RONALDINHO: DE VILÃO A HERÓI

Ronaldinho teve sua noite de bombeiro

O jogo Flamengo x Atlético Mineiro tinha todos os ingredientes para se transformar numa grande tragédia, graças a irresponsabilidade de alguns “jornalistas” infiltrados nos veículos de comunicação, principalmente jornais. Essas figuras aparecem periodicamente entre profissionais sérios, responsáveis. São os chamados “gênios” que surgem como se caídos do céu e desapa-recem com a mesma velocidade, felizmente.

Enquanto duram, entretanto, promovem estragos irreversíveis. Não foram poucos os que tive que enfrentar em meus mais de 35 anos de rádio, jornal e televisão. Eles são facilmente identificados já que aparecem do nada, passam a primeira semana fazendo o reconhecimento do “terreno” depois tome canetadas. Profissionais competentes são mandados embora, substituídos por “afilhados”, que normalmente não sabem nada. É o primeiro sinal.

Menos de um mês após sua chegada os resultados começam a aparecer e as conseqüências são arrasadoras. A “panelinha” está formada, o esquema montado, até quando sabe Deus. O clima se deteriora, a insatisfação cobre o ambiente, a produção começa a cair e o produto final sofre as conseqüências. Aí os “gênios” passam a apelar para a baixaria, a qualidade despenca e o esquema dito “povão” vasa água e afunda.

Pensei que essa prática abominável tivesse acabado mas fui surpreendido pela apelação e o jornalismo de péssima qualidade aflorou num crescente assustador, antes do clássico programado para o Engenhão. Fiz um artigo sobre esse jogo, mostrando minha preocupação com o que pudesse acontecer dentro e fora do campo. Mesmo sabendo que as forças policiais haviam sido mobilizadas preferi ficar em casa torcendo. Para que tudo desse certo.

E tinha tudo para dar errado. O árbitro, de qualidade técnica duvidosa, foi mal escalado. Muito fraco na questão disciplinar, conversou muito e agiu pouco nesse quesito. Expulsou o zagueiro Rever, do Atlético Mineiro, que agrediu um colega de profissão de forma grosseira, violenta, por indicação do árbitro assistente, ao lado da trave. Se não, teria passado em branco. Enfim, vamos comemorar porque tudo acabou bem, graças a Deus. E a um jogador em especial.

Ronaldinho Gaucho passou de vilão a herói em 90 minutos. Foi por ele que não vimos uma tragédia em campo e fora dele, por extensão. Foi ele quem controlou os vinte e dois jogadores, acalmou os nervos dos colegas e devolveu a tranqüilidade a todos. Inclusive a mim, bastante preocupado diante da TV. Ronaldinho foi o herói do jogo, o melhor em campo. Um jogo que tinha tudo para dar errado – independente do resultado – ficou marcado por sua postura no gramado. Um Ghandi da bola, naquela noite.

 Resta saber até vai a baixaria que vimos pendurada nas bancas de revistas. Um estrondoso retrocesso que preocupa a quem se propõe a fazer jornalismo sério. Sou contra a censura gratuida, por censurar. Mas é reconhecidamente salutar a autocensura. Se não for assim, que se estabeleça, pelo menos, um limite. Quanto aos “gênios”, que se danem.

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