NÃO BASTA SER BOM

Menos mal quando descubro que algumas coisas me chateiam muito. Uma delas é ver jogo pela televisão. Por vários motivos, o principal deles é o péssimo trabalho de transmissão que chegou a níveis insuportáveis. Mas isso é assunto para outras colunas que pretendo escrever. Eis porque o “menos mal” lá do começo. Ainda consigo me indignar. E muito, bom sinal.

Fiz algumas escolhas, alguns anos atrás. Uma delas é tirar o som da TV e analisar os jogos sem precisar ouvir gente que não é do ramo. Porque há  tudo quanto é “ex”, já escrevi sobre isso –mas voltarei a tratar desse papo, prometo- mas não há solução, já estou convencido disso. A luta vai continuar, vamos perder, sei disso, mas é melhor ser derrotado que não brigar. Nada contra os “ex”, fique claro. Sou amigo e admiradores de muitos deles, que não são culpados dessa invasão.

Também não leio jornais há muito tempo. Graças ao rádio fico sabendo o que rola pelo país e no resto do mundo (aliás muito pouco, lamentavelmente) quando há acidentes de grandes proporções ou brasileiros envolvidos em qualquer situação. Virei internauta por absoluta pressão e absoluta falta de opção, já repeti isso nesse espaço dezenas de vezes.

Isso tudo para falar de minha revolta pelo pouco que li e ouvi sobre Rogério Ceni, depois que o goleiro do São Paulo falhou numa bola que acabou em gol contra o hexacampeão brasileiro do Morumbi. Há outro, na Gávea. Jogo seguinte, eu em casa vendo pela TV, pênalti a favor do São Paulo, Rogério atravessa o campo para bater, eu em casa, rezando para a bola entrar. E entrou.

Em poucos segundos, ou fração de segundo, passou um filme na minha cabeça e comecei a ver manchetes, tipo “Fim de Rogério Ceni”, “Ceni não soube parar”, “Dá pena ver Rogério tomando frango” e muitas outras. Isso porque o “01” tricolor, que ficou seis meses recuperando de uma cirurgia e está voltando para readquirir forma física e atlética falhou num lance. Foi pelo ralo uma carreira. Como se ele nada tivesse feito pelo clube, pelo futebol brasileiro. 

Não assim, apenas: “uma carreira”, mas a vida esportiva de um, se não o maior, de todos os goleiros do futebol brasileiro da história e maior goleiro/artilheiro do mundo, com mais de 100 gols com a camisa do São Paulo. O que –possivelmente – 90% dos atacantes brasileiros não tenham feito. Na minha avaliação, poria Rogério Ceni no mesmo nível de Gylmar dos Santos Neves, Emerson Leão e Manga, os melhores que vi.

O amigo leitor deve estar se perguntando por que essa rejeição ao goleiro do São Paulo, de tantas qualidades, inclusive com os pés, onde se destaca dos outros três citados acima. E se destaca muito. Não só dos colegas de posição, mas supera milhares de jogadores “de linha”, que não dão um passe e muito menos um lançamento com a qualidade de Rogério.

Primeiro lugar, bairrismo, um dos piores defeitos da imprensa esportiva brasileira, que, para parecer atualizada, destaca Neuer, Sech, Buffon, Casillas e outros, que pouco ou nada superam Rogério Ceni. Enchem a boca para falar esses nomes, todos de altíssimo nível, nenhum deles, entretanto, com a habilidade do nosso melhor goleiro. Aliás, a seleção está sem gente para essa posição. Mas isso é outra história.

Mais que isso, inveja. Ninguém pode ser bem sucedido nesse país. O cara que conseguir se projetar à custa do seu trabalho terá, com certeza, milhares de “secadores” torcendo por seu insucesso. Querem sua queda a qualquer custo. Foi o que tentaram fazer com Rogério Ceni, a quem o futebol brasileiro e a sociedade devem muito. Além de um super goleiro é um profissional exemplar, um modelo  para os meninos que torcem por ele. Enfim, no futebol, uma referência saudável. Minha admiração e agradecimento ao grande goleiro do São Paulo.

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