O AMOR À VIDA E A BOLA

Basta abrir as páginas das revistas da moda, Contigo, Cláudia ou Nova (porque Boa Forma já seria covardia) para constatar que estão nos obcecando com a cultura do corpo sarado. Do abdômen tanquinho, das coxas demarcadas em músculos a lá Gracyanne, dos seios e bundas siliconadas seja pelo SUS ou pela Unimed. E se a tevês expõe, as revistas pregam e a Jovem Pan faz questão que todas sejam Sabrina Sarada, só resta à sociedade se atirar em academias, nas clínicas de estética e nos SPA em busca de uma barriguinha que poucas herdarão, mas que todas alcançaram, nem que seja em sonhos ou na cadeira do seu psiquiatra. Da Unimed.

Porque a Carolina Dieckmann, objeto de desejo coletivo corporal, tem personal training e personal estetic pagos em dólares. Tem quem lhe faça saladas balanceadas de duas em duas horas e massagens em casa. Possui esteira no camarim e sauna em seu condomínio fechado e acaba de ir à praia, não com as crianças e o marido, mas para correr nas areias fofas pra engrossar suas pernas. Aí à noite, no horário nobre, tira a blusa e enche de inveja o lar daquela guerreira que acordou cedo para o trabalho, levou seu filho pro colégio, faz inglês no CVT para crescer profissionalmente e ainda tem que fazer o miojo pro marido que chegou tarde da reunião. Se sobrar tempo, caminha na Av. Beira Rio e dá um pulinho de bike no SESI. Todos, homens e mulheres, querem aquele tanquinho pra si e sua felicidade, mas poucos terão o tempo e o salário da Carolina. Que lê também, faça-se justiça, mas livro sobre dietas e Spas de fim de ano onde se alojarão e pagarão caro para passar fome. Claro que são felizes as estrelas globais, mas estão espalhando infelicidade pela sociedade afora porque expõe um produto que poucos terão tempo, acesso e patrocínio para ostentar.

Vida de gado, no embalo, você acaba trocando o Milk Shake do Bob´s pelo shake diet da Nutrilatina. E seu estomago só falta latir. Larga nas prateleiras o açúcar união e adiciona azia e má digestão ao seu café com aquele adoçante sem gosto, e deixa de comer uma picanha na pedra para saborear uma suculenta salada de aipo com rúcula para estar na moda. Chopp da Brahma? Nunca mais, te estimularam a pedir uma Brahma Zero que você não encontra para comprar e, quando acha, cadê o sabor da Brahma?

Mas nem tudo está perdido. Quando a novela e o Brasileirão acabarem, campeões absolutos de audiência, dois personagens na contramão desta história vão levantar os troféus absolutos de destaque e revelação. Nos darão esperança que existe felicidade na gordura ao nadarem na contramão desta light história. Perséfone e Walter, dois cheinhos, se tornaram os grandes nomes na novela e nos campos de futebol em 2013. Perséfone, despejou carne graúda e macia nas concorrentes sabores de tábua com quem disputava o conforto em que os galãs só encontravam nos colchões em que as atiravam. Com ela, a maciez dobrou o prazer porque não falta é lugar pra encaixar cada pegada. Já Walter, centro avante do Goiás, marcou 12 gols e realizou 6 assistências que nenhum Rhayner, atacante sequinho do Fluminense (1 gol e 1 assistência), ousou alcançar. Amaram, brilharam e golearam com simpatia em cima de uma obsessão coletiva que solenemente ignoraram.

Aí o tempo passa e você descobre que não comeu aquele bombom de cereja da Kopenhagen porque a Carol Castro disse que engorda. E a Carol Castro nem passou de figurante. Que o Fluminense renovou com o Samuel (2 gols), que está sequinho e perde os gols que Wagner

não perderia. Neste dia, seja na segunda divisão ou no segundo andar do hospital, internados com anorexia ou viajando para enfrentar o São Caetano, você vai ter uma mesa farta como miragem em suas lembranças. Entre um soro e outro, por amor à vida e a bola, vai acabar refletindo: valeu mesmo a pena ser diet nesta história?

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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