O LADO B

Quando os Beatles, Elvis Presley ou Roberto Carlos lançavam um sucesso nos anos 60, ele primeiro vinha num disco compacto, de 45 rpm, porque os fãs estavam afoitos por um novo sucesso e não dava para esperar a composição das outras 11 que compunham cada LP. 

Geralmente eles tinham doze músicas, seis de cada lado. Quando o LP de 33 rpm estava pronto, o sucesso era incluído, mas já tinha funcionado como avant-premiére da obra e estourado nas rádios e na Gutê Sound. Assim foi com Love me Do, que entrei na fila para comprar mas acredito que poucos beatlemaníacos sabem a canção gravada do outro lado.

E assim surgiu o lado B, a outra opção, o segundo caminho a seguir que, a partir de segunda-feira, serão percorridos por Vasco ou Fluminense. Não foram capazes em 2013 de compor uma grande melodia, trocaram seus compositores durante a obra (Abel por Wanderley, Dorival de um lado, Gaúcho, Paulo Autuori, Dorival e Adilson de outro) confundiram seus músicos de instrumentos (onde já se viu Digão de lateral esquerdo?

Um time que revelou Barbosa para seleção, o Andrada e o Elton não ter um goleiro à sua altura?) e vão, juntos ou separados, para segunda divisão ouvir o lado B desta história.

Nele, não haverá clássicos dos milhões, mas terá o Santa Cruz de volta ao Arruda, garantia de público e de renda. 

Perderão clássicos com o Flamengo e o Corinthians para salvar o 13º da rapaziada, mas contará com a volta do Náutico aos Aflitos (nenhum time escolheu melhor o local da sua sede do que o clube pernambucano, que no sobe desce mantém seus torcedores em constante aflição) a Ponte Preta, quem sabe o Coritiba, ou mesmo o clássico maior de todas as edições da série B caso se enfrentem.

Tal sinfonia não é tão ruim quanto parece. Dá para ouvir a crescente audiência de terça às 21h00 e dos sábados às 16h00 lá em cima, sem qualquer concorrência da série A, a volta da Globo, da Nike, da Unimed e da Caixa sacudindo uma competição que vai ter um outro brilho, e melhor, não haverá crises, troca de treinadores e uma garantida volta olímpica. A volta da paz as Laranjeiras, a São Januário sem os muros pichados, o tumulto instalado, o presidente acossado.

Se duvidam das atenuantes partituras dos que recentemente atravessaram suas composições, perguntem ao Palmeiras se trocaria o 2012 na primeira pro 2013 na segunda. Recorde de renda, Alan Kardec valorizado, Gilson Kleina mantido desde o começo do ano, boca maldita sossegada, melhor ataque, melhor defesa e, melhor que tudo, um título que há muito não alcançava. 

Às vezes, como Genoíno, José Dirceu, precisamos passar uma temporada em regime semiaberto para rever alguns conceitos. Meus companheiros de partido, que a história há de lhes fazer justiça pelo conjunto da obra, tropeçaram na tática da governabilidade. Precisaram aprovar o Bolsa Família que mudou a vida de tanta gente, o Minha casa, Minha vida, que a tantos alojou, mas tinham que dar a camisa titular pros Jefferson, Gomes, Alves e Calheiros. 

Pagar o bicho da emenda aprovada com a desvalorizada moeda de troca a evitar o veto. Vasco e Fluminense também precisam rever conceitos, principalmente no que diz respeito a troca de treinadores. O técnico da pré-temporada que irá montar a máquina anual, por pior que ela derrape em certas rodadas, ainda será o que melhor lhe conduzirá na temporada. 

Os demais técnicos contratados, apenas farão inúteis reparos durante as provas. Enfim, todos os lados deste LP chamado Brasil rodam uma sinfonia em que músicos, desportistas e políticos precisarão reaprender a ouvir. A escutá-los, estarão fãs e cidadãos, torcedores e eleitores de um país de primeira divisão e cujo Hino Nacional reproduz, entre erros e acertos, todos os lados da nossa história.

 

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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