O CONTRA ATAQUE

Nosso glorioso Aurélio nos traduz contra ataque como “a ação de uma tropa que passa repentinamente da defensiva para ofensiva”. Traduzido para o esporte, do boxe vieram as ações e os exemplos mais rápidos: as desferir e errar um soco, o lutador se expõe mais facilmente ao nocaute por ficar desguarnecido após o ataque e à mercê de um contra ataque. Mas na semana que passou, do futebol vieram duas lições táticas sobre este poderoso instrumento de reação, nem sempre igual mas sempre direcionado ao sentido contrário. Real Madrid e Vitória enfrentaram Bayern de Munich e Fluminense na casa dos adversários. Dentro do Allianz Arena e do Maracanã, cheios e vibrantes, saíram batendo nos seus visitantes mas receberam, de Carlo Ancelotti e Ney Franco, lições que mereciam fazer parte da grade curricular de todo curso de treinador de futebol.

O que fizeram madrilenos e baianos: fixaram seus zagueiros, recuaram os meias, seus apoiadores fecharam as subidas dos laterais deixando à frente dois atacantes, um rápido que circulava (Cristiano Ronaldo e Marquinhos) e dois fixos (Souza e Benzema), que davam o combate a partir do meio campo. Se a posse de bola foi o dobro dos seus visitantes, ela passou a maior parte do tempo nos pés de quem menos sabe agredir, os dois zagueiros centrais, e Gum, Boatenge, Elivélton e Dante cujas limitações técnicas permitem apenas trocar passes laterais porque são treinados, desde os juvenis, a marcar e entregar a armação das jogadas ao primeiro habilidoso escalado à sua frente. Com o tempo, a posse de bola se torna posse da irritação torcedora, a inquietação toma do apoio a insegurança, que obriga ao time da casa se expor cada vez mais. Sem espaço para a arrancada ou o drible, Robben, Ribéry, Conca e Sóbis passaram a ser presas fáceis dentro de um reduzido campo infestado de adversários.

Tanto na classificação do Real quanto do triunfo do Vitória, foram invertidos os números que levam as estatísticas de Paulo Vinícius Coelho a apontar o mais provável vencedor daquela partida. Números que revelam uma suposta supremacia, que leva em conta escanteios a favor, posse de bola, tiros a gol, mas que perdem no índice final que são os gols a favor.

Enfim, foi uma semana de apreciar uma poderosa arma chamada contra ataque. Ao contrário da racionalidade e previsibilidade do ataque, ele surpreende por ser desmedido, improvisado, e carregar um artefato chamado surpresa que não há sistema tático que o proteja. A história nos mostrou o quanto impiedosos foram os contra ataques: os japoneses atacaram Pearl Harbor e destruíram parte da esquadra americana estacionada no Caribe. A reação desmedida, em forma de bombas atômicas, arrasou duas cidades e matou 220 mil japoneses. Um assassinato na UPP, após um conflito entre policiais e traficantes, mata um inocente e o contra ataque é sobre ônibus que são incendiados, tão ensandecido que mal raciocinam que poucos policiais e nenhum político precisam deles para seu transporte. Espero que Pepe Guardiola e Cristovão, dois novos e promissores treinadores, tenham outras chances de se prevenir contra eles, quem sabe atraindo para suas trincheiras adversários que seus soldados, por suas características e habilidades, tenham mais condições técnicas de superar durante os 90 minutos.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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