MOURINHO SUBIU NO TELHADO

O técnico José Mourinho ultrapassou os limites permitidos pela parte branca da Espanha, transpondo as paredes do vestiário merengue para espalhar uma onde de inconformismo jamais vista na família madridista. Derrotado mais uma vez por seu imenso e insaciável ego, o técnico português deixou claro sua intenção de deixar o clube. No que será atendido. Sua saída está sendo articulada pelo presidente Florentino Perez, pelo que conheço do Real Madrid. Não acredito em sua permanência até o fim do primeiro mês de 2013. Se tanto.

A saída de Mourinho, de inquestionável talento e dono de um invejável currículo, foi decretada a partir da escalação do canterano Adán, deixando no banco de reservas o titular Casillas, capitão do Real Madrid, há mais de dez anos, e da seleção espanhola, onde levantou as três últimas taças internacionais – duas copas da Europa e a inédita copa do mundo –. Mesmo não sendo responsável pelos gols, nem pela derrota para o Málaga, no La Rosaleda, Adán, o time e todos os madridistas espalhados pelo mundo ficaram chocados com a foto de Iker no banco, onde, convenhamos, não é o seu lugar, muito menos por questões técnicas, como alegou Mourinho.

A atitude de Mourinho deixou no ar uma sensação de último desafio ao maior clube do mundo, que tem um presidente, sim, mas pertence aos sócios. Nunca em toda sua glorioso existência alguém se atreveu a querer impor normas que contrariassem o madridismo, palavra chave usada em todos os discursos de Florentino Perez e seus antecessores. Nem será José Mourinho, a essa altura indesejado por mais de 80% dos torcedores brancos, resultado de pesquisa feita pelo jornal AS, um dos mais importantes da Europa.

O Real Madrid, campeão da última Liga, atravessa uma das maiores crises de sua história, ocupando a terceira colocação a 16 pontos do Barcelona, que segue liderando sem derrota, em 17 rodadas, e do Atlético, em segundo, com sete pontos de diferença sobre o seu rival da capital. A insatisfação de Mourinho com o goleiro capitão vem de muito tempo. O treinador sempre se mostrou inconformado com a liderança de Casillas sobre o elenco e seu prestigio entre os torcedores. É visível a falta de empenho de alguns jogadores, entre eles Cristiano Ronaldo, muito longe do artilheiro do ano passado, que levou o Real ao título, marcando 107 gols e somando 100 pontos ganhos, pela primeira vez na historia da Liga.

O desconforto de Mourinho com Casillas remonta à posição do capitão em sua postura conciliadora ao lado do amigo Xavi Hernández, após mais um clássico com o Barcelona disputado num clima de guerra como nunca havia sido visto antes. O técnico, por sua vez, mostrou-se insensível à onda de apoio a Casillas para a disputa da Bola de Ouro, por parte dos madridistas, e chegou a insinuar uma possível proteção da imprensa aos jogadores campeões do mundo com quem trabalha (Casillas, Sergio Ramos, Arbeloa, Xabi Alonso e Albiol). 

Ao contrário do treinador, Casillas sempre manifestou suas opiniões publicamente. Durante um treinamento, após mais uma derrota em série para o Barcelona, desde que Mourinho assumiu em maio de 2010, o português comentou com Sergio Ramos que tinha “sido detonado na zona mista (onde os jogadores dão as entrevistas) pelos jogadores” acusando, ainda, alguns “protegidos por seus amigos da imprensa”. Casillas, falando alto, disse “Mister (como Mourinho é chamado) aqui as coisas são ditas na cara”. Somando a esse e outros episódios, Casillas questionou o treinador, em nome do grupo, sobre a necessidade de concentrar o time um dia antes, quando os jogos fossem no Bernabéu.

Casillas é apenas mais um a bater de frente com José Mourinho. E deverá ser o último. Ao ser contratado o treinador forçou a saída do diretor técnico Jorge Valdano, há muitos anos no clube, com excelente ambiente entre os jogadores, o ex-diretor de esportes Zinedine Zidane, que fazia o contato do presidente Florentino com os jogadores e, recentemente, com o técnico Alberto Toril, do time Castilla, além de outros jogadores como Sergio Ramos, Özil e Pedro Leon, que foi afastado do clube. Sergio Ramos foi barrado contra o Manchester City, pela Champions, sob a alegação de falta de empenho, que é marca do sevilhano, por isso querido pelos torcedores.

Apesar do excelente rendimento em campo, conquistando uma Copa do Rei, uma Liga e uma Supercopa da Espanha, contra o melhor Barcelona da história, melhor time do mundo da atualidade e um dos maiores ganhadores de todos os tempos, Mourinho vive rodeado de polêmicas. Mesmo assim das 144 partidas dirigindo o Real Madrid ganhou 106 (73,61%), empatou 21 e perdeu 17, marcando 388 gols, contra 126. É um grande treinador, seguirá vencedor até seu último jogo, mas sua passagem pelo clube mais poderoso do mundo está chegando ao fim.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *