NEM ZICO RESISTIU

A situação no Flamengo é gravíssima. Mais séria do que se possa imaginar. Nem Zico resistiu às pressões, prova de que as coisas andam de mal a pior. Vai ser difícil solucionar os problemas deixados por diretorias passadas, que nunca se preocuparam em administrar o clube com visão profissional, futurista. Mais valia empurrar os problemas para debaixo do tapete, ganhar um campeonato eventualmente que estabelecer uma política enérgica de soluções a médio prazo, na pior das hipóteses.

As coisas foram piorando, os problemas se agravando e as conseqüências são, agora, insustentáveis. A saída de Zico tem muito a ver com a desorganização implantada na Gávea, há muitas décadas. O Flamengo foi usado como se fosse um clube de esquina. Os escândalos se sucediam como se nada estivesse acontecendo. A expulsão do presidente Edmundo Santos Silva, inédita no clube e uma das raras no futebol brasileiro, de nada serviu. Pelo menos no aspecto moral. E deveria ter provocado uma mudança radical.

As compras e vendas de jogadores eram feitas a rodo, sem nenhum documento ou satisfação aos associados e a torcida, como se estivessem administrando um supermercado. O Flamengo não é um clube qualquer e essa gente que andou por lá sabe disso. O Romário foi vendido e comprado três vezes. Como retorno deu poucas alegrias e muitos aborrecimentos. Sem entrar no mérito, apenas como um exemplo dos desmandos que se repetiam no futebol do clube, que aumentava as dívidas a cada temporada.

Há casos de jogadores que receberam indenizações superiores a 1 milhão de reais, sem nunca ter entrado em campo para disputar um jogo sequer. O clube mais popular do país, que tem um patrimônio monumental que é sua torcida, virou um mercado de jogadores, onde as negociações – segundo dizem pelos corredores – não resistiriam a uma apuração séria.

É necessário que haja uma reformulação moral no Flamengo, que tem gente séria, honesta, competente. Conheço alguns desses abnegados torcedores e conselheiros. Infelizmente é a minoria e não suportam a pressão política, que divide o clube há muitos anos. E que deveriam assumir o comando, se isso fosse possível.

A saída de Zico não é a primeira a atingir um patrimônio do clube. Andrade foi demitido em circunstâncias absolutamente absurdas, depois de conquistar um título nacional. Mais que isso, atingiu um profissional que acabara de vencer pela quinta vez defendendo o clube, o campeonato mais importante do país.

A presidenta Patrícia Amorim precisa se posicionar, assumir o comando do clube, com mão de ferro. Está mais para Rainha da Inglaterra que para presidente da Nação Rubro-negra. Se há um Primeiro Ministro – como sugerem alguns conselheiros com quem falei – que se apresente e assuma o cargo, publicamente. Se não, a situação, que já é insustentável vai se agravar. Aí, só restará uma saída. Literalmente.

Não preciso falar do Zico ou sobre o Zico. Se há um cidadão a quem devemos  reverenciar seu nome é Arthur Antunes Coimbra. Acima de qualquer suspeita, aceitou dar sua contribuição ao clube, mesmo contra sua vontade – no momento – sabendo que estaria jogando uma cartada perigosa. Com certeza desconhecia o tamanho do precipício e mesmo assim aceitou o desafio porque nunca fugiu dos problemas.

Só não podia imaginar que o buraco do poço fosse tão grande. A nave flamenguista está desgovernada, absolutamente sem rumo. Os verdadeiros rubro-negros, conselheiros ou não, precisam se posicionar de verdade. Não podem permitir que o maior ídolo da história do clube seja atacado sem uma resposta a altura.

Zico construiu uma nação de torcedores não apenas como o maior jogador da história rubro-negra. Nasceu Flamengo e assim vive até hoje. Foi exemplo para milhões de jovens, um modelo de atleta e homem. Uma referência saudável. Esse tipo faz a história de um grande clube. Se Dida me fez torcedor, como ao próprio Zico, o Galinho fez muito mais. São duas páginas douradas da história do clube mais popular do país.

Zico deixa mais uma vez o clube pela porta da frente, como fez em todos os lugares onde deu o seu talento e suor. Magoado, dessa vez, com  “esse Flamengo de agora”, mas com o mesmo respeito dos torcedores a quem sempre brindou com momentos de muita alegria. É esse Zico que os verdadeiros flamenguistas querem de volta, um dia, como Presidente.

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