a ser direta, através de chutões?

Pelé, o atleta do século, precisou de um companheiro chamado Coutinho, depois do Toninho Guerreiro, do Tostão para realizar tabelas que encurtassem o caminho do gol. O que seria do Rivelino, na máquina tricolor, sem a inteligência do Manfrine? Do Zico sem um tanque como o Nunes, a classe de Cláudio Adão e os deslocamentos do Luisinho Lemos a confundir a zaga e abrir espaços pro seu talento? E o que dizer do Romário sem a sutileza dos toques do Bebeto durante o tetra que o consagrou? Toda obra de arte do Neymar tem sido construída sozinha, em arrancadas fantásticas, que unem velocidade e habilidade, mas até quando vai encontrar forças, abrir espaços perante uma marcação cada vez maior? Será que ele não vai precisar de ajuda ou continuará a realizar, como domingo, modestos monólogos em campo?

 Se fosse o César Cielo, treinava à noite para compensar. Usain Bolt, correria em outro expediente, porque são sozinhos na sua luta contra um adversário comum: o tempo.  Quando joga pela seleção, Neymar não tem mais coadjuvantes santistas, garçons do juniores, aplicados escadinhas, são outras estrelas as quais precisa dialogar, dar um gás na marcação e seu monólogo silencia por falta de hábito. Sua ida pro Barcelona seria fundamental neste momento, jogar num time que parece um documentário do Animal Planet: a bola rola de pé em pé, circulando no terreno adversário, como leões rondando uma reserva de Gnus: no menor vacilo, um cochilo da defesa, eles dão um bote.  Atualmente, o Barça só tem um leão para abater a presa, se o Neymar estiver ao seu lado, além de aprender a fazer parte do bando, atuar em equipe, será outra fera a penetrar  e desferir o golpe fatal. Enquanto isto, é bom lembrar que nosso ultimo herói faz também faz propaganda de uma TV a cabo. Ao lado da Gisele,  é um quase net. Ficando por aqui, ensaiando seus monólogos, se tornará um novo Ronaldinho Gaúcho. Rico, dispersivo, craque e desfocado. Um quase Messi.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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