QUE LIÇÕES TIRAR DA EUROCOPA

La Roja

Que tipo de lição a Eurocopa,  a maior competição de seleções do velho continente, dará aos nossos dirigentes e observadores, que viram os maiores jogadores do mundo, exceção de Messi e Neymar ? Pouca coisa, ou quase nada, porque essa gente não está interessada em analisar as mudanças que acontecem no futebol, começando por sua estrutura. Falam em números, 4-4-2, 3-5-2, e outras fórmulas. Tentam explicar mas não conseguem.  Vêm mas não sabem fazer a leitura do jogo porque ela não aparece no gramado. São incompetentes. Só enxergam o óbvio.

As transmissões da televisão, com raríssimas exceções, são uma lástima. Dizem tudo que você está vendo. Se aparece um pássaro em sua tela fique tranquilo que ele será identificado com toda a pompa. Com direito a legenda, origem e história da “ave que simboliza a paz”. A torcedora enrolada na bandeira da Alemanha, com duas tirinhas pintadas no rosto, louríssima, olhas azuis, mesmo se o jogo for contra Gana, será devidamente identificada como “torcedora alemã está preocupada”.

Essas narrativas chegaram a um ponto insuportável, só assistimos por absoluta falta de opção.

Há muitos anos, lá no início da década de 1970 a Holanda surpreendeu nossos comentaristas com um futebol total, de velocidade e domínio de bola. Faziam um “carrossel”  parecido com o que o Barcelona e a seleção de Vicente Del Bosque fazem hoje, com pouquíssimas variações. Posse de bola, deslocamentos e passes curtos e certos, “tá comigo” e quem quiser que corra atrás. Não há nenhuma novidade no que fazem hoje os times e a seleção da Espanha.  A não ser velocidade, que mudou, claro. São jogadores de alto nível, bem treinados. O condicionamento físico evoluiu a ponto de fazer a diferença.

Escrevo antes de Espanha e Itália se enfrentarem na final (para muitos, “finalissima”, nunca li isso em nenhum regulamento. Deve ser depois da final) e não gosto de opinar nesse tipo de jogo. Muito menos quando os italianos vêm correndo por fora, desacreditados,aí mesmo é que eles aprontam. Sem muitas estrelas, a não ser Buffon, Botinelli e Pirlo, a Itália  deve ser respeitada sempre. Afinal, sem Pelé e Garrincha foram quatro vezes campeões do mundo. A Espanha perdeu pela última vez na Eurocopa de 2004, foi campeã invicta em 2008 e chega na final sem derrota. E chega à sua terceira grande final em quatro anos.

É a seleção a ser batida. Não é tarefa fácil mas é a bola da vez. Se a copa do mundo fosse esse ano eu não teria a menor dúvida em apontar La Roja como a grande favorita ao título. Mesmo assim, pelo que tenho visto e lido sobre o trabalho de Vicente del Bosque, seu time deverá desembarcar por aqui em 2014 ainda como séria candidata ao bicampeonato mundial. Não pensem que seu treinador está sem comando ou inventando nova fórmula de jogo. O que, na verdade, Del Bosque está fazendo é desenvolver três opções, sem abrir mão do “Tic-Taca”, como dizem os espanhóis. A dificuldade que tem encontrado é a ausência de David Villa para definir o principal esquema de jogo. O resto ele tem na cabeça.

Engana-se quem pensa que a tática usada para conquistar o primeiro título mundial, em 2010 na África do Sul, está superado ou esgotada. Veremos, no Brasil, um time mais forte, com novos jogadores – e posso destacar Jordi Alba como grande revelação –  superior a Capdevilla, e possivelmente Juanfran que poderá entrar no lugar de Arbeloa, jogador limitado, de poucos recursos, mas titular do Real Madrid, o que lhe dá um respaldo importante, até por jogar ao lado de Sergio Ramos em seu clube. Puyol tem folego para chegar a 2014 e formar boa zaga com Sergio Ramos. Casillas é o melhor goleiro do mundo. O quadrado de meio campo deverá ser o mesmo do título inédito na África. Xabi Alonso, Busquets, Xavi e Iniesta.

No mais, pouco a crescentar, a não ser a Alemanha empolgante, surpreendente, até ser eliminada pela Italia, uma grande surpresa pela forma como as coisas aconteceram em campo. O time de Löw foi dominado por uma equipe muito forte na marcação, brilhante toque de bola e calma o suficiente para impor o ritmo do jogo, como lhe convinha. Neuer, Lahm, Özil, muito abaixo do que sabe jogar, Khedira, Schweinsteger, Müller e Mario Gomez decepcionantes e impotentes diante de Mario Balotteli, o destaque da rodada semifinal, com teve grande suporte do veterano goleiro Buffon e o talento do maestro Pirlo, que também brilharam naquela partida.

Continuo e cada vez mais me convenço que a Espanha virá ao Brasil como franca favorita, com um time alterado em poucas posições e uma base altamente competente com quatro anos a mais de experiência. Esse grupo faz-me lembrar – guardadas as proporções, evidentemente – o bicampeonato mundial conquistado pelo Brasil, em 1962, quando Aimoré Moreira fez apenas duas alterações no time campeão de 58, dirigido por Vicente Feola. Sairam Bellini, substituido por Mauro e Orlando, impedido de jogar por ter sido contratado pelo Boca Junior, cedendo lugar a Zózimo. O meio foi mantido, com Zito e Didi e o ataque repetido integralmente (Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagalo), até a substituição de Pelé por Amarildo, contra a Espanha.

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