Salve, Túlio!

Túlio Maravilha viveu seus melhores capítulos, dentre as 38 novelas em que participou, dirigido por vários treinadores, aqui e no exterior, na década de 80, quando foi artilheiro do brasileirão, campeão pelo Botafogo e convocado para a seleção brasileira. Mas o futebol não paga direitos autorais para cada artista reproduzir seus melhores momentos, como os anos 70 de Roberto e Erasmo, e viver recolhendo tais dividendos ano após ano, abastecendo suas proles com juros e correção com a ajuda do ECAD pro resto de suas vidas.

Mesmo não marcando um só gol nas paradas de sucesso há pelo menos meio século, como os Novos Baianos, Peninha,Roberto Menescal e seus gloriosos amigos da Bossa Nova. Túlio joga futebol, seus gols não são reproduzidos nas rádios, seus LPs não viraram CDs, Songbook e seu DVD não teve participações especiais porque ninguém consegue compor um arranjo novo pro tamanho da emoção e do improviso de um grito de gol.

Muito menos a televisão reserva um especial para rememorar, mesmo que repetidos à exaustão e com novas roupagens, a vida e a obra de qualquer ex-jogador. Desta maneira, nossos ídolos da bola caem mais facilmente no esquecimento dos que os ídolos da bossa. Seus heróis carregam um final mais melancólico, sofrido, nem se compara as defesas de Carlos Castilho, a classe de Nilton Santos, sucumbidos pela justa reverencia a obra de Pixinguinha, ao legado de Noel.

Foi assim com Romário, Renato Gaúcho, Roberto Dinamite, Delei, Adílio e não será diferente com a história do Fred, Renato Abreu e Ronaldinho Gaúcho porque os holofotes do futebol brasileiro continuarão acesos em busca de novos ídolos na mesma proporção em que apagarão suas luzes, em definitivo, para aqueles que desaparecerem jogo de despedida afora.

Inteligente, marqueteiro e gozador, Túlio reuniu gols importantes e os somou aos pênaltis que tem batido para cima de goleiros obesos, de adversários inexpressivos e anda a alardear que quer ser o terceiro jogador brasileiro na história a comprovar que marcou mil gols. Aos 43 anos, não quer viver a amargura de todo ex-atleta sonhando com um Maracanã cheio e acordar como um rosto a mais em suas cadeiras, incapazes de ser reverenciado e reconhecido.

Não quer correr atrás de papéis, papiros e certidões espalhados pelo mundo em busca de sua aposentadoria, muito menos tentar reviver seus sucessos apresentando-se em boates pelos campos do nordeste. Como todo herói por uma década, Túlio luta apenas para não ser esquecido.

Ele não pediu para ser ídolo de ninguém, mas seus gols e carisma lhe renderam milhares de fãs. Neste momento, imploraria a um só deles, torcedor do Botafogo, para segui-lo amistosos afora. Afinal, em suas contas faltam apenas 3 gols. Quem sabe num repente, num momento dentro da grande área ele revive um grande sucesso, e tem o direito de, como súdito do Rei, a afirmar também que “este cara sou eu!”.

 Salve, Túlio!, é o enredo desta triste e emocionante novela rodada no país do futebol, em estádios e televisões vazios e cujo próximo adversário pode se concentrar nas cavernas e entrar em campo com as valorosas cores do Capadócia Futebol Clube. Pouco importa, o que vale são os gols, e com Túlio Maravilha em campo, vale a pena ver de novo.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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