MAGNO DE TROIA

O que Magno Alves alcançou, ao retornar ao Fluminense, foi realizar o sonho de todo jogador que jogou em time grande: voltar a jogar em time grande. De preferência, naquele que o revelou ou viveu seus melhores momentos. Poucos conseguem tal façanha.  Pedrinho, depois que deixou o Vasco e Renato Abreu, o Flamengo, tentaram: passaram por clubes médios e de menor poder aquisitivo  tentando provar que ainda eram capazes de jogar em alto rendimento. Provar que a idade, em qualquer profissão, é sinônimo de maturidade e conhecimento, não de falecimento súbito das técnicas e habilidades para aqueles que se cuidam como o Zé Roberto. Porém,  esbarraram, como tantos jogadores perto dos trinta anos, no modesto alcance midiático das equipes que perdem mais do que ganham. Daquelas que não ganham título algum. E daí, saindo do foco e das telinhas,  vão desistindo, virando treinadores, comentaristas, com o desinteresse que despertam ao não conceder um só autógrafo. Uma pena: quanto mais você conhece o seu ofício, melhor o desenvolve. Menos no futebol brasileiro.

Fofão, a levantadora decacampeã brasileira de voleibol, medalhista olímpica e semifinalista do atual mundial de clubes, tem 45 anos. E joga cada vez melhor, se movimentando menos, produzindo mais, encontrando atalhos na quadra em que percorria a esmo. Toda vez que Bernardinho tenta substituí-la, um vazio de experiência, levantamentos imprecisos e cadência de jogo dominam nossa seleção. E o voleibol suplica: continua, Fofão, pelo menos até as Olimpíadas de 2016. No basquetebol, outro gênio chega aos 40 anos no auge da sua forma: Marcelinho, capitão do Flamengo e bi-campeão do NBB, que na sua sétima edição alcança um recorde que dificilmente será batido: marcou 4.236 pontos em 181 partidas, com a incrível média de 23,4 pontos por partida. Nada menos que 281 pontos à frente do seu maior rival, o americano Shamel, do Mogi das Cruzes. Ninguém no Flamengo e na seleção brasileira imagina perder o Marcelinho para comentarista de televisão. Analisando o que poderia estar realizando para o deleite e apreciação dos que amam o basquete e vão buscar, ano que vem em casa, uma medalha olímpica. Só o futebol assim o faz. E Magno Alves, 39 anos, é a nossa maior esperança para que este equívoco se acabe. Não faça tantas vítimas.

Torço para que você, Magno Alves, neste Brasileirão, seja o presente de grego que o esporte irá conceder às redações dos jornais, aos quintais  da impaciência e precipitação onde habitam  cartolas insanos e  torcedores impacientes. Tróia será o Maracanã e os gregos estarão vestindo uma camisa tricolor. Quando os refletores forem acesos, a bola rolar e os troianos estiverem embebedados de preconceitos, você, com sua técnica e sabedoria, abrirá, entre a intermediária e o gol adversário, os portões da justiça e reconhecimento a todos os jogadores que foram precocemente afastados das suas carreiras. Derrubará, com seus gols, cada resquício de cegueira moral e intolerância que ainda persiste no futebol brasileiro. Que insiste, desde Seedorf, Léo Moura, Felipe e Juninho Pernambucano, a aposentar um artista da bola quanto mais da arte de engrandecê-la ele se aproxima.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

 

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